Emoções, tragédias, UX, CX, Acessibilidade e o que mais rolou no #ISAFloripa17

Um panorama geral sobre o maior evento de UX Design da América Latina, e o que podemos esperar para a próxima edição.

Marcelo Sales
Mergo
8 min readNov 16, 2017

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Logo do ISA. Ao fundo, portinho de Canasvieiras em Florianópolis, onde rolou o ISA 2017 e de onde costumam sair os barcos piratas de passeio.

Calma, ninguém morreu durante o ISA Floripa 2017 (não que eu saiba), mas o título deste artigo faz alusão a duas das palestras que achei mais ”fodas” no evento. Porém antes de falar das palestras, deixa eu comentar um pouco do clima e da experiência em estar no ISA…

Meu primeiro ISA

Esse foi o meu primeiro ISA, e sabe quando vamos em um lugar pela primeira vez e ficamos com aquele pensamento de “como é que eu nunca vim aqui antes?”. Pois é, eu tive esse sentimento desde que cheguei lá no primeiro dia.

Entrada do ISA Floripa 2017

O clima, as pessoas, o lugar, a organização, os voluntários, tudo era convidativo a uma experiência inesquecível. “Pô, mas não teve nada de ruim?”… Sim, teve, mas sinceramente? O porte do evento era tão grande e o clima estava tão bacana que os poucos problemas que passei (tradução simultânea em alguns momentos, por exemplo) passaram batido na média final. “Cara, mas e as filas dos food trucks?”. Ouvi diversos comentários assim e vamos combinar… qualquer lugar no mundo que envolva food trucks e mais de 1000 pessoas juntas, é passível de filas, certo? :)

Ouvi comentários do pessoal “velho de ISA” que a estrutura desse ano foi surreal. Muito maior que a de anos anteriores. Como não estive nos anteriores, não duvidei nem por um instante. Realmente a estrutura impressionou.

Vamos ao que interessa… palestras!

Foram 3 dias de evento, sendo que no primeiro dia ocorreram palestras da comunidade divididas em ilhas específicas (humanas, tecnologia, comunicação e negócios) que duravam 10, 20 ou 30 minutos de acordo com o tema. Havia também os workshops adicionais ao evento, mas vou dar foco a tudo que ocorreu no pavilhão principal.

Mapa das ilhas no ISA Floripa 2017.

Nesse dia, as palestras eram “silenciosas”, todas as ilhas rolavam ao mesmo tempo e daí a galera ficava o tempo todo com fones de ouvido. Bastava você focar o canal na ilha que estava assistindo e pronto… foco total.

Teve gente que não curtiu a dinâmica, mas mais uma vez devo dizer que achei “foda” também.

E dou duas razões pra esse sentimento:

  • Primeiro, facilidade em saber o que rolava nas outras ilhas. Era muita informação ao mesmo tempo, sendo assim, se a palestra que estava assistindo não era bacana, bastava trocar de canal e se o que estava ouvindo agradasse, andar até o local da outra;
  • Segundo, foco total na apresentação. O fato de você estar com fones de ouvido, fazia com que você prestasse atenção total ao palestrante, sem ouvir conversas paralelas e mimimi ao seu lado.

Se eu fosse falar de todas as apresentações deste primeiro dia, teria de digitar um livro por aqui, por isso vou me concentrar apenas nas apresentações sobre o tema que mais me cativa e me motiva atualmente que é a acessibilidade. Vi muita coisa interessante, incluindo as 3 únicas apresentações que tiveram com o tema acessibilidade, mas achei muito pouco se levarmos em consideração que foram mais de 160 apresentações neste dia.

Marina Domingues e Gabriel Morais no palco da ilha de negócios

Primeiro o Gabriel Morais e a Marina Domingues mandaram muito bem com a provocação pra galera de negócios questionando “Por que deixarmos de ser amadores para um público que espera mais de nós”?

Um pouco mais tarde a Raquel Cordeiro apresentou a palestra que já havia apresentado no último #uxconfbr, “Acessibilidade na Internet das Coisas”.

E na sequencia o Tiago Barros e Anaís Almeida apresentaram um “Sistema de jogo inclusivo com foco em deficiência visual”.

Surpresa boa e inesperada

Entre o intervalo de uma apresentação e outra, estava passeando pelo corredor e encontrei alguns stands, sendo um deles o do iFood, parei pra assistir a apresentação e de repente alguém do stand me entrega um adesivo dizendo que rolaria uma apresentação sobre a acessibilidade no aplicativo do iFood na sequencia. Na hora, olhei pro adesivo, pro cara, abri aquele sorriso e pensei… “ok, vamos aguardar!” :)

Juliana Salgado apresentando a acessibilidade no iFood

A Juliana Salgado, que é responsável pela acessibilidade no iFood, apresentou o antes e depois de começarem a desenvolver o aplicativo de forma inclusiva. Apresentação rápida e direta demonstrando como facilitar a vida dos usuários (inclusive não deficientes) ao se aplicar corretamente recursos de acessibilidade. Que tenhamos mais iniciativas como essa nas próximas edições do ISA.

Tudo lindo, mas e as palestras principais?

Foram mais 2 dias intensos com palestras começando as 10h e terminando quase as 20h. Foi intenso e cativante na mesma proporção. Exaustivo a ponto de eu achar que a cerveja poderia ser por “conta da casa” nas próximas edições, mas definitivamente enriquecedor e instrutivo. É aquele cansaço que dá gosto, sabe?

E assim como as apresentações da comunidade, os temas das palestras principais também foram baseados nas ilhas de conhecimento.

Em HUMANAS, tivemos as palestras:

  • Tragic Design” da Cynthia Savard (Shopify) que na minha opinião foi simplesmente a melhor de todas apresentadas no evento, ela é co-autora do livro que dá nome a palestra e falou do quanto um design ruim pode impactar negativamente o seu produto e em alguns casos até mesmo matar (daí o título do artigo);
  • e também a “Design Leadership” do Anderson Gomes (Youse) demonstrando o quanto o UX Designer se tornou importante dentro das empresas.

Em NEGÓCIOS, vimos:

  • a aula de cultura empresarial “Work Culture Feijoada: 9 elements of innovation” do Andrew Kaufteil (Cooper Design), pra se fazer uma boa feijoada são necessários alguns ingredientes, a analogia é transformar esses ingredientes em especialidades diferentes e no fim tudo fica bem “azeitado” em sua empresa;
  • na minha opinião, a segunda melhor apresentação do evento inteiro e que chutou bundas ao demonstrar o quanto a China pode ser um mercado muito melhor explorado e ir muito além do Vale do Silício foi “How is designing for China market differente from the Western Tech ecosystem and what you can learn from it?” da Elaine Ann (Kaizor Innovation), sem contar que não devemos mesmo seguir uma única cultura, há muito mais no mundo do que o “sonho de vida americano”;
  • também rolou “The designer as Behavior Architect. How to maximize the use of behavioral economics in the design process” do Luis Arnal (Insitum) falando sobre economia comportamental e o quanto somos influenciáveis socialmente e emocionalmente;
  • na “User Experience Vs Customer Experience” do Rob Nero (Spotify) descobrimos que o SAC é a linha de frente com seus usuários, converse com os atendentes, procure receber relatórios dos colaboradores do SAC de sua empresa, é lá que as boas ideias podem estar.

Em COMUNICAÇÃO:

  • a melhor palestra que eu já assisti após o almoço… enérgica, com exemplos cirurgicamente pincelados, dados relevantes e com uma puta presença de palco “Innovation: a sneak peak into the future” do Marcos Piangers (RBS);
  • Designer personal and ethical decisions for career development” da Mariana Salgado (Finnish Immigration Dept.) mostrou o quanto podemos enriquecer nosso trabalho ao trabalhar também com imigrantes, pense culturas diferentes utilizando um serviço ou produto que não foi originalmente pensado para eles, inclusão social nua e crua.

E por fim, em TECNOLOGIA:

Lucas Radaelli no palco principal do ISA Floripa 2017
  • uma das apresentações que eu mais esperava não decepcionou “Accessibility and universal design: developing software that is really for everyone” do Lucas Radaelli (Google), nada de slides aqui, o que acredito eu, só fez aumentar o foco da plateia no apresentador. Ele comentou coisas que deveríamos saber como “jamais resolver aplicar acessibilidade no fim do projeto”, “desenvolver produtos exclusivos não é bom, as coisas precisam funcionar para todos”, “ordem de leitura de sites e aplicativos precisa ser linear, mas normalmente há uma preocupação apenas com o visual” e “testar sites e aplicativos com leitores de tela é fundamental”. Adquirir uma cultura de acessibilidade dentro da empresa é simples, primeiro temos de saber que não é razoável achar que TODOS saberão falar sobre acessibilidade dentro da empresa, logo precisamos que algum superior/diretor o faça e também que haja ao menos 1 interessado no assunto que normalmente irá disseminar para os demais, mas os demais também precisam demonstrar interesse em aprender, perguntar “como faço esse botão acessível?” não deveria ser a pergunta a se fazer;
  • Nudges: Influencing User Behavior” de Russel Parrish (IBM) mostrou que grandes poderes trazem grandes responsabilidades, ou o quanto somos capazes de influenciar comportamentos;
  • Empathy machines: an introduction to Adaptive UX” do Belmer Negrillo (Facebook) trouxe demonstrações que podemos ter com a adaptação das máquinas e a evolução de seu aprendizado;
  • Everything is about to change: Software as Material” do Greg Petroff (Google Cloud) falando sobre como as empresas estão percebendo o valor do profissional de UX e como se preparar paras as mudanças que isso trará para o mundo e para as próprias empresas;
  • Emotional IoT: How to create connections with people” do Ricardo O’Nascimento (PopKalab) falando o quanto é importante manter a criar conexões com e entre pessoas;
  • Bring Interaction Design to Physical Spaces” do Steve Baty (Meld + IxDA) foi a apresentação de encerramento do segundo dia;
  • e a apresentação que encerrou o ISA foi “Riding the wave of digital disruption by Design” de Janaki Kumar (SAP Labs), eu já gostei por que ela colocou todos de pé em uma dinâmica que no mínimo fez a galera pensar e “esticar as pernas” em seguida falou sobre o quão veloz algumas mudanças ocorrem no mundo e que nenhuma indústria/empresa está imune a essas mudanças. O quanto antes uma cultura de inovação for criada, mais simples será controlar essas mudanças.

Conclusão

Se você é designer e perdeu o ISA deste ano, vá aos próximos. Se programe. Junte dinheiro. Faça horas extras na empresa. Divida apartamento com amigos. Vá de caravana… só não deixe de ir.

Copo que ganhamos ao chegar com a seguinte frase: “O que acontece no ISA FLORIPA fica no ISA FLORIPA”

A experiência vivida nesses 3 dias será inesquecível para o resto de sua vida e carreira. Faça conexões, faça networking, puxe os palestrantes pra um papo, puxe aquela galera que você só conhece virtualmente pra um papo. Ali tá todo mundo feliz. Tá todo mundo solícito. Todos estão alegres e com um propósito.

Apenas vá… :)

E o que vem por aí?

Bom, foi o meu primeiro e último ISA… aparentemente a conferência aumentará de tamanho e larga de mão o “south” pra ser tornar “latin” com o futuro ILA — Interaction Latin America 2018 que acontecerá no Rio (se preferir, penas #ilaRio18).

Vídeo com 1 minuto de duração apresentando o Interaction Latin America 2018 que acontecerá no Rio.

Me chamo Marcelo Sales, sou designer, apaixonado por Acessibilidade, Psicologia e UX. Recentemente criei o projeto http://acessibilida.de.

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Marcelo Sales
Mergo

Designer com foco em acessibilidade digital e design inclusivo. Apaixonado por psicologia e comportamento humano. Criador do Guia WCAG (http://guia-wcag.com).