ACREDITE QUE VOCÊ PODE MUDAR, POR AARON SWARTZ

Este post é uma tradução de “Believe you can change”, escrito por Aaron Swartz, em sua série de posts “Raw Nerve”, que eu traduzo aqui como “Dedo na Ferida”.

Guilherme Sagas
Medium Brasil

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Este post é uma tradução de “Believe you can change”, escrito por Aaron Swartz, em sua série de posts “Raw Nerve”, que eu traduzo aqui como “Dedo na Ferida”.

A psicóloga Carol Dweck era obcecada pelo fracasso. Sabe como algumas pessoas parecem fazer tudo certo, enquanto outras parecem completamente perdidas, condenadas a uma vida fracassada? Dweck percebeu isso e decidiu descobrir os motivos. Começou a observar crianças, tentando perceber as diferenças entre os dois tipos.

Num estudo de 1978, com Carol Diener, ela deu vários quebra-cabeças a crianças e gravou o que elas diziam enquanto tentavam resolvê-los. Rapidamente, as mais frágeis começaram a culpar-se: “Estou confusa!”, disse uma; “Eu nunca tive uma boa memória”, explicou outra.

Mas os quebra-cabeças continuavam vindo — e ficando cada vez mais complicados. “Não estou me divertindo mais”, as crianças choravam. Mas novos quebra-cabeças eram propostos.

Muitas não aguentavam e desistiam. Começavam a falar sobre outras coisas, tentando tirar da mente a sensação ruim causada pelos desafios complexos. “Vou participar de um show de talentos no fim de semana, e vou me vestir de Shirley Temple”, disse uma garota. Dweck apenas entregava novos desafios, cada vez mais complexos.

Elas começavam a agir de forma estúpida, quase que pra esconder seu fracasso, deixando claro que não estavam nem tentando resolver. Apesar de ouvir várias vezes que era a resposta errada, um menino continuou escolhendo marrom como resposta, dizendo “Bolo de chocolate!”.

Talvez esses resultados não sejam tão surpreendentes. Se você já brincou com crianças, provavelmente já viu todos esses comportamentos. (Dweck parece que não chegou na fase em que elas pegam os jogos de tabuleiros e derrubam tudo no chão). Mas o que chocou a psicóloga — e mudou os rumos de sua carreira — foi o comportamento das crianças classificadas como “bem-sucedidas”. “Todo mundo tem um modelo de referência, alguém que mostrou o caminho num momento complicado em suas vidas”, ela escreveu. “Essas crianças tornaram-se meus modelos. Elas sabiam algo que eu ainda não conhecia, mas estava determinada a descobrir”.

Dweck, como muitos adultos, aprendeu a esconder sua raiva e frustração, para educadamente dizer “Eu acho que não quero mais jogar”, ao invés de derrubar o tabuleiro. Ela imaginou que as crianças bem-sucedidas faziam algo similar — elas tinham táticas para enfrentar o fracasso ao invés de serem derrotadas por ele.

Mas ela descobriu um detalhe que mudava tudo. As crianças bem-sucedidas não apenas conviviam com o fracasso, elas o amavam! Quando as coisas ficavam complicadas, não começavam a se culpar; esfregavam as mãos e diziam “Eu adoro desafios”. Falavam coisas como “Quanto mais difícil, mais eu preciso me esforçar”.

Ao invés de reclamar que os quebra-cabeças mais complicados não eram divertidos, elas se encorajavam, dizendo “Quase consegui agora” ou “Eu já fiz isso antes, posso fazer de novo”. Uma das crianças, apesar de ter recebido um desafio muito complexo, quase impossível de resolver, olhou para a psicóloga e disse “Eu quero aprender algo com isso”.

O QUE HAVIA DE ERRADO COM ELAS?

Dweck percebeu que a diferença era a atitude mental. Ela sempre pensou que as qualidades humanas eram inatas. Ou você era inteligente, ou não, e o fracasso significava que não. Por isso as crianças mais frágeis não conseguiam continuar quando começavam a errar. Isso as lembrava o quanto elas eram ruins. E claro que isso não era nada divertido — por que seria divertido ser lembrado constantemente de um fracasso? — Por isso tentavam mudar de assunto. Dweck chamou isso de atitude mental fixa — elas acreditam que suas habilidades não podiam se desenvolver e que o mundo era uma série de testes pra mostrar o quanto você pode ser bom.

As crianças bem-sucedidas acreditavam no contrário: tudo vem do esforço e o mundo é cheio de desafios interessantes que podem nos ajudar a aprender e crescer. Dweck chamava isso de atitude mental de crescimento. Por isso elas ficavam tão animadas com quebra-cabeças complexos — os fáceis não eram desafiantes, e não se podia aprender nada com eles, mas os complexos eram fascinantes — uma nova habilidade pra ser desenvolvida, um novo problema pra resolver. Em experimentos posteriores, as crianças chegaram a pedir pra levar os quebra-cabeças pra casa, para tentarem um pouco mais.

Foi um aluno da sétima série que explicou: “Eu acho que inteligência é algo pelo qual você precisa se esforçar, não é uma dádiva… A maioria das crianças, se não tem certeza sobre uma questão, não vai levantar a mão… Mas eu procuro levantar, porque se estiver errado, então meu erro vai ser corrigido. Eu levanto a mão e digo ‘Não entendi! Você me ajuda?’. Fazendo isso eu estou cultivando minha inteligência”.

Na atitude mental fixa, o sucesso vem ao provar o quanto você é bom. Esforço é negativo — se você teve que tentar e perguntar muito, você não é muito bom. Quando você encontra algo que sabe fazer bem, então você quer fazer sempre, só pra mostrar como você é bom.

Já na atitude mental de crescimento, o sucesso vem do desenvolvimento. Esforço é a coisa mais importante — faz você crescer. Quando você fica bom em algo, procura por algo mais difícil pra lhe ajudar a crescer mais.

As pessoas com atitude mental fixa sentem-se inteligentes quando não cometem erros, as pessoas com atitude mental de crescimento se sentem espertas quando erram por muito tempo e então finalmente resolvem a questão. Os fixos culpam o mundo quando as coisas dão errado, os crescentes procuram por coisas que podem mudar em si. Fixos têm medo do esforço — porque se falharem, significa que são fracassados. Os crescentes têm medo de não tentar.

Dando continuidade a sua pesquisa, Dweck continuou encontrando essa diferença em diversos lugares. Nas relações, pessoas com atitudes mentais de crescimento procuravam por parceiros que os ajudassem a melhorar, os fixos só queriam alguém que os colocassem em um pedestal. Os CEOs crescentes sempre procuravam por novos produtos e maneiras de melhorar, os fixos excluiam pesquisas e tentam espremer lucros de sucessos antigos. Até nos esportes, atletas crescentes se aperfeiçoavam com práticas constantes, enquanto os fixos culpavam a todos por suas fraquezas.

Mas Dweck aplicou a atitude mental de crescimento à questão da atitude mental — e descobriu que isso também pode ser mudado. Até pequenas intervenções — como dizer aos estudantes que eles estavam indo bem porque estavam se esforçando, ao invés de dizer que eram inteligentes — tiveram grandes efeitos. Com mais tempo de trabalho, ela podia transformar completamente uma pessoa com atitude mental fixa em alguém com atitude mental crescente.

Até ela mudou. Passou a procurar novos desafios. Foi difícil: “como eu estava me arriscando mais, eu podia analisar meu dia e ver todos os erros e atrasos, me sentindo terrível. [Você se sente um zero à esquerda]… e aí vem a vontade de apressar tudo e acumular bons resultados”. Mas ela resistiu à tentação — e tornou-se uma psicóloga importante.

O primeiro passo para mudar é acreditar que você pode. Em seu livro, Mindset, Dweck explica como começar a enfrentar sua atitude mental fixa. Muitos pensamentos surgem: “E se você falhar? Vai ser um fracasso!” Mas a nova atitude mental responde: “Muitas pessoas bem-sucedidas falharam pelo caminho”.

Quando eu ouvi falar desse trabalho, logo pensei: legal, mas eu já faço isso. Eu acredito fervorosamente que a inteligência pode mudar e que talentos podem nascer. Na verdade, posso dizer que sou um crescente patológico. Mas mesmo assim comecei a notar como tinha uma atitude fixa em relação a algumas coisas.

Por exemplo, sempre me achei tímido. As pessoas são sempre dividas entre extrovertidas ou introvertidas. Desde pequeno eu sempre fui muito reservado, então parecia óbvio: Eu sou um introvertido.

Mas depois que cresci, percebi que não era bem assim. Comecei a ficar bom em conduzir uma conversar ou me aproximar de pessoas com uma piada. Eu gosto de contar histórias ou chegar numa sala e dizer ‘oi’ pras pessoas. Eu me divirto com isso! Claro que não sou a pessoa mais festeira que você conhece, mas eu não acho que me encaixo mais nessa divisão de introvertidos ou extrovertidos.

A atitude mental de crescimento se tornou uma palavra de segurança para mim e meus parceiros. Sempre que alguém fica na defensiva, se recusando a tentar algo novo porque não é bom nisso, nós dizemos “Olha a atitude mental!” e tentamos olhar o problema de forma a trazer crescimento, ao invés de testar nossas habilidades. Aí tudo para de ser assustador, e se transforma em mais um projeto para desenvolver.

Como a própria vida.

Post original do Aaron: http://www.aaronsw.com/weblog/dweck.

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