O que aprendi e ganhei como escritora em um ano de Medium

Laura Pires
Mulheres que Escrevem
8 min readDec 26, 2016

(Esse texto é uma adaptação do que enviei pela minha newsletter.)

Na semana passada, recebi do Medium um resumo do meu ano e destaquei o que está na imagem acima. O número de pessoas, assim tudo junto, me surpreendeu. Nem sei se isso significa grande coisa, mas era inimaginável quando comecei que eu fosse alcançar tanta gente tão rápido. Mais de 2 mil novos seguidores em pouco mais de seis meses.

Também na semana passada, teve o lançamento do zine Possível, da Brena O'Dwyer e da Taís Bravo. Rolou uma conversa, mediada pela Estela Rosa, entre Mulheres Incríveis™, dentre elas a Seane Melo. Conheci Seane no Medium. Acho que a encontrei por intermédio do Camilo Salvador, mas, de início, não me interessei muito, porque Seane escreve contos eróticos e eu nunca curti esse estilo. Só que Seane me conquistou com seus contos eróticos e se tornou uma das minhas escritoras preferidas no Medium e uma referência pra mim. Nos adicionamos no Facebook recentemente e, nesse dia do lançamento, nos conhecemos pessoalmente. E aí que, durante o encontro lá no lançamento, eu sentadinha na plateia, ouvi Seane soltar no meio de uma frase: “a Laura Pires, que é minha referência no Medium”. É muito louca a vida.

Uns meses atrás, quando Taís me convidou pra comandar uma das oficinas da Mulheres que escrevem, perguntei sobre o que ela pensou que eu poderia falar. Ela disse que queria que eu contasse da minha trajetória e como cheguei até ali e coisa e tal. Falei pra ela que achava isso muito prepotente, algo do tipo “deixa eu compartilhar aqui minha história de sucesso com vocês”, como se eu fosse grande coisa, e ela disse que achava legítimo, pela minha trajetória, que era sim de sucesso — coisa que Seane endossou na semana passada.

Lá no lançamento, um rapaz me parou pra dizer que é meu leitor assíduo. Pouco depois, um amigo da Taís perguntou se eu também escrevo no Medium e Seane disse que eu sou a mais top do Medium brasileiro (isso já é um exagero) e que é absurdo eu não me considerar uma “história de sucesso”. É estranho lidar com a percepção de fora que as pessoas têm da nossa vida. Estou me menosprezando porque conheço meus bastidores ou elas estão mesmo muito loucas por acharem que o que eu alcancei esse ano já se qualifica como uma história de sucesso?

Fiquei pensando nisso tudo e resolvi falar um pouco, então, dessa trajetória: do que planejei, da disciplina que segui, do meu aprimoramento pessoal e do que foi dando certo.

Já contei por alto em outros textos que já tinha publicado texto no Medium antes, mas que, nesse ano, resolvi levar a sério e esquematizar. Os passos foram:

1) Defini meu objetivo: quero mais público, pra ter mais visibilidade, pra conseguir chegar a escrever sendo paga por isso e ter outras oportunidades na vida.
Não tenho a ilusão de um dia viver de escrita, mas tenho plena consciência de que eu teria mais tempo pra me dedicar à escrita caso ganhasse algum dinheiro com ela. Também não tenho planos nem vontade de largar meu emprego, então isso é só um extra mesmo. Ainda assim, é algo que gosto muito de fazer e gostaria de poder fazer mais. Nem sempre ter público e produzir algo com qualidade — segundo nossos próprios critérios — é o mesmo que ganhar dinheiro, mas eu me preocupo sim em encontrar um equilíbrio entre o que considero minha voz, algo que acrescente e algo que venda. Preocupação com mercado é algo comumente criticado, mas eu considero apenas realista: é claro que eu quero público, é claro que eu quero dinheiro. Se não quisesse público, escrevia só nos meus cadernos e, se não precisasse de dinheiro, não pegaria metrô.

2) Reuni ideias não-desenvolvidas, posts de Facebook que poderiam ser desenvolvidos e rascunhos aleatórios.
Eu tinha MUITA coisa espalhada e reuni tudo num doc do Word. Vira e mexe, fico sem ideia e vou lá catar.

3) Selecionei uns quatro que seriam mais fáceis de aprontar, pra ficarem de banco de dados e de reserva quando eu não estivesse com muito tempo ou inspiração.
De lá pra cá, já adicionei outros, já usei alguns, já desisti de alguns e está tudo sempre sendo atualizado. Acho muito importante ter isso: anotar todas as ideias que tiver, salvar rascunhos e voltar a eles quando der pra tentar desenvolver. Isso é bom não só pra falta de tempo ou inspiração, mas também porque acaba que boa parte dos textos são trabalhados por meses antes de virem a público. Um texto sobre o qual você passou meses refletindo vai ser sempre melhor do que um que você escreveu na noite passada e publicou na ânsia de ser lida.

4) Fiz um calendário semanal, com dia fixo na semana.
As pessoas gostam de dia fixo, de saber quando sai o próximo daquilo que acompanham.
Começou assim:

31/03 — Dicionário de sexualidades
07/04 — Rótulos que abraçam
14/04 — E se eu não quiser casar?
21/04 — O Tinder está acabando com suas habilidades interpessoais
28/04 — Por que é tão difícil conseguir sexo fácil
05/05 — Amor e medo de vulnerabilidade

Esses todos são textos que já saíram, alguns se juntando a outros temas, quase todos em datas diferentes do previsto. A ideia era que houvesse um texto por semana e acabou que, dali, fui selecionando o tema que eu estivesse mais a fim no momento e atualizando no calendário. A primeira versão de calendário que fiz ia até julho.

5) Comecei a publicar.
O primeiro foi o Relacionamento aberto for dummies: dez dicas do que é e do que não é. Claro que eu quis chamar atenção com esse título. Mas não achei que fosse ter dez mil visualizações do nada, em uma época em que mil era muito pra mim. Foi uma boa surpresa, já que esse texto começou como um desabafo pessoal.

6) Ganhei uma ilustradora.
Eu já tinha percebido como uma imagem legal é importante no Medium e, na verdade, meu sonho sempre foi ter alguém pra ilustrar tudo que eu escrevesse. Só que eu não tinha como pagar e achava cara de pau demais pedir a alguém pra fazer de graça. Aí que a Beatriz Leite, que já era minha ilustradora preferida, surgiu e me mandou inbox um dia perguntando “o que você acha de eu ilustrar seus textos?”. Sonho realizado, sério. Devo muito à nossa parceria. Ela é minha ilustradora, minha amiga, minha beta reader e ainda ajuda nos brainstormings. Melhor pessoa.

7) Percebi que um texto por semana é muita coisa e mudei pra quinzenas.
A internet é muito barulho o tempo todo. As pessoas não acompanham mais de um texto por semana e quatro textos por mês é coisa demais, porque passa tudo muito rápido. Tive que controlar a ânsia de publicar logo alguns, mas acho que foi uma decisão acertada. Também foi bom pra funcionalidade da coisa, que era o tempo de mandar o rascunho pra Bleche (apelido carinhoso) e a ilustração ficar pronta no prazo pra publicar.

8) Percebi que engajamento e networking importam muito no Medium.
Você tem mais chances de ser lida e recomendada se recomendar e comentar outros textos e seguir outras pessoas. Rola uma retribuição consciente e também uma exposição inevitável quando você sai comentando tudo de todo mundo. Mas também não é pra sair fazendo isso a torto e a direito, sem critério, só pra ser pop. Isso foi legal pra mim, porque, como eu não queria sair comentando qualquer coisa, isso me estimulou a procurar conteúdo que eu gostasse de verdade. E foi assim que descobri minhas pessoas preferidas por aqui, que realmente me despertavam essa vontade de interagir. Recomendo muito isso, à parte da questão do networking.

Foram mais ou menos esses passos que segui e que foram dando certo. Hoje em dia, meus textos com pouco alcance costumam ter entre 1 e 2 mil visualizações; com alcance normal, entre 7 e 10 mil e tenho uns três ou quatro com mais que isso, sendo um com quase 140 mil (esse viralizou) e os outros lá pros 20, eu acho. Não é grande coisa no mundo da internet, mas é bastante coisa pra quem está começando e tentando alcançar um público que me acompanhe e existir com retorno financeiro nesse meio.

De lá pra cá, comecei a colaborar de maneira fixa com a TRENDR. Era toda quinzena, mas depois troquei pra só uma vez por mês, porque, infelizmente, não consigo escrever mais do que dois ou três textos por mês com a rotina de trabalho que tenho e aí surgiu a Revista Tpm. Me enviaram e-mail de lá pedindo pra publicar na revista um texto meu de 2014 e perguntaram se eu queria pitch alguma coisa. E foi assim que comecei a ganhar um dinheirinho com isso. É uma vez por mês e nem é fixo, mas é algo bem legal e que eu não esperava alcançar com essa rapidez toda ou sem ir atrás especificamente.

Não sei se isso é exatamente uma história de sucesso — ainda me sinto desconfortável com o termo e não sei se estou desvalorizando minhas conquistas ou apenas sendo realista à parte da empolgação das migas.

E os próximos passos?

Sei lá. ¯\_(ツ)_/¯
Não, sério, vou tentar listar também.

  • Continuar fazendo o que estou fazendo, não tem muito mistério nisso. Não vejo, ainda, motivo pra fazer algo diferente, mas vocês sabem que estou sempre refletindo sobre tudo. Uma coisa que se manteve na minha cabeça esse tempo todo é o quanto o Medium é uma boa plataforma pra quem quer escrever.
  • Entrei há pouco tempo pra editoria da Mulheres que Escrevem e estou empolgada, acho que vem muita coisa boa por aí. É um projeto que acompanho desde o início e no qual acredito muito. Acompanhem!
  • Procurar outras publicações que paguem e/ou de fato me tragam mais visibilidade.
  • Publicar em inglês, porque, ao que parece, é mais fácil encontrar site gringo que pague do que brasileiro. Esse item, por enquanto, pretendo fazer apenas como tradução de alguns conteúdos que já publiquei em português. Embora use muito inglês no dia a dia no trabalho, tem muito tempo que não escrevo em inglês e não me sinto preparada pra escrever algo decente nessa língua. E é aquilo que falei na outra newsletter: eu só faço quando acho que vou saber fazer bem — e, nesse caso, isso é positivo.
  • Tenho um projeto com o Victor Schlude, pro primeiro semestre de 2017, que por enquanto é segredo, mas quando sair vai ser um amor! ;)
  • Quero fazer um site pra mim, pra ser tipo um portfolio, dividido por áreas: textos que publiquei num lugar, textos que publiquei em outro, entrevistas que dei, projetos que participei, vídeos, palestras (me convidem para palestras) etc. Falta só dinheiro pra pagar alguém que faça sites. Se alguém tiver alguém pra recomendar, estou aceitando também. Prefiro que seja uma mulher, mas cota homem também vale.

E é isso, minha gente. Aprendi com a Taís a me autonomear escritora e agora estou aprendendo com ela e com a Seane a me responsabilizar pelo meu ~sucesso, que eu ainda não consigo chamar assim sem usar o til. Esse esquema de seguir os passos que listei acabou me obrigando a ser disciplinada — coisa que sempre disse que não sou. Da mesma forma, escrever com tamanho limitado pra Tpm tem sido uma forma de aprimorar minha escrita — o primeiro achei que ficou legal, o segundo, não fiquei satisfeita. Acho que o importante mesmo é se organizar, se dedicar e estar sempre refletindo sobre as próprias experiências como forma de melhorar. Viu só, perfeccionismo serve pra alguma coisa no fim das contas.

Que tenhamos muito mais aprimoramento em 2017 e vejo vocês depois que virar o ano!

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Laura Pires
Mulheres que Escrevem

Escrevo sobre relações de afeto. Instagram: @_laurampires . Contato profissional: contato.laurampires@gmail.com .