Sobre papéis e memória
zines de quinta #1
Desde o final de janeiro estou compartilhando a minha (ainda pequena) coleção de zines, revistas e outros tipos de publicações independentes no Instagram da Mulheres que Escrevem. Sou uma pessoa apaixonada por papel — mas não sou a caduca analógica que renega e-books, pelo contrário, acho que há espaço e possibilidades para todos os meios de publicação. É uma paixão que faz parte da minha história, meus pais são educadores e minha mãe, especialmente, é uma pessoa que vive em torno de papéis. Foi ela quem me deu meus primeiros gibis, antes mesmo que eu soubesse ler, e me ensinou a ter esse apego insensato a um material tão frágil. Da minha infância até a adolescência, eu era a louca dos jornaleiros, acumulando revistas, mangás, figurinhas… Com a idade e as novas possibilidades que a internet trouxe, fui descobrindo que o repertório dessa mídia mais tradicional não me interessava mais. O hábito de visitar jornaleiros morreu, mas ficou uma saudade de acumular papéis e folhear páginas . Acho que foi em busca dessa sensação que inventei essa nova coleção. As zines e suas primas são os meus gibis possíveis agora, com quase 28 anos. Cada um desses papéis guarda uma lembrança, um passeio, uma feira, um presente e o contato com as artistas que lhe deram vida. Falar sobre zines é também apostar em modo de pensar e fazer literatura que pode ser mais dinâmico, independente e livre de amarras. As Zines de Quinta é, então, meu jeitinho de falar sobre alguns papéis e suas memórias.
anteontem — Priscilla Menezes
Conheci a Priscilla Menezes em abril do ano passado no evento Poetas de 2 Mundos que acontece periodicamente na Livraria Travessa de Botafogo. Lembro que fiquei muito impressionada com o poema “colisão”. Ao fim do sarau, entre o cansaço e o susto, troquei algumas palavras com ela e levei sua zine “anteontem”, minha companhia no metrô até minha casa. A surpresa de “anteontem” foi descobrir que além de versos precisos, Priscilla também cria desenhos sensíveis e fortes que parecem expandir o repertório de imagens possíveis no mundo.
Você pode conhecer mais sobre o trabalho da Priscilla em seu blog Erro Tácito ou comprando seu livro homônimo, publicado pela editora Patuá.
Leia também seus poemas publicados aqui na Mulheres que Escrevem.
Grampo Canoa — Luna Parque edições
Comprei minha primeira Grampo Canoa em 2016 quando dois poemas da Estela Rosa foram publicados na terceira edição da revista. Em janeiro deste ano, a Luna Parque lançou a quarta edição da Grampo na Terceira | Feira de publicações de poesia e não pude deixar de adquirir a minha. Como já disse, sou uma grande entusiasta de revistas. Gosto sempre de levar na bolsa alguma leitura possível e revistinhas são ótimas para quando você só vai dar um passeio e não quer carregar algo pesado. Além do seu formato simples e bonito, a Grampo tem um conteúdo impecável: poesias, ensaios, traduções e resenhas selecionadas por Marília Garcia e Leonardo Gandolfi, os editores da Luna Parque.
As edições anteriores da revista estão disponíveis para download no site da Luna Parque
Desconfio que meu coração é um pet shop — Ale Kalko
Ganhei essa pequena zine de presente da Estela. Só pelo título, já achei graça e me identifiquei. Guardei para mim a imagem de um petshop para definir a coleção de bichos indisciplinados que passam por um coração. Mas o melhor recado de Ale fica bem no final, em letrinhas quase escondidas. Desde, então, se não posso evitar a bagunça das feras, tento pelo menos poupar o tapete da minha integridade.
Conheça mais sobre o trabalho da Ale Kalko em seu site.
Grimório e Oroboro — Ju Gama
Em outubro do ano passado, fui na Papelada, feira de artes gráficas que rolou no Centro Cultural Municipal Laurinda Santos Lobo. Era uma dessas tardes gostosas de sol ameno e ventinho em Santa Teresa, a feira estava cheia de expositores com trabalhos maravilhosos (a Priscilla Menezes, inclusive) e entre eles estava a Ju Gama com suas zines e ilustrações expostas. Eu tinha me prometido não comprar nada porque estava duríssima, mas quando a Ju me falou da promoção de duas zines por R$15,00 não resisti e levei Grimório e Oroboro para casa. Acredito que essas zines são o resultado de estudos livres, sem métodos rígidos ou grandes conclusões, apenas formas de testar e compartilhar experiências em folhas soltas. Gosto de folhear esses cadernos sem amarras para roubar frases e me inspirar. As minhas preferidas são: “Todos os lugares são provisórios” e “se ela se interessava por eles é porque obviamente ela tem um pouco de cada um”.
Descubra mais sobre o trabalho da Ju em seu tumblr.
Para acompanhar as Zines de quinta, segue o nosso instagram! Toda quinta tem uma zine diferente no nosso stories ❤ Até a próxima!
A Mulheres que Escrevem é uma iniciativa voltada para a escrita das mulheres, que visa debater não só questões da escrita, como visibilidade, abrir novos diálogos entre nós e criar um espaço seguro de conversa sobre os dilemas de sermos escritoras. Quer saber mais sobre a Mulheres que escrevem? Acesse esse link, conheça nossa iniciativa e descubra!
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