Por trás da “Clássico é Clássico”: histórias curiosas de alguns objetos da exposição

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Foto Museu do Futebol | Pablo de Souza

Ei, você! Você que em dia de clássico coloca a camiseta da sorte, o pé de meia certo, aquela cueca ou calcinha que ajudou seu time a ganhar um campeonato. É, você mesmo que compra uma latinha de cerveja e oferece ao Santo, reza, acende uma vela vermelha, que só liga a TV quando vai começar a partida, que prefere assistir ao jogo sozinho para não dar azar, que no dia de todo grande clássico toma o tradicional café da manhã ouvindo Ogum do Zeca Pagodinho*. O Museu do Futebol preparou algo especial para você.

A exposição temporária “Clássico é Clássico e vice-versa” traz um pouquinho de tudo isso. Inaugurada em setembro de 2018, reúne vídeos, cantos de torcidas, curiosidades, além de uma grande vitrine com acervos que remetem a essa relação afetiva do torcedor com o time: camisas, ingressos, bandeiras, figurinhas, botões de futebol de mesa e até roupinha de criança.

Neste artigo, o Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB) apresenta a história de alguns desses itens que entraram na exposição, que fica em cartaz até 03 de fevereiro de 2019.

  1. Troféu da Moeda em Pé
Acervo Memorial do São Paulo. Foto Museu do Futebol | Rogério Alonso

Conta-se que durante uma reunião na sede da Federação Paulista de Futebol em março de 1943, presidentes de Palmeiras e Corinthians, times que dividiram os últimos títulos paulistas, diziam que o campeão daquele ano poderia ser decidido no cara ou coroa entre as duas equipes. Questionados sobre a possibilidade do São Paulo ganhar, responderam: “Só se a moeda cair em pé!”. Na última rodada, o SPFC ficou com a taça e os torcedores, em comemoração, confeccionaram um carro alegórico com uma gigantesca moeda em pé para desfilar pela cidade.
O troféu exposto foi produzido em 1993 para comemorar os 50 anos daquela conquista e presentear jogadores, dirigentes, sócios e até mesmo jornalistas da época. Lino Mancila, o Pardal, era o ponta-esquerda do time campeão.

2. Jogo de Botão de Mesa Estrela

Acervo Moacir Peres. Foto Museu do Futebol | Rogério Alonso

A Era de Ouro do futebol paulista viu os fantásticos times de Santos e Palmeiras dominarem o campeonato estadual entre os anos de 1958 a 1969. Produzido pela marca de brinquedos Estrela, este jogo de futebol de mesa foi inspirado nas escalações de 1961 das duas equipes. Esse foi o primeiro jogo de botões a trazer fotos de jogadores reais nas suas estampas.

3. Body infantil do Corinthians

Acervo Adla Ganam (Dadá). Foto Museu do Futebol | Rogério Alonso

Em 2015, Luan Sócrates acompanhou, com apenas 3 meses de idade, seu primeiro clássico de futebol na Arena Itaquera: um Corinthians e São Paulo. O nome não é um mero acaso. Adla Ganam, a mãe do doutorzinho— como ela carinhosamente o chama — , escolheu o segundo nome de Luan com o intuito de homenagear um dos maiores ídolos da torcida alvinegra. O body infantil listrado de branco e preto apenas marcaria o primeiro dos consecutivos encontros do menino com o time alvinegro na arquibancada.

4. Revistas Derbi

Acervo Fernando Pereira. Foto Museu do Futebol | Rogério Alonso

A revista em quadrinhos “Derbi” circulou em Campinas, cidade do interior de São Paulo, entre os anos de 1976 e 1981. Produzida artesanalmente por Márcio Tadeu Cordeiro Uchôa, era uma publicação bimestral com 32 páginas repletas de charges e referências ao clássico Guarani e Ponte Preta. Márcio era fã do cartunista Henfil e também publicava seus desenhos na coluna Botinada do Jornal de Hoje.

5. Taça Saul Oliveira

Acervo Memorial do Figueirense. Foto Museu do Futebol | Rogério Alonso

Esta taça foi entregue ao Figueirense após a conquista do Campeonato Catarinense de 1999, o décimo terceiro da história do clube. A vitória, após dois jogos e uma prorrogação em 0x0 contra o Avaí, quebrou um tabu de cinco anos sem títulos estaduais e marcou o início de uma arrancada histórica que levou o Figueira ao acesso à Séria A do Campeonato Brasileiro, em 2001.

6. Bandeiras da Máfia Azul e da Galoucura

Acervos das torcidas Máfia Azul e Galoucura. Foto Museu do Futebol | Pablo de Souza

Quando o Cruzeiro ganhou o seu segundo título na Supercopa em 1992, uma das ramificações da torcida organizada Máfia Azul, o Comando Guerreiro do Eldorado, resolveu adotar a foto de Ernesto “Che” Guevara como símbolo da torcida, em um misto de ideologia e identificação com o personagem revolucionário. Em oposição à figura adotada pelo rival, a maior organizada do Atlético Mineiro, a Galoucura, passou a estender a bandeira do ditador boliviano René Barrientos. A torcida do Galo alega não entrar no mérito político de quem foi Barrientos e explica que foi apenas uma escolha pautada na rivalidade entre os clubes (Indicação de leitura: “Na berlinda da rivalidade”, do Puntero Izquerdo).

7. Roupa de aviador do Sinho

Acervo Idenilson França Brito (Sinho). Foto Museu do Futebol | Rogério Alonso

Torcedor do Esporte Clube Vitória, Sinho é conhecido por sua excentricidade na hora de escolher as roupas para acompanhar os jogos do clube. Além das tradicionais camisas de futebol, em jogos de destaque, como os decisivos para subir de divisão, o torcedor adota vestimentas especiais, como a fantasia de soldado — com direito a capacete de elmo, espada e escudo. Foi assim que adotou uma outra fantasia, em um misto de rivalidade e gozação sobre seu rival, o Bahia. Enquanto os torcedores do tricolor baiano almejam subir de divisão de elevador, em uma menção direta ao Elevador Lacerda de Salvador, o primeiro elevador urbano do mundo, Sinho, em 2012, passou a se vestir de um novo personagem: um comandante que conduzisse o Vitória a subir, mas de avião.

8. Pocket Movie

Acervo André Vendramini Pires. Foto Museu do Futebol | Rogério Alonso

André Vendramini, corintiano roxo, herdou da família um pocket movie de 1965 que, através de uma sequência de fotos, revela o gol feito pelo jogador alvinegro Flávio aos 41 minutos do primeiro tempo contra o Peixe. Num período em que ainda não havia internet para que os torcedores rememorassem os jogos, foi o gol corintiano que acabou eternizado nas fotografias do documentarista ítalo-brasileiro Primo Carbonari, apesar do placar de 4 a 2 a favor do Santos. O jogo acirrado deixou a torcida corintiana à flor da pele e terminou com uma sequência de agressões entre torcedores e repressão policial.

9. Osso

Acervo Memorial do Corinthians. Foto Museu do Futebol | Rogério Alonso

Em 13 de maio de 1918, antes de mais uma partida entre Palestra Itália e Corinthians, jogadores alvinegros almoçavam em um hotel na Rua Boa Vista, quando um grupo de torcedores alviverdes arremessaram um osso de boi com um bilhete contra os atletas. No bilhete estava escrito, “O Corinthians é canja para o Palestra”. Após o empate em 3 a 3, os corintianos escreveram no artefato: “Esse osso era para a canja. Mas não cozinhou por ser duro demais”.

10. Penas de galo

Acervo Memorial do Corinthians. Foto Museu do Futebol | Rogério Alonso

O último jogo do clássico Corinthians e Palestra Itália no Parque São Jorge foi marcado por provocações de ambos os lados. No jogo que ocorreu em 18 de agosto de 1940, um torcedor palmeirense levou um galo colorido de verde para inflamar o espírito de rivalidade. Com a vitória do Alvinegro por um placar de 2 a 0, os torcedores corintianos, no furor da conquista, depenaram o galo levado pelo palestrino. Por meses, alegres corintianos desfilaram pela cidade exibindo penas verdes nos chapéus, paletós e camisas.

*As citações usadas nesse trecho são baseadas em fatos reais: tudo isso faz parte da rotina de torcedores que compõem a equipe do Museu do Futebol. Agradecemos a contribuição especial de Ariana Marassi, Mariana Chaves e Marcus Ecclissi.

AUTORIA

Este texto é de autoria de Dóris Régis e Ligia Dona, do time do Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB) do Museu do Futebol.

SERVIÇO

Museu do Futebol | ExposiçãoClássico é Clássico e vice-versa”
De 29 de dezembro de 2018 a 03 de fevereiro de 2019
Estádio do Pacaembu | Praça Charles Miller, s/n
Aberto de terça a domingo, das 9h às 18h (bilheteria até às 17h)
Nos dias com jogos no estádio, consulte nosso site.

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Centro de Referência do Futebol Brasileiro
Museu do Futebol

Núcleo do Museu do Futebol dedicado a produzir, reunir e disseminar pesquisas e curiosidades sobre o futebol no Brasil.