Qual o sentido da vida?

Natri (Fabio Natrieli)
MIND o>er matter
Published in
4 min readDec 21, 2020

Todos nós, em algum momento, nos pegamos pensando sobre a nossa existência, sobre o seu significado… se é que existe algum.

Essa é, afinal, uma das perguntas mais importantes e recorrentes na história da humanidade: qual o sentido da vida?

Qual o sentido da minha vida em particular?

Qual o sentido da nossa existência, como sociedade, como seres vivos?

Qual o sentido das coisas existirem, afinal?

Em filosofia, antes de responder uma pergunta, é de bom tom dar um passo atrás e pensar de forma reflexiva sobre a questão proposta, não só para entender exatamente qual é a pergunta que está sendo feita, mas entrando dentro do significado das palavras contidas na pergunta, para só então avançar sobre os argumentos que podem nos levar às respostas.

Assim, antes de tentar responder à questão sobre o significado da vida, nos é relevante entender o sentido que a palavra significado possui em si, especialmente dentro dessa pergunta específica.

Ora, a palavra significado possui muitos sentidos, sendo três os mais comuns: o seu significado linguístico (semântico); o significado indicativo; e o significado de sentido.

O significado semântico é o mais óbvio de todos. Por exemplo, as palavras "vermelho", "red" e "rouge" expressam exatamente a mesma coisa, a cor vermelha, mas de formas variadas, através das palavras em línguas diferentes, como português, inglês e francês.

O segundo sentido é o indicativo. Ele se dá através de uma associação entre fatores, que sugere uma relação de causa e efeito, uma indicação. O céu escuro com nuvens pesadas significa (indica) chuva. A febre significa (indica) algo de errado com meu corpo.

O terceiro significado é de importância, relevância. Por exemplo, eu posso dizer que a música que está tocando na rádio tem um grande significado para mim, pois lembra a minha infância. Esse anel em meu dedo tem um grande significado para mim. Ele significa os meus votos de casamento.

Posto isso, quando perguntamos "qual é o significado (sentido) da vida” geralmente estamos invocando esse último significado, de sentido, importância e relevância.

No entanto, note algo peculiar e comum sobre todos os três significados da palavra "significado". Há UM fator específico que os une.

Consegue perceber algo?

Todos os três sentidos dados, embora diferentes entre si, apontam para algo além de si mesmos, um ponto fora.

A palavra "vermelho" aponta para a cor, que não é a palavra em si. A palavra vermelho é uma coisa e a cor vermelha é outra.

Quando se diz que as nuvens negras significam a chuva, está se dizendo que ao olhar para as nuvens é possível extrair delas uma indicação, uma informação, que está além delas.

Quando digo que determinada música tem muito significado para mim, estou dizendo que ela aponta para alguma outra coisa que não é ela em si, a música, mas àquilo que ela me remete, que o seu significado se refere à outra coisa, por exemplo, a música me lembrar um período feliz da infância, lembrar de uma pessoa, etc.

Então, em todos os sentidos que vimos, a palavra significado tem esse conotação de ser uma coisa que aponta para outra coisa, algo que está bem além dela própria.

Portanto, quando perguntamos "qual é o sentido da vida", estamos perguntando o que existe além de nós mesmos, da nossa existência, que nos dá sentido à vida.

Então, talvez uma forma de refletir sobre essa pergunta seja expandir os nossos horizontes e pensar em um sentido para a vida para além de nós mesmos.

Veja que nem sequer ousamos responder a pergunta ainda, mas apenas examiná-la, e ainda assim, já demos um pequeno passo em um caminho possível.

É por isso que dissemos acima que entrar mais a fundo nas palavras presentes na pergunta pode nos indicar possibilidades para as respostas que almejamos, tendo por base os próprios elementos contidos na própria pergunta.

Nesse caso específico, me parece que temos um indício de por onde começar a procurar respostas para o sentido da vida: não estar centrado no sujeito em si, mas em algo fora, não em um sentido individual, mas além.

O que me lembra uma frase do Dom Helder Câmara:

“Quando houver contraste entre a tua alegria e um céu cinzento, ou entre a tua tristeza e um céu em festa, bendiz o desencontro, que é um aviso divino de que o mundo não começa nem acaba em ti.”

Não somos e nem estamos isolados. Somos parte de um todo maior. É sobre este tema que iremos aprofundar no próximo artigo, cujo link segue abaixo, sobre o sentido da vida, segundo o Bhagavad Gita.

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