EDITORIAL

Alguém sabe quem é que nos mata?

“Subversão: a vez da voz” é o primeiro ciclo do Mídium a se estender por mais de seis meses

Equipe Mídium
Mídium - Comunicação em Movimento
3 min readAug 19, 2019

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Em março deste ano, um ano da morte de Marielle foi completado. No mesmo dia, o Mídium publicou o editorial do seu quarto ciclo, o Subversão. Foi proposital. Também era dia de Carolina Maria de Jesus. À época, falamos delas e de tantos outros porque acreditávamos. E acreditamos.

19 de agosto e este editorial é publicado. Nove meses e dezenove dias desde o resultado do segundo turno das Eleições Presidenciais de 2018. Sete meses desde a posse de Jair Bolsonaro, marcada por repressão do direito de imprensa. Quando a ficha caiu e a realidade bateu à porta, não estávamos preparados. Sete meses depois e fomos assassinados de diferentes formas. Na saúde, na educação, na arte. Ninguém nunca está e nem nunca estará preparado.

A cidade dorme. O presidente fala. Não existe fome no Brasil, não existe racismo no Brasil. Nem cagar pode mais no Brasil. Só se tiver conta verificada no Twitter e vaga no Executivo. Desse jeito pode duvidar até de jornalista torturada na Ditadura. Jornalista torturada.

Alguém sabe quem é que nos mata?

Ciclos significam começo, meio e fim, mas também nos remetem à ideia de continuidade, de alguma forma. Desde seu nascimento, o Mídium funciona em começos, meios e fins que duram seis meses e perduram para sempre nos corações de quem faz e acompanha.

Com o início do Subversão, nos propusemos a falar sobre um momento que surgia tímido, o qual denominamos de “pós”. Pós Marielle, pós Carolina, pós Pedro Henrique. “O que é ser diferente?” também era uma pergunta que nos guiava. Naquele momento, já havia medo. Não sabíamos o que esperar, mas encorajamos o outro, como em todos os outros ciclos do projeto. Realizamos coberturas de vários momentos de mobilização e protesto ao longo do ciclo, pensando outras formas de concentrar forças e de exercer comunicação. Deixamos os entrevistados falarem à vontade e nos propomos a permitir que eles conduzissem suas próprias narrativas. Fomos coletividade e fomos social.

E o Subversão subverteu até o que já estava posto no Mídium. Decidimos construir um ciclo de um ano com ambas — indecisão e prontidão — porque fez sentido. Não poderíamos reduzir a resistência e a luta a seis meses. Portanto, continuaremos a produzir considerando tudo que inverte e destrói o pré-moldado.

Alguém pode dizer quem é que nos mata?

Enquanto reagimos aos baques, escrevemos e fotografamos e ouvimos e documentamos os retrocessos, os ataques e as injustiças. Por entender que comunicar é resistir e por justamente compreender que ciclos têm fim, seguimos em “Subversão”. E o ciclo atual tem fim; não o do Mídium, o ciclo político. Tem fim e continua de alguma forma. Já lutamos agora e lutaremos quando quiserem nos matar novamente.

Esse texto foi inspirado pela peça “Ainda Vivas” do Coletivo Nois de Teatro, cujos percursos e falas atravessaram e atravessam quem movimenta o Mídium.

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Um movimento de experiências em comunicação, integrado por estudantes de Jornalismo da UFC. Assine nossa newsletter: http://tinyletter.com/midium