Sobre os bastidores

Laura Pires
3 min readMay 5, 2016

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(Texto publicado originalmente na newsletter Mulheres que Escrevem.)

Quando eu era criança, escrevia contos — em algum lugar da casa, um dia encontrarei um que escrevi sobre o cachorro, o gato e o rato quando tinha menos de 10 anos de idade. Também mantinha o costume de escrever um diário. E era diário mesmo, digo, todos os dias, eu abria o caderno e narrava situações pelas quais passei e o que senti.

Fui diminuindo a frequência com que escrevia no diário quando comecei a escrever em blog, que era meio que um substituto. Lá pro fim da adolescência, já tinha Orkut e tinha também muitos amigos virtuais, para os quais sempre escrevia. Com isso, abandonei o costume de escrever para mim mesma. Passei a escrever para mim mesma apenas quando era com função de desabafo. No dia a dia, eu escrevia para os outros.

É tudo diferente quando escrevemos para os outros. A seleção de fatos, palavras e prioridades é totalmente conduzida pela ideia de quem é a pessoa que irá ler. Talvez isso tenha me preparado para passar a escrever publicamente. Embora tenha publicado meu primeiro conto com 13 anos, foi só adulta que passei a me sentir à vontade de mostrar para as outras pessoas algo que escrevi. Antes, era tudo muito pessoal. Tem isso também: escrever com o público em mente tira um pouco da pessoalidade da coisa.

Hoje em dia, acredito em um equilíbrio entre escrever para mim mesma e escrever para ser lida por outros. Tenho tentado escrever sempre que algo me motiva e tenho publicado apenas depois de uns dias de revisão, em uma tentativa de me distanciar emocionalmente da coisa e avaliá-la de maneira isenta — o que é obviamente impossível. Na intenção de voltar a escrever por prazer e por hábito, me comprometi com o Medium. Meu texto sobre relacionamento aberto atingiu mais de cem recomendações e mais de onze mil visualizações até agora. É o máximo de público que já atingi por conta própria (desconsiderando os textos da Capitolina, que são outro contexto).

O problema da popularidade é que ela te deixa com mais vontade de escrever para os outros e isso pesa demais nesse lado da balança, fazendo pesar menos o lado que mais importa: a escrita para si própria. Dá vontade de repetir o feito, de ganhar mais visualizações, mais recomendações, mais likes — o objetivo, apenas um exercício egoico. Isso acaba nos levando também ao perigoso caminho da comparação. O que mais tem na internet é gente disponível pra escrever textão.

Toda vez que lê algo que escrevi, meu namorado diz que eu escrevo muito bem e que vou ficar famosa. Digo que não quero fama, quero dinheiro, e ele diz que dinheiro é consequência. Acho inocente e explico pra ele que não, escritores, via de regra, não ganham dinheiro, e que ele só me acha boa assim porque não tem Facebook, não frequenta a internet e não tem noção da quantidade de gente igualzinha a mim que tem por aí. Não é nem uma questão de se eu escrevo melhor ou pior do que todas as outras pessoas que escrevem também: a questão é que tem uma penca de gente produzindo o mesmo tipo de conteúdo. O que nos diferencia? Acredito de verdade que: nada.

E isso não é necessariamente um problema, porque, a princípio, não escrevemos para ganhar dinheiro ou ficarmos famosas. Escrevemos porque precisamos, porque sentimos e nos motivamos e queremos nos manifestar. Eu, especialmente, escrevo também porque gosto de dialogar com gente que pensa como eu — e me faz sentir menos ET no mundo –, e com gente que pensa diferente de mim — e me ajuda a aprender muito, o que acaba me levando a novos textos. Eu escrevo porque, pra mim, a mágica está na interação, e foi escrevendo que conheci e mantive metade das pessoas que tenho na minha vida hoje.

Então, alguns textos terão dez mil visualizações, outros terão dez. Mas o que me guia vem antes disso e o que me mantém vem independente disso. Li recentemente (cito de memória) que nós somos inseguras porque comparamos nossas cenas de bastidores com o momento de brilho dos outros. Eu aprendi a acreditar que, na verdade, é exatamente nos bastidores que nós brilhamos mais.

Quem quiser me acompanhar no Medium, tô aqui ó: Laura Pires. Dar coraçãozinho verde nos textos sempre aquece meu coraçãozinho vermelho e também ajuda a divulgá-los.

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Laura Pires

Escrevo sobre relações de afeto. Instagram: @_laurampires . Contato profissional: contato.laurampires@gmail.com .