Cinco histórias da temporada 2019/20 na Europa

De clube recém promovido até o ressurgimento de tradicionais, um pouco da última temporada no Velho Continente

Marcos Cardoso
Mezzala
10 min readAug 31, 2020

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Foto: Ligue 1/Divulgação

No último dia 23 de agosto, Paris Saint-Germain e Bayern de Munique definiriam o grande campeão dentro do cenário europeu. Com um coletivo que poucas vezes foi visto dentro da Baviera, os alemães voltaram ao topo do continente, sua sexta taça da competição no armário.

Nem somente de Champions League se vive no futebol do Velho Continente. Hoje, trago um levantamento de equipes destaques dentro das cinco principais ligas. Em alguns países como Espanha e Itália, substitui os já muito falados Getafe e Atalanta, para dar mais fluidez ao enredo.

Mesmo com alguns países, caso da França, e também a Champions League em sua fase prévia já tendo a bola rolando para a temporada 2020/21, vamos relembrar algumas histórias da temporada 2019/20.

Alemanha: Em sua primeira vez na elite, Union Berlim se mantém na Bundesliga

Foto: Felipe Trueba/EFE/EPA

Há duas semanas, escrevi um texto falando sobre o RB Leipzig e como se estrutura. Principalmente, tendo o dinheiro como o fator para estar alcançando o sucesso — seja as posições no topo da Bundesliga, ou a semifinal de Champions League. Porém, na capital alemã, um time tem uma ideia um tanto quanto diferente.

Se o Leipzig estreou na elite em 2016, o Union Berlim alcançou tal feito em 2019. Um clube que segue e respira o futebol da maneira mais tradicional possível. Que tem muitas histórias dentro e fora de campo, mas que demorou para chegar ao maior palco do futebol alemão.

Figurou em divisões inferiores do futebol alemão por anos, conquistando a 3.Liga em 2008/09. Antes disso, em 2000/01, por pouco não levantou uma taça de grande relevância nacional. Chegou a final da DFB Pokal — a Copa da Alemanha –, os vermelhos de Berlim, no entanto, não suportaram a pressão do Schalke 04 e ficaram com o vice-campeonato.

Para o seu debute na Bundesliga, o Union contou com alguns nomes reconhecidos dentro do país. Neven Subotic, ex-Borussia Dortmund e bicampeão da Bundesliga, Marvin Friedrich e ex-Augsburg Yunus Malli, ex-Wolfsburg. Além, claro, de Félix Kross, irmão de Toni Kross.

O início no torneio não foi dos melhores. Na primeira partida, uma derrota por 4 a 0 para o RB Leipzig em casa. Em 24 de agosto de 2019, o primeiro gol na história dentro da elite, foi de Sebastian Andersson, no empate em 1 a 1 com o Augsburg. A primeira vitória veio na terceira rodada, contra o Borussia Dortmund por 3 a 1. Em 02 de novembro, pela 10ª rodada, o primeiro clássico de Berlim na história da elite alemã. Em jogo disputado no Stadion An der Alten Försterei — casa do Union — vitória por 1 a 0 sobre o Hertha.

Em uma temporada com algumas oscilações, o que é comum para um clube sem grandes investimentos e estreante na Bundesliga, o Union conseguiu se segurar na elite. Em uma confortável 11º posição, os comandados de Urs Fischer, conseguiram 12 vitórias, cinco empates e 17 derrotas em 34 partidas, igualando os mesmos 41 pontos do Hertha.

Espanha: Com um elenco rejuvenescido, a Real Sociedad volta aos torneios continentais

Foto: Reprodução

Nova casa de David Silva, depois de 10 de Manchester City, a Real Sociedad foi uma das grandes e gratas surpresas dentro do futebol espanhol em 2019/20. Prestes a completar 110 anos de história, sendo bicampeão do Campeonato Nacional (1980/81 e 1981/82), além de outras duas Copas do Rei (1909 e 1986/87), os Txuri-Urdin voltaram a figurar entre os destaques de La Liga.

Para entender melhor como foi a temporada que contou com seis vitórias e um empate nas 10 primeiras rodadas, precisamos começar a analisar o clube desde a chegada de Imanol Algucil, ou melhor, desde que ele assumiu o comando técnico da equipe principal. Ex-defensor, revelado inclusive pela própria Real Sociedad, Algucil chegou a comissão técnica do clube em 2011, tendo trabalho com a base até 2013, migrando, posteriormente, para o time B, onde foi treinador e assistente dentre 2013 e 2018, quando, enfim, chegou ao comando da equipe principal.

O treinador, natural de Orio, no País Basco, costuma trabalhar em um esquema 4–2–3–1 com a equipe de San Sebastian, tendo como elenco base: Remiro, Elustondo, Llorente, Le Normand, Monreal; Zubeldia, Merino, Januzaj, Odegaard, Oyarzabal; Isak. William José, centroavante brasileiro e de grande destaque em temporadas passadas pela Real, acabou ficando de lado após a frustrada tentativa de transferência para o Tottenham em janeiro.

O primeiro turno não foi de grande sucesso, com 22 pontos em 19 partidas. Derrotas para Real Madrid e Athletic de Bilbao — principal rival dentro do País Basco — além de outro revés para o Villarreal, e um empate contra o Barcelona. Seguindo com uma campanha estável, o clube conquistou oito vitórias no segundo turno, garantindo, assim, mesmo com 14 derrotas em La Liga, o sexto lugar, posição que lhe assegura a vaga na fase de grupos da próxima Europa League.

Mas você pode estar se pensando: como assim um clube sem títulos e sem grandes vitórias como destaque? Simples. Pela forma como atua dentro de campo, pelos ótimos e promissores nomes como Remiro, Le Normand, Zubeldia, Mikel Merino, Oyarzabal — camisa 10 e capitão em algumas partidas — e o centroavante Alexander Isak. Lembrando, também da promessa do Real Madrid, Martin Odegaard, que, após empréstimos na Holanda, conseguiu se firmar dentro de La Liga e retorna aos Merengues com outro status. Além da chega à final da Copa do Rey, tendo eliminado o poderoso clube da capital nas quartas de finais dentro do Santiago Bernabéu. A decisão frente ao Athletic não tem nada marcada para acontecer.

Os comandados de Imano Algucil podem surpreender ainda mais na próxima temporada. Com a queda de rendimento e desmanche do Valência, a Real Sociedad poderá brigar com Sevilla e Villarreal pela quarta vaga na Champions League de 2021/22.

França: Mesmo sem a temporada ser encerrada, Rennais faz história e disputará pela primeira vez a Champions League

Foto: Jean Francois Monier/AFP

A Ligue 1 foi uma das primeiras a se posicionar sobre as medidas de combate a pandemia de coronavírus. Ainda entre os meses de março e abril, quando o vírus começava a tomar grandes proporções dentro do Velho Continente, o Campeonato Francês foi encerrado. O Paris Saint-Germain foi declarado campeão. Olympique de Mareselha e Stade Rennais fecharam o grupo que se classificou para a principal competição continental.

Assim como o nosso destaque de La Liga, o Rennais conta, também, contou com uma equipe jovem na última temporada. Segundo dados do site alemão Transfermarkt, a média de idade do elenco era de 24,2 anos. O time base do treinador Julien Stéphan contava com: Mendy; Traoré, Silva, Gnagnon, Maouassa; Nzonzi, Camavinga, Raphinha e Bourigeaud; Niang e Del Castillo.

A temporada 2019/20 marcava o retorno do time à Europa League, feito garantido após vencer o PSG nos pênaltis na final da Copa da França de 2018/19. Porém, na competição continental, o clube não passou da fase de grupos.

Nascido em 2002, Eduardo Camavinga começou a despontar desde o início da temporada como principal nome da equipe, sendo desejado, inclusive, pelo Real Madrid, Manchester City e PSG, que ainda sonham com sua contratação. Com boa saída de bola, drible e passes decisivos, é de se imaginar que o jovem meio-campista logo esteja com a camisa de um dos gigantes do continente. Inclusive, já foi convocado para a Seleção Francesa.

A temporada foi atípica para todos. Enquanto Alemanha, Espanha, Itália e Inglaterra optaram por estabelecer protocolos de segurança sanitária para encerrar os campeonatos dentro de campo, a França optou pela finalização na 28ª rodada. Fato que beneficiou o Rennais. Com 50 pontos e 15 vitórias, o clube ficou um ponto da frente do tradicional Lille.

Como o Lyon, equipe que não conseguiu se garantir em nenhuma competição europeia para a próxima temporada, não passou pelo Bayern de Munique nas semifinais da Champions e, com isso, não levantou a taça, o Rennais assegurou o direito de disputar a fase de grupos do principal torneio de clubes da Europa.

Itália: Na segunda temporada na elite após reconstrução, Parma fica sem sustos na Série A

Foto: Parma/Divulgação

Falar de futebol italiano na temporada 2019/20 e abordar surpresas nos remete quase que automaticamente para a Atalanta. Porém, outras equipes dentro do país da bota também demonstraram estabilidade e crescimento. E um desses times é dos mais tradicionais, o Parma.

Fundado pela primeira vez no ano de 1913 como Parma Associazione Calcio, o clube foi casa para grandes nomes do futebol mundial, principalmente nos anos 1990. Jogadores como Gianluigi Buffon — principal goleiro da história do país –, Fabio Cannavaro — único defensor a ser eleito melhor jogador do mundo –, Adriano Imperador, Taffarel, Júnior, Crespo, Ortega, Verón e Lilian Thuram vestiram a camisa parmensi.

Como dito, sua era de ouro foi nos anos 1990, tendo início em 1991 e durando até 2002. Nesse período de quase 11 anos, foram conquistados todos os títulos de sua história. Três Copas da Itália (1991/92, 1998/99 e 2001/02), uma Supercopa da Itália (1999), uma Supercopa Europeia (1993), uma Recopa Europeia (1992/93) e duas Liga Europa (1994/95 e 1998/99). Essa época marcou, também, a melhor colocação do Parma dentro do Campeonato Italiano, o segundo lugar em 1996/97.

Pouco depois do fim dos anos de glória, o Parma precisou fazer uma manobra para evitar o reinício do clube nas divisões inferiores do futebol local, mudou seu nome para Parma Football Clube, mantendo todos os direitos do “antigo clube”. Fato que, em 2015, não conseguiu ser evitado. Com uma grave crise financeira, o clube precisou se reformular nas divisões de baixo. O nome, novamente foi alterado, dessa vez nascia o Parma Calcio 1913.

Voltando as origens, o Parma contou com nomes das principais conquistas, agora na parte de fora do campo. O ex-treinador, Nevio Scala assumiu como presidente, a prefeitura da cidade também começou a auxiliar na reconstrução do clube. Mas, o grande personagem foi o seu fiel e apaixonado torcedor, que continuou a apoiando o clube mesmo na quarta divisão.

Em 2015, o Parma estreou na Série D, e já em 2018/19 estava de volta à elite. O retorno não foi fácil, com 10 vitórias e 11 empates, o clube ficou a três pontos da zona de rebaixamento, salvando-se apenas nas últimas rodadas.

Porém, em 2019/20, a história foi diferente. Somando oito pontos a mais, com quatro vitórias de diferença da temporada anterior, o Parma terminou em 11º, com 14 pontos de distância da zona de descenso.

Contando com alguns nomes conhecidos como Bruno Alves, ex-Porto e seleção portuguesa, Matteo Darmian, ex-Manchester United, Gervinho, ex-Roma e Roberto Iglese, ex-Napoli, o clube em alguns momentos brigou por vagas europeias. Mesmo com nomes já rodados, o grande diferencial estava nos pés de Dejan Kulusevski, nascido em 2000, o sueco foi negociado com a Juventus, mas permaneceu em Parma até o final da temporada.

Longe de voltar a ser a grande potência dos anos 1990, o Parma tenta caminhar passo a passo para voltar a ser uma figura de destaque dentro da Itália. Para os amantes do futebol, um presente a equipe tradicional permanecer na elite.

Inglaterra: Na volta à elite, o Sheffield United por pouco não vai para a Europa

Foto: Getty Images

Que a Premier League é a mais badalada e disputada liga da Europa você já sabe. Os grandes salários, os grandes jogadores, tudo isso você encontra no principal torneio nacional do Reino Unido. Um país que após graves incidentes dentro e fora de campo, passou por uma completa reformulação no seu futebol nos anos 1990.

Grandes clubes conquistaram títulos, times menores cresceram, alguns gigantes ficaram na seca. Tudo isso, com muitas belas e outras feias partidas. Uma terra fértil para surpresas, como foi o Leicester de 2015/16. Com um grande investimento, o Wolverhampton saiu da segunda divisão em 2017/18 para em 2018/19 assegurar uma vaga em competições europeias. Em 2019/20, quase que outro time consegue um feito semelhante, mas claro, com menos investimentos.

Com um título do Campeonato Inglês há mais de 120 anos atrás, o Sheffield United chegou a ficar 13 anos longe da elite nacional, retornando pela última vez em 2018/19 quando foi vice-campeão da Championship — a segunda divisão

Comandado por Crhis Wilder, um inglês de 51 anos e que está no clube desde 2016, os The Blades — apelido do clube — começaram muito bem sua trajetória na elite. Habitualmente armado em um 3–5–2 com: Henderson, Basham, Egan e O’Connel; Baldock, Lundstram, Norwood, Fleck e Stevens, McGoldrick e Robinson. Foram 13 pontos conquistas nos primeiros 30 disputados — em comparação, o campeão da Championship 18/19, o Norwich, conquistou apenas sete no mesmo período.

A equipe manteve a mesma boa campanha até a parada do futebol no país em virtude da pandemia de coronavírus. A última rodada, 29ª, foi disputada em 7 de março, e o Sheffield venceu o Norwich por 1 a 0. Naquele momento, os The Blades somavam 43 pontos, com 11 vitórias e 10 empates estando na sétima posição, a frente de Tottenham e Arsenal, e a cinco pontos do quarto lugar — último que da vaga a Champions League.

Com o retorno dos jogos exatos 100 dias após a paralisação, o Sheffield United sentiu o peso do tempo sem partidas. Nos nove jogos restantes, conquistou apenas 11 pontos, três vitórias, dois empates e quatro derrotas no período. A vaga na Champions como na Europa League não veio. Mas o clube mostrou ter uma boa defesa, principalmente com o goleiro emprestado pelo Manchester United, Dean Henderson. Foram 39 gols sofridos em 38 rodadas, tendo sido a quarta melhor defesa da PL, atrás apenas de Liverpool (33), Manchester City (35) e United (36).

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