Sobre processos de aprendizado
Normalmente cada pessoa se adapta melhor com algum método, né? Com certeza você tem o seu preferido. Há quem prefira ler e resumir, ou então quem aprenda na teoria mas não aplica na prática. Tem gente que anota pra gravar, tem gente que lê em voz alta, e por aí vai…
Na escola e na faculdade eu era dessas que lia e fazia um resumo, aí resumia o resumo, transformava o resumo em bullets e selecionava os mais importantes ̶ ̶p̶r̶a̶ ̶̶̶n̶̶̶o̶̶̶ ̶̶̶f̶̶̶i̶̶̶m̶̶̶ ̶̶̶i̶̶̶m̶̶̶p̶̶̶r̶̶̶i̶̶̶m̶̶̶i̶̶̶r̶ ̶̶̶e̶̶̶ ̶̶̶c̶o̶l̶a̶r̶ ̶̶̶d̶̶̶e̶̶̶n̶̶̶t̶̶̶r̶̶̶o̶̶̶ ̶̶̶d̶̶̶o̶̶̶ ̶̶̶e̶̶̶s̶̶̶t̶̶̶o̶̶̶j̶̶̶o̶̶̶.̶̶̶
E 9 anos depois de sair da faculdade, retomar a minha vida acadêmica num programa de mestrado me fez enxergar o aprendizado (além de muitas outras coisas) de uma nova maneira.
Quando eu falo que eu lia os textos que os professores pediam e não entendia nada, eu não estou só tentando quebrar o gelo do texto não. Eu tô falando sério. Aí eu começava tudo de novo, e ia lendo, sublinhando, rabiscando, buscando textos introdutórios sobre alguns dos assuntos, até que em algum momento eu achava que eu tinha entendido pelo menos uma parte, e me sentia satisfeita o suficiente pra partir para a próxima. E tudo bem.
E assim se passaram meses e eu ficava pensando que nada tava fazendo sentido ainda. E quase um ano depois, eu finalmente percebi que eu tava aprendendo desde o início, que talvez fosse preciso tempo pra assimilar tudo! Que baita alívio. Será que então o problema não sou eu?
Uma vez eu perguntei pra minha psicóloga se tudo que eu já tinha lido na vida com aquela sensação de que eu não estava entendendo direito tava guardado em algum lugar na minha cabeça mesmo sem eu saber e quando eu precisasse daquilo eu ia saber onde encontrar, e aí nesse momento mágico eu finalmente teria aprendido. Ela disse que sim, e eu achei que tinha sido porque ela não queria me desanimar.
Mas sabe que eu acho que era verdade?
Tudo isso, pra dizer que eu acho que o processo de aprendizado, de maneira geral, precisa de TEMPO.
Tempo pra assimilar tudo aquilo, pra ir vivendo e encontrando conexões de tudo que já vimos com o que estamos vendo agora e guardando pra juntar com o que ainda vamos ver.
Vivemos numa era em que graças a nossa geradora de memes, essa linda, a nossa querida, a internet, nós temos TANTA informação disponível… Mas tanta. Mas é muita mesmo… E aí temos esses espertofones que fazem com que a gente esteja O TEMPO TODO em contato com isso TUDO, e aí a gente fica achando que não sabemos nada né? Mas não é nada disso.
Essa sensação que a gente sente tem tudo a ver o conceito de ansiedade de informação, discutido no livro homônimo de Richard Saul Wurman, que apesar de escrito em 1991 continua fazendo muito sentido atualmente. Ele define ansiedade de informação como:
"Resultado da distância cada vez maior entre o que compreendemos e o que achamos que deveríamos compreender. É o buraco negro que existe entre dados e conhecimento, e ocorre quando a informação não nos diz o que queremos ou precisamos saber."
Ele cita alguns exemplos de situações do nosso dia a dia para você faça um auto diagnóstico sobre estar ou não sofrendo de ansiedade de informação, e parece mesmo muito difícil alguém hoje em dia não estar passando por isso.
Mas eu escrevi tudo isso pra no fim só pra lembrar você de ter calma, respirar e dar tempo ao tempo.
Então mantenha a calma quando todo mundo diz que já deu 39847 livros sobre produto e você ainda não leu nem 3, ou então não leu nenhum, porque não quer dizer que você não tenha aprendido nada. Vamos desmistificar isso?
