Escolhas na sua interface

Lisa Watanabe
Mulheres de Produto
6 min readMar 7, 2019

Às vezes menos é mais

Uma paleta de cores imensa — como uma piada! [descrição da imagem: uma simulação de um seletor de paleta de cores, a partir de uma ferramenta real de diagrama de fluxos, com quase mil amostras de cor para escolher]

English version here

A primeira vez que ouvi algo sobre o peso de ter muitas opções foi em uma TED talk do Barry Schwartz, O paradoxo da escolha. Ela relata que uma vez a sociedade industrializada ocidental chegou à conclusão de que a maneira de maximizar a liberdade é maximizar a escolha. Quanto mais escolhas as pessoas têm, mais liberdade elas têm, e quanto mais liberdade elas têm, mais bem-estar elas têm.

E com o tempo, nós, como sociedade, percebemos que talvez não fosse assim. Aqui está o porquê:

Arrependimento e arrependimento antecipado. Quando você tem uma tonelada de opções, é fácil se arrepender e achar que não está 100% satisfeito com o que escolheu, já que poderia ter facilmente escolhido outra coisa.

Custo de oportunidade. O valor de algo depende com o que o comparamos.

Expectativa intensificada. Se você tem tantas opções disponíveis assim, você tende a esperar mais qualidade do que você acabar escolhendo.

Culpa. Ficamos com grandes expectativas para praticamente tudo, e quando isso não é cumprido, tendemos a nos culpar por escolher mal.

Depois de todas as pequenas decisões que você tem que tomar diariamente, é comum sofrer de uma espécie de esgotamento mental. Este conceito é amplamente mencionado como a razão pela qual executivos bem-sucedidos usam a mesma roupa todos os dias.

Look padrão de Steve Jobs e armário da Mônica (capa nº 24 do gibi da Turma da Mônica/1988). [descrição da imagem: 4 quadros. Os 3 primeiros quadros são fotos de Steve Jobs em diferentes ocasiões usando a mesma roupa, camisa preta e jeans azul. O último quadro é uma ilustração mostrando uma personagem de desenho animado escolhendo um vestido vermelho de um guarda-roupa cheio do mesmo vestido vermelho.]

A conversa sobre menos é comum em várias áreas, mas essa noção remonta há pelo menos um século atrás. O renomado modernista Mies van der Rohe ouviu pela primeira vez essa frase em seus primeiros dias como arquiteto: menos é mais. Seu chefe só queria menos detalhamento em um desenho de fachada, mas Mies acabou reatribuindo essas três palavras a um significado próprio. Menos é mais se tornou a fundação teórica de suas obras no início do século XX, onde elementos de um objeto ou construção focam apenas em suas funcionalidades centrais.

O que tudo isso tem a ver com interfaces digitais? Bem, tudo.

Whimsical e RealtimeBoard

Eu sou super fã do RealtimeBoard. Como eles mesmos se definem, o RealtimeBoard é uma plataforma simples de
colaboração em equipe multidisciplinar
. Eu adoro poder personalizar praticamente tudo. Tipo de fonte, tamanho da fonte, cor da fonte, cor de preenchimento da forma, cor do traçado da forma, tipo de linha do traço da forma, peso da linha do traço da forma e assim por diante.

Capturas de tela do RealtimeBoard [descrição da imagem: 3 quadros com capturas de tela de editores de cor e fonte do RealtimeBoard]

Recentemente eu estava procurando por uma ferramenta de diagrama de fluxo compatível com Windows e alguém me recomendou o Whimsical. No começo achei que era tudo muito simples, me frustrava não poder escolher a cor/tipo da fonte e ter apenas uma seleção limitada de cores de objeto. Mas à medida que eu fui testando e usando o programa, eu parei de me preocupar com esses detalhes visuais e meu fluxo de trabalho melhorou drasticamente. É sério. Claro que essas escolhas limitadas foram cuidadosamente desenhadas, então no fim tudo acaba ficando ótimo visualmente.

Escolhas limitadas do Whimsical (fonte da imagem) [descrição da imagem: 3 capturas de tela dos editores de forma, cor e texto do whimsical]

Para ser justa, o RealtimeBoard lançou depois um recurso de diagrama de fluxo com opções de edição limitadas, mas a essa altura eu já estava apegada ao Whimsical. ❤

→ update 7/03/2019: RealtimeBoard agora se chama Miro

Design System e design do zero

Todo mundo provavelmente já leu ou ouviu falar algo sobre Design Systems. Há uma série de discussões sobre o assunto, mas o fato é: um Design System bem implementado acelera o processo de design.

À esquerda, uma visão geral do Carbon, Design System da IBM e à direita uma tela em branco. [descrição da imagem: 2 capturas de tela, a primeira é uma série de componentes de design dispostos em cards e a segunda é uma tela em branco]

Imagine a diferença, ao desenhar uma nova página, entre começar do zero e já ter os componentes básicos prontos.

Medium e Wordpress

Embora o Medium e o Wordpress tenham propósitos totalmente diferentes, ambos podem ser usados como plataformas de blog, então eu comparei seus recursos de edição de texto. Aqui estão algumas imagens do editor de texto atual do Wordpress:

Captura de tela do Gutenberg, o editor de texto do Wordpress
Captura de tela do editor de texto clássico do Wordpress

E aqui está o Medium:

Opções de edição de texto do Medium

O Medium é um ótimo exemplo de foco no conteúdo ao invés do formato. Você decide se está escrevendo um título, uma legenda, uma citação ou um parágrafo, e é basicamente isso. Você não escolha fonte, tamanho, cor, nem espaçamento. Nada disso. Você não pode nem acidentalmente deixar espaço duplo entre as palavras, a plataforma não permite que você faça isso.

E, no entanto, quando você termina de escrever o seu conteúdo, você acaba com um post bem diagramado com o mínimo de esforço na parte do design.

Nos casos mencionados acima, limitar escolhas não é o mesmo que limitar liberdade. Quando você tem uma solução bem desenhada, as limitações podem abrir espaço para que você se concentre no que é de fato importante. É como se livrar de uma certa carga mental.

Claro, toda essa conversa de menos é mais não é aplicável a todos os cenários de design de interface, especialmente para aqueles do setor B2B. Mas você ainda pode trabalhar para diminuir a carga cognitiva em uma interface repleta de informações.

Ainda assim, B2B ou não, o que todos esses produtos têm em comum é que eles sabem o que eles oferecem e o que o usuário está lá para fazer. Conhecer seus usuários é o que lhes permite dar um passo na direção do menos é mais.

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