SELF FISH

Vamos ver no que vai dar!

Tava aqui na minha quarentena, tentando organizar a vida em confinamento, quando recebo a seguinte mensagem: “Fala Bro! Junte-se a nós e mande um texto”. O imparável Junior Vaz, que já me meteu no Clube dos Bons Sons e no projeto derivado, a CBS Rock Band, me convocou pra escrever um texto pro blog do Microphonia.

Minha primeira reação foi mandar um carinhoso “foda-se”, mas fiquei curioso e fui conhecer o blog. Logo vi que iria me meter numa roubada: os caras falam bonito pra caralho! Poesia, arte, citações a Nietzsche, Camus, Dostoiévski, entre outros ilustres. Enfim, eu, que não sei merda nenhuma, iria ter que me esforçar pra não passar (muita) vergonha.

Mas, pensei: estamos em meio ao fim do mundo e, apesar do confinamento (ou por causa dele?), talvez, essa seja a hora de sair da zona de conforto, fugir da acomodação, arriscar. Então, amigo Júnior, interprete aquele “foda-se” que eu te mandei, como um “ok, vamos ver no que vai dar!”.

Porém, como eu não faço a menor ideia do que falar, vou deixar aqui um texto (não acho que possa chamar de poesia), feito por esses dias e que, quem sabe, talvez, um dia, vire música (alô, Stereopolitanos, isso foi uma indireta!).

Agora, que é preciso a gente se isolar,
Que a gente note o quanto já tinha se isolado.
Já que mandaram a gente se afastar,
Que a gente perceba como já tinha se afastado.
E se está proibido a gente se abraçar,
Que a gente se lembre da importância de um abraço.
E quando as prateleiras começarem a esvaziar
Que a gente dê ao afeto o seu merecido espaço.
E, na necessidade da distância,
na obrigação do isolamento,
Que a gente consiga abrir os olhos
E ver que a gente tá doente há muito tempo!
Com o mundo ameaçando se acabar
E o fim espreitando lá fora,
Que gente se lembre que tudo acaba
E acaba, quase sempre, antes da hora.
E, quando, realmente, for o fim,
Que ele nos encontre com a casa
As mãos
E a consciência
Limpas.

Então, foda-se! Vamos ver no que vai dar. É isso!

Paulo Peixe para o Microphonia.