América inaugurava o Estádio Giulite Coutinho e chegava de vez à Baixada, há 20 anos

Museu da Memória Americana
memoria.americana
Published in
5 min readJan 23, 2020

--

Estádio Giulite Coutinho na inauguração, apenas com as arquibancadas laterais | Reprodução/Extra

Entre o último jogo no Andaraí e o primeiro no Estádio Giulite Coutinho, em Mesquita, o América ficou seis longos anos como nômade. Sem uma casa para chamar de sua, perambulou por diversos estádios do Rio de Janeiro para mandar jogos. Entre eles, Moça Bonita, Luso-Brasileiro, Rua Conselheiro Galvão e até mesmo no Hermenegildo Barcelos, em Arraial do Cabo, o Diabo atuou. Mas, nesta quinta-feira, o time rubro celebra um dos seus maiores orgulhos recentes: os 20 anos em que voltou a ter uma casa própria no futebol.

Matéria da TV Globo sobre a inauguração do estádio mostra gol marcado por Sorato

O primeiro jogo do América no Giulite Coutinho foi contra a Seleção Carioca. O estádio foi entregue durante a gestão do presidente Hélio Gáudio. Àquela altura, apenas com a primeira fase concluída, só com as arquibancadas laterais prontas. A capacidade era para cerca de seis mil torcedores. Naquele momento, o estádio ainda não tinha nome oficializado, o que fez o “Jornal do Brasil” se apressar ao chamá-lo de “Vermelhão”, um apelido que não pegou. Um público de pouco mais de quatro mil pessoas acompanhou a vitória rubra, por 3 a 1. O primeiro gol foi marcado pelo atacante Sorato, principal contratação para a seletiva de acesso ao Campeonato Carioca daquele ano.

Leia: O dia que o América parou o Grêmio de Ronaldinho na Copa SP

Autor do gol do título do Vasco no Campeonato Brasileiro de 1989, Sorato chegou ao América com 30 anos. Acumulava na bagagem ainda passagens por Palmeiras e Botafogo, mas não estava no fim da carreira, que seguiu até 2009, com direito a um acerto com o Fluminense neste intervalo. Paulista de Araras, o ex-atacante demonstrou felicidade ao encontrar o Memória Americana para relembrar o feito, ocorrido na primeira de suas duas passagens pelo clube.

Nas páginas do Jornal do Brasil, Vermelhão, o apelido que não pegou

— Fazer o primeiro gol de um estádio é sempre muito marcante. Foi a única vez que isso aconteceu na minha carreira. Na época teve bastante repercussão. Eu sabia que tinha sido em 2000, ano em que joguei o Carioca pelo América, não tinha me ligado que já faria 20 anos. Passou muito rápido. Eu tenho uma ligação mais forte com o Vasco, pelo gol de 1989, mas ser lembrado por um clube importante como o América, no futebol carioca e brasileiro, é motivo de gratidão — afirma o agora treinador, aos 50 anos.

Leia: César foi o artilheiro do Brasileirão pelo América, há 40 anos

O ex-jogador revive o ambiente do jogo, um fim de manhã de muito calor em Mesquita. A localidade se tornara município apenas três meses antes. Até então, a localidade fazia parte de Nova Iguaçu e ainda é o mais jovem município do estado. Sobre o lance, Sorato força a memória:

No dia seguinte à inauguração, o “Extra” destacou o resgate do orgulho da torcida americana

— Lembro do lance do gol, mas não de toda a jogada. Entrei na área pela direita e bati cruzado, a bola foi entrando rasteira, em diagonal, no canto direito do goleiro — narra.

Siga o Memória Americaca também no Twitter

O “Extra” do dia seguinte destacou o jogo, com a matéria “O orgulho rubro voltou”, no melhor registro do sentimento americano na data. O texto, assinado por Fred Soares, reforça o caráter festivo do dia. “Uma queima de fogos marcou mais uma nova homenagem preparada pela diretoria do América: os campeões estaduais de 1960 foram presenteados com uma medalha, cunhada especialmente”.

Sorato, pelo América: na fila do meio, é o penúltimo jogador, da esquerda para a direita. Foto antes da goleada por 5 a 1 sobre o Itaperuna, por 5 a 1, em 27 de fevereiro de 2000 | Acervo Sílvio Kohler

A Seleção Carioca tinha jogadores que impunham respeito. Entre eles, Renato Gaúcho, Valdeir e Branco, que jogavam com uniforme azul e branco, com a logomarca da Ferj na camisa. Tetracampeão mundial com a seleção brasileira nos EUA, em 1994, Branco negociava com o América para defender o clube no Campeonato Carioca daquele ano, mas não houve acerto.

Leia: Em 1969, vitória do América fez Grêmio apagar as luzes do Olímpico

Camisa 1 do América na inauguração do estádio, Adriano, hoje preparador físico do Friburguense, lembra que o time chegou a treinar no local antes da estreia. Mas, geralmente, as atividades da equipe aconteciam no Centro de Treinamentos do Km 18 (da Rodovia Rio-Petrópolis), em Duque de Caxias.

Sorato se alonga após treinamento, no Estádio Giulite Coutinho: é o primeiro dos três

— Eu estava emprestado pelo Friburguense ao América. Foi uma festa muito bonita, um dia especial. Lembro que estava um calor muito forte, era início de temporada, o sol castigou muito. Aos poucos, os outros setores do estádio foram ficando prontos.

Luiz Gustavo fez o segundo para o América, ainda no primeiro tempo, e Alexandre ampliou na etapa final. Cristiano, jogador do CFZ, descontou para a Seleção Carioca.

Leia: América 11x2 Botafogo, goleada completa 90 anos

O Giulite Coutinho foi projetado como os estádios da Inglaterra pós-hooliganism, quando o país conseguiu vencer a violência na Premier League. O Giulite Coutinho conta com setores fisicamente separados, acessos independentes e sem alambrados, para não prejudicar a visão que o público tem do campo. A estrutura conta ainda com vestiários amplos e sala de aquecimento.

Leia: América deu a Heleno de Freitas seu único jogo no Maracanã

A atual configuração do estádio é correspondente ao que, no projeto original, representava a segunda fase, com capacidade para 16 mil pessoas. A terceira etapa seria também a última, com a qual a casa do América passaria a ter capacidade para 32 mil torcedores. Um sonho sem previsão para ser concluído.

Nas próximas semanas, iniciaremos a publicação da Série Giulite Coutinho #SérieGC, relembrando os jogos mais marcantes da história do estádio no aniversário de realização dos mesmos.

--

--