ON THE ROCKS

Marcha Aboiada

Walter Hupsel
Microphonia
Published in
2 min readApr 23, 2020

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No tédio que vivo, apesar de estar trabalhando incansavelmente nessa quarentena, resolvi criar minha teoria psicológica-psicotrópica-psicodélica do bolsonarismo.

Por motivos óbvios, o tema da pulsão de morte é caríssimo aos alemães. Se Freud, Adorno, Honneth, Benjamin, Völler, Matthaüs, Beckenbauer e Kraftwerk escreveram sobre o objeto, Hupsel também pode.

(Ok, Freud não era alemão, Hupsel também não o é).

Eu já falei disso aqui, sobre o lema do franquismo ¡Viva la Muerte! e nosso excrementíssimo presidente. Mas quero retomar o tema psicodelicamente pois não consigo apagar as imagens das carreatas bovinas, dos ditadores pedindo liberdade, das personalidades autoritárias reclamando e a melhor maneira de se livrar das imagens é escrever sobre elas.

Aliás, não sei quem cunhou a ideia de gado para esse rebanho mortífero. Quero mandar-lhe um enorme abraço, é a melhor identificação já criada. Vejam bem, gado é tangido, aboiado, conduzido, em rebanho, para um pasto, para o curral, para abatedouro, por um vaqueiro tocando berrante ou mesmo por um simples cabo, opsssss, cachorro.

O gado caminha para a morte, muitas vezes automotizados. E o faz feliz, feliz o faz. Mas tudo isso nos é óbvio demais, resta tentarmos entender o porquê. E aqui vai minha contribuição psico ao cubo: a morte!

Na minha psicologia das massas a morte é a realização da vida e também sua meta. Não sei se faz algum sentido, mas vamos acompanhar.

O ideal de vida do rebanho é asceta, regrado, dentro da ordem e das ordens. Sabemos das hipocrisias, do defensor da família que tem sugar babies, que assedia a filha ou bate na mulher. Mas publicamente são retos, probos que seguem todos os protocolos exigidos de um homem de bem.

Essa dissonância que vivem, a duplicidade de padrões, o limiar da hipocrisia e o equilíbrio entre desejos ímpios e imagem pública deve corroer por dentro. É o próprio martírio. Vivem martirizados.

Ora, se isso procede, a morte é a libertação ordeira do sofrimento. Ser mandado à morte é seu ápice, pois, além do corpo a mente se aquieta simplesmente por seguir a ordem, obedecer ao comando.

Não é por acaso que a marcha os seduz mais que a dança; que as grades os encanta mais que o mar. Curioso é que vivem confinados nas suas seguranças e que contra o confinamento se revoltem.

Mas não se revoltam para a catarse e alegria, para explosões irrefreáveis. Ao contrário, se revoltam para a morte porque só assim alcançam a paz e com ela o fim da dissonância.

Para o gado, o trabalho e a morte redimem e libertam!

Walter Hupsel para o Microphonia.

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Walter Hupsel
Microphonia

Cientista político, punk, anarco… uma caralhada de moléculas em choque constante. Aqui é barulho, dissonâncias e muito fuzz. Só JESUS (AND MARY CHAIN) SALVA!