ON THE ROCKS

Efemeridades…

Walter Hupsel
Microphonia
Published in
2 min readJun 30, 2020

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Angelus Novus — Paul Klee, 1920 (fragmento).

“A história acontece como tragédia e se repete como farsa” disse um alemão retificando um conterrâneo. Há dois séculos a frase repercute e pouca gente se debruçou sobre ela pra realmente tentar compreender. Virou um mero chavão, tragédia, farsa, destino, sei lá.

Outro chavão sobre o mesmo tema é “aquele que não conhece a história está condenado a repeti-la”. A história, essa grande mãe de todo o universo, seria, inclusive, a única ciência de fato. Que isso tenha sido escrito e pensado no XIX, o grande século da atualidade, só nos mostra como ainda estamos presos no otimismo e no positivismo. O mundo teria algum sentido e direção, um progresso. Não é também por acaso que a “Ciência da História” tenha nascido na mão de um outro alemão nesse mesmo século.

Pois bem, diferentemente do novo excrelentíssimo ministro da educação, eu não sou doutor. Mas mesmo nessa não-condição dou aqui meus palpites: A história não é um manual, um livro de alerta escrito para que nós aprendamos com os erros do passado e evoluamos constantemente. Ela pode até acontecer como tragédia, mas não se repete como farsa não.

Mas por que desgraça estou eu, num domingo de manhã, escrevendo essas coisas?

Pra ser sincero, não sei. Tem um longo tempo que não escrevo… tentei vários arremedos de textos e simplesmente não saia nada decente sobre nenhum tema que acho que ainda tenho coisas a dizer (se alguém vai escutar é uma outra…. história).

Só sei que essa história e esses chavões me incomodam, nos dão uma certa esperança, tão certa quanto falsa. A única coisa que a história nos ensina, pra quem quer aprender, é que as coisas são transitórias, efêmeras. Mudam constantemente, os atores, as ações, e os vetores resultantes.

Então, seguindo a direção, entender como as coisas nasceram, quais papeis desempenharam e/ou continuam desempenhando, a que se prestam. Pode ser um choque aos meus parquíssimos leitores, mas o mundo não “é” assim, ele “está” (pobre da língua que não faz essa distinção de tempo e transitoriedade).

Tudo que está aí… “está”. TUDO!

Por isso, caros, é sempre importante saber das histórias, das genealogias. Ela dessacraliza as coisas, põe em perspectiva e mostra justamente que merecem perecer, naturalmente ou por nós, destruídas.

Se nada é eterno, pois tem um necessário começo, tem também um fim. A história não se repete nem nos ensina a evitar erros. Mas ela nos mostra que as coisas têm um fim.

Não foi sempre assim, não será assim para sempre.

Ah! Lembrei porque estou nesse domingo ensolarado na frente do computador fazendo essa inútil digressão:

ACAB (All Cops Are Bastard).

Walter Hupsel para o Microphonia.

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Walter Hupsel
Microphonia

Cientista político, punk, anarco… uma caralhada de moléculas em choque constante. Aqui é barulho, dissonâncias e muito fuzz. Só JESUS (AND MARY CHAIN) SALVA!