A inesperada ascensão do New York Knicks

Franquia de Nova Iorque foi uma das gratas surpresas na temporada e conquistou uma vaga nos playoffs depois de 8 anos

Kaio Sauaia
Mezzala
6 min readJun 9, 2021

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Julius Randle, o “MIP” de 2020–2021, em ação pelos Knicks (Foto: Divulgação/ NBA)

Imagine torcer por uma das mais tradicionais franquias da NBA e passar oito longevos anos sem disputar uma única pós-temporada. Pior, imagine torcer para a equipe mais valiosa de toda a liga e travar em suscetíveis falhas de gestões desastrosas, que abdicaram de All-Stars para se reconstruir e só piorar a situação. Isso é o que todo o torcedor do New York Knicks tem convivido nos últimos anos. De 2013 até 2020, o time de Nova Iorque viveu um ciclo vicioso de rebuilds e mais rebuilds que culminaram sempre no mesmo final: o fracasso, chegando a ter campanhas com 60 derrotas.

Curiosamente, o mesmo período foi o que Steve Mills assumiu a gerência da franquia, tendo um retrospecto de 178 vitórias e nada mais, nada menos que 365 derrotas. Assim, em 2019, o estopim para a sua saída aconteceu quando Mills decidiu abrir o teto salarial da franquia cedendo Kristaps Porzings, grande nome daquele time, ao Dallas Mavericks, em uma troca envolvendo 7 jogadores e projetando uma abertura de 70 milhões nos cofres nova-iorquinos. A jogada era um “all-in” de Steve, tendo em vista que a paciência da torcida e da diretoria estava esgotada.

Kristaps Porzingis em um de seus últimos jogos pelos Knicks (Foto: Reprodução/ NBA)

Em meio a um ultimato, o gerente ia para a free agency com um planejamento ambicioso, visando nomes como Kevin Durant e Kyrie Irving, além de ser especulado como o detentor da primeira escolha do draft, com opções como Zion Williamson, RJ Barrett, Ja Morant e outros. Porém, o “all-In” é uma jogada arriscada, que demanda confiança, tanto no pôquer, quanto na vida, e Steve Mills nunca pareceu demonstrar certeza em nenhuma de suas decisões ao longo de 7 temporadas em que ele comandou os Knicks.

No final, Durant e Irving acabaram indo para Nova Iorque, mas no outro lado da cidade, optando pelo Brooklyn Nets, e a primeira pick caiu nas mãos do New Orleans Pelicans, que escolheu Zion Willianson, o principal nome daquela leva.

Desesperado, Mills foi para o mercado de agentes livres sem a menor convicção, fazendo contratos considerados inimagináveis para jogadores “medianos”, como Taj Gibson, Julius Randle, Reggie Bullock e outros. Já no draft, sua franquia não ficou tão para trás, conseguindo ainda uma terceira escolha e selecionando RJ Barrett, uma das principais promessas de sua geração.

RJ Barrett, uma das grande esperanças do New York (Foto: Reprodução/ NBA)

Obviamente, o desentrosado conjunto de jogadores teve uma campanha pífia, terminando mais uma temporada com um recorde negativo, tendo 21 vitórias e 45 derrotas.

Convivendo com a pressão da diretoria e a impaciência da torcida, a conclusão de mais um péssimo ano foi a demissão de Scott Mills do cargo.

Mais um recomeço

Thibodeau e Derrick Rose, dois reforços dos Knicks para a atual temporada (Foto: NBA/ Divulgação)

Sem um gerente geral, a diretoria optou por transformar Scott Perry, integrante da parte de operações dos Knicks, como o novo dono do cargo.

Prontamente, Perry buscou um treinador experiente e capaz de fortalecer aquele grupo não só tecnicamente, mas também psicologicamente. O escolhido foi Tom Thibodeau, que tinha um longeva carreira dentro da NBA e, inclusive, dentro da seleção americana, sendo assistente técnico entre 2013 e 2016. Apesar disso, seu último trabalho não foi dos melhores, dirigindo o Minnesota Timberwolves, entre 2016 e 2019, e tendo um retrospecto negativo, com 98 vitórias e 111 derrotas no geral.

Tendo o apoio de Scott, um dos primeiros pedidos de Thibodeau foi a contratação de um homem de confiança e um de seus principais companheiros na carreira, Derrick Rose, que foi jogador de Tom em Minnesota e Chicago (sendo até MVP da liga), não só suprindo a necessidade de trazer um armador como agregando ao elenco, adicionando um jogador com boas médias em temporada anteriores, tendo, inclusive, um jogo de 50 pontos pelos Timberwolves, exatamente no período em que foi treinado pelo “coach”. Além do experiente armador, dirigente e treinador optaram por uma free agency modesta, assinando com o ala-armador Alec Burks, um dos principais reservas do Philadelphia 76ers, e o pivô Nerlens Noel, outro influente reserva, mas do Oklahoma City Thunder. Além destas aquisições, os Knicks tiveram duas escolhas no draft, a 8° e 23° (obtida em uma troca) escolha, selecionando o ala-pivô Obi Toppin e o ala-armador Immanuel Quickley, respectivamente.

Desta forma, gerente e técnico montavam uma equipe mais equilibrada, tendo um quinteto inicial minimamente competitivo e um banco nivelado aos titulares, apostando na regularidade que tal elenco poderia produzir em meio a outros estrelados, como o dos Nets, 76ers, Bucks, Hawks, Celtics e outros. E, depois de anos, a aposta deu certo. O time de Nova Iorque se tornou um dos mais consistentes da conferência leste e terminou a temporada com um retrospecto positivo, obtendo 41 vitórias e 31 derrotas, finalizando na 4° colocação da conferência e garantindo mando de quadra nos playoffs.

O principal nome em quadra foi Julius Randle que, assistido por companheiros mais qualificados, terminou como o principal pontuador, “reboteiro” e garçom da franquia na temporada regular. Com uma ascensão evidente, o ala-pivô conquistou o Most Improved Player, prêmio que elege o jogador que teve a evolução mais considerável de um ano para o outro. Em dados, Randle obteve mais um salto significativo, tendo a melhor média de pontos de sua carreira (24,1), melhor média de assistências (6,0), melhor média de roubadas de bola (0,9), melhor porcentagem em bolas de 3 (41,1%) e repetindo sua melhor média de rebotes (10,2). Veja outras estatísticas na tabela abaixo:

Outro que também desfrutou de um prêmio individual foi o próprio Thibodeau, ganhando o prêmio de treinador do ano por conta do desempenho do seu time no decorrer da temporada regular.

Anúncio oficial da NBA de Tom Thibodeau como COY (Foto: NBA/ Divulgação)

Pós-temporada e futuro

Apesar de tantos feitos na temporada regular, o período de mata-mata acabou sendo curto para Thibodeau e companhia, tendo em vista que o New York Knicks foi eliminado pelo Atlanta Hawks na primeira rodada dos playoffs, perdendo a série por 4 x 1.

Um dos principais motivos para a saída precoce pode ter sido a inexperiência deste elenco na pós-temporada. Isso fica notório quando observamos o desempenho de Julius Randle nos cinco jogos, praticando um nível de basquete muito inferior ao que ele vinha tendo durante o período regular, caindo para uma média de 18,0 pontos por jogo durante os cinco confrontos. Outro desempenho que enfatiza esse ponto é o de Derrick Rose, já que o armador não só foi o cestinha dos Knicks na série como obteve uma média semelhante ao da temporada regular, com 19,4 pontos por partida, mostrando o quanto seus companheiros caíram na série. Além disso, há a evidente qualidade do time adversário, que parece ter engrenado nas mãos de Nate McMillan na reta final e no início dos playoffs, com um Trae Young jogando em nível de All-Star.

Mesmo conseguindo a façanha de ir para os “offs”, é bem improvável que os Knicks consigam repetir este desempenho na próxima temporada, até porque o risco de perder alguns jogadores no próximo mercado de agentes livres é alto, pois, com a valorização destes na última temporada, seus salários devem ser maiores. Porém, uma coisa ficou clara depois de tudo isso: não duvidemos do que Tom Thibodeau é capaz.

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