Diário de Biologia: volte a falar de bichinhos, deixe nutrição e saúde com quem entende.

Eduardo Pacheco
Senciência com ciência
14 min readJun 25, 2016
As maiores causas de morte: nenhuma delas é causada por veganismo e muitas são evitadas por ele.

A primeira coisa que me vinha à cabeça sobre ciência quando eu era criança era a imagem do Beakman ou do Dexter. Eu lembro que enquanto as outras crianças brincavam de bola eu gostava mesmo é dos microscópios. Colocava folhas, asas de inseto que encontrava por aí e qualquer coisa que eu pudesse ver mais de perto naquelas lentes.

Ganhei aqueles kits de química em idade bem inferior à permitida pela caixinha porque sou desses que vivem perigosamente nesse mundo selvagem da descoberta, me julguem. Eu adorava sair descobrindo coisas mesmo com aquela caixinha me dizendo pra ficar longe até ter doze. Acho que no fim todo cientista tem um quê de anarquista. Eu seguia às instruções dos cartões de experimentos mas gostava mesmo é de sair testando coisas nos tubos de ensaio. Puxa, isso é um ácido! Vou colocar um prego e ver isso derreter! E para minha frustração e bem da minha educação , não derretia. Assim, com oito anos eu já sabia que muito do imaginário comum sobre ciência ( como ~ácido~, essa entidade abstrata, derreter coisas instantaneamente) é simplesmente mito.

Eu criei uma concepção de espírito questionador e busca busca pela verdade da imagem do cientista. Como os cientistas eram legais! Enquanto familiares me empurravam religião goela à baixo os professores me contavam coisas sobre as estrelas, os povos do passado e por que raios é “de” noite no japão enquanto é “de” dia aqui.

Cresci e fui à faculdade. Lá, muitas das coisas que aprendi até então foram impiedosamente destroçadas. Enquanto os professores falavam e as minhas crenças eram destruídas estava lá eu com os olhos brilhando e ouvindo tudo com atenção. Sensação paradoxal, ao mesmo tempo benéfica e danosa. Benéfica porque admite rever as próprias convicções. Danosa porque atribui ao outro a autoridade de fazer isso sem lá muito rigor metodológico.

Por desses escorregões do destino precisei aprender metodologia científica , lógica, dialética. E comecei a notar que as vezes os próprios professores falavam coisas sem o menor fundamento. Quanto mais perto eu ficava das fontes originais ( os artigos) mais eu me familiarizava com eles. Mais me acostumava com a dinâmica da ciência e mais eu questionava. E com a internet, essa linda, a gente simplesmente podia pegar os artigos na fonte( e quando não podia o sci-hub faz a gente poder) e entender o diacho do estudo que foi feito para chegar à conclusão anunciada. E é espantoso ver quanto erro metodológico aparece até em artigos científicos.

E depois dessa trajetória iniciada com Beakman, microscrópios com folhas, pregos-não-derretendo e alguma frustração na universidade pude conhecer de perto muitos cientistas. Alguns que eu admirava porque via na TV ou lia sobre em alguma revista. E notei o quanto eles são pessoas comuns, com interesses, crenças, achismos. A sociedade nos ensina que eles são instituições mas, a rigor, ainda são pessoas e bem falhas. O tempo passou e fui para a ciência de dados.

O trabalho de um cientista de dados tem aquilo que é mais central na ciência: o teste das hipóteses, o rigor metodológico e um puta suporte fático. Sem dados e método o conhecimento substancial é só um apanhado de dogmas que são repetidos sem lá muito critério. Quem frequentou os bancos de uma universidade sabe o quanto é ilusório aquele imaginário comum sobre os cientistas: no dia a dia aquele que , uma vez formado, baterá no peito se dizendo cientista, lerá resumos para fazer as provas e passar com 5 . E cinco, ou a média que for, faz você passar. Só não faz você se tornar, de fato , um cientista.

E quando você é acostumado a fazer testes massivos de hipóteses, a encontrar coeficientes de correlação, covariância, a acompanhar duplo-cegos e estudos longitudinais e o diabo é extremamente frustrante ler em uma página dita de divulgação científica que a fonte é mudaomundo, movenotícias, bbc ou zap.aeiou . Zap A-E-I-O-U!!1onze!! Eu tive que aguentar meio quilo de merda virtual despejada do site Diário de Biologia para a tela do meu computador e indo parar impiedosamente nos meus olhos, sem a prerrogativa de desler, para só então saber que a fonte era ZAP A E I O U.

Isso explica a enorme introdução: a preocupação com o que seja ciência por parte de quem reivindica o status de cientista é simplesmente zero . Colocar um banner vestindo avental, com microscópios e tubos de ensaio é cool. Agir como cientista de verdade, aí, irmão, já é vandalismo.

O que motivou esse artigo aqui é a matéria do site Diário de Biologia dizendo que veganismo traz riscos à longo prazo. Artigo é um nome forte, que pressupõe alguma pesquisa prévia e mínima articulação na comunicação do conteúdo. Aquilo é uma colcha de retalhos de fontes não científicas que recebe o carimbo CIÊNCIA quando colocado em um site com imagens de microscópios e que invoca aquele imaginário tão comum quanto falso.

O artigo está aqui. O título é : Dieta vegan que restringe, rigorosamente, proteína animal, pode causar graves problemas de saúde a longo prazo.

E já começa errado por aí.

A matéria basicamente acusa a dieta vegetariana estrita de ser danosa à saúde. Vou resumir os absurdos contidos lá, como de costume, e respondo em seguida.

  1. A dieta vegetariana estrita é menos saudável.
  2. Falta proteínas , vitaminas e minerais aos vegans
  3. O desenvolvimento do cérebro e da capacidade cognitiva se deu graças a carne

Às respostas :) .

A dieta vegetariana estrita é menos saudável

Eu gostaria de apresentar um amigo íntimo que eu tenho à Dra. Karla Patrícia porque obviamente não se conhecem. Chama-se fonte científica. A amizade de vocês seria bastante proveitosa, juro. Uma delas que gosto muito é o Pubmed, que reúne uma série de artigos e papers na área da saúde. Aprecie sem moderação.

A dieta vegetariana estrita é amplamente recomendada por reduzir a incidência de doenças como câncer e doenças cardio-vasculares, campeãs em causa mortis endógenas. Estudos para isso não faltam. Esse estudo aqui conclui que a dieta vegetariana é útil para prevenir câncer. Aliás, se quiserem ver quilos de estudos sobre isso eu fiz esse artigo aqui com uma caralhada de fontes, divirtam-se.

Essa outra pesquisa aqui avalia a absorção de macronutrientes e o Índice de Inflamação Dietético (Dietary Inflamatory Index) e conclui que dietas veganas trazem melhoras no curto prazo tanto a absorção de macronutrientes quanto o no índice de inflamação.

Vegan, vegetarian, and pescovegetarian participants all saw significant improvements in the DII score as compared with semivegetarian participants at 2 months (Ps < .05) with no differences at 6 months. Given the greater impact on macronutrients and the DII during the short term, finding ways to provide support for adoption and maintenance of plant-based dietary approaches, such as vegan and vegetarian diets, should be given consideration.

E tem também as proteções contra doenças cardíacas e diabetes.

O primeiro estudo que cito aqui sobre veganismo e doenças cardíacas , metade ( 21) da amostra composta por onívoros e metade(21) de veganos. Ele conclui que :

a vegan diet may have a beneficial effect on serum lipid profile and cardiovascular protection

Esse outro estudo analisa várias bases de dados sobre pacientes com doenças cardíacas e câncer e conclui efeito protetivo significante , conferindo redução de 25% sobre doença cardíaca isquêmica em vegetarianos e 8% de redução na chance câncer total. Vegans reduzem 15% a incidência de câncer total.

This comprehensive meta-analysis reports a significant protective effect of a vegetarian diet versus the incidence and/or mortality from ischemic heart disease (-25%) and incidence from total cancer (-8%). Vegan diet conferred a significant reduced risk (-15%) of incidence from total cancer.

Esse estudo vai mais longe. Compara dieta vegana e dieta vegana regrada ( quem come direitinho, chamado aqui de dietary portfolios) com as recomendações habituais da American Diabetes Association (ADA) e da National Cholesterol Education Program (NCEP). O resultado é que a dieta vegana é melhor que as dietas prescritas por sociedades de médicos até então sobre diabetes e doenças cardíacas.

The main findings are that traditional vegan diets appear to improve glycemic control better than ADA diets in individuals with type 2 diabetes mellitus (T2DM), while dietary portfolios have been consistently shown to improve blood lipids better than NCEP diets in hypercholesterolemic individuals.

Reparem no nome do estudo: veganismo é uma alternativa viável às terapias dietéticas convencionais para melhorar os lipídios sanguíneos e controle glicêmico.

Alguns estudos epidemiológicos, aliás, cairiam muito bem à Dra antes de criar alarde sobre riscos da dieta vegana. De fato, vivemos mais. Olha só o que diz esse estudo chamado What are the roles of calorie restriction and diet quality in promoting healthy longevity? :

However, it is possible that some of the beneficial effects on metabolic health are not entirely due to CR, but to the high quality diets consumed by the CR practitioners, as suggested by data collected in individuals consuming strict vegan diet

Há outros estudos relacionando a menor incidência de obesidade , menores índices de stress e ansiedade e mortalidade total. Do estudo Beyond Meatless, the Health Effects of Vegan Diets: Findings from the Adventist Cohorts:

Vegetarian diets confer protection against cardiovascular diseases, cardiometabolic risk factors, some cancers and total mortality. Compared to lacto-ovo-vegetarian diets, vegan diets seem to offer additional protection for obesity, hypertension, type-2 diabetes, and cardiovascular mortality. Males experience greater health benefits than females. Limited prospective data is available on vegetarian diets and body weight change.

Diante desses estudos eu realmente gostaria de saber qual é o conceito de saúde invocado pela respeitável doutora em Zoologia responsável pelo site Diário de Biologia, dado que o veganismo protege contra a maior parte das causa mortis modernas. Vamos ver o que dizem os dados do relatório da OMS sobre as causa mortis:

Fonte: Organização Mundial de Saúde

Recomendo fortemente que acessem as fontes. Notem uma coisa: O veganismo ajuda a proteger a sua vida em todos os fatores endógenos, ou seja, tudo aquilo que é desenvolvido pelo seu corpo naturalmente ou por conta da alimentação. AVC, doença cardíaca isquêmica, hipertensão, cânceres. Só não dá pra proteger muito de acidentes de trânsito por motivos óbvios. Mesmo a diarreia, porém, pode ter uma menor incidência em veganos por conta da melhora do Dietary Inflamatory Index que citei nesse texto.

Eu gostaria muito de saber no que é que o veganismo colabora para a mortes. Quero nome de doenças e dados. Porque estou aqui com os números das doenças que mais matam e a dieta vegetariana estrita protege contra elas.

Cadê dados? Vejo muita bosta e zero fontes na postagem do Diário de Biologia. A Doutora disse que nós juramos de pés juntos que a dieta vegetariana é saudável enquanto “especialistas alertam dos riscos”. Especialistas assim, jogado desse jeito, vagamente e sem fontes. Bem, diante dos dados eu posso dizer que sim, juro de pé junto.

É importante saber que a despeito das risíveis fontes que a Dra citou a Associação Dietética Americana(ADA) recomenda a dieta vegetariana e reconhece seus benefícios.
Como eu sou desses que tem mania de citar as fontes vejam diretamente no original antes de sair repetindo besteiras como a nossa amiga que se apresenta como cientista, façam o favor.

também estudos comentando essa recomendação , vejam se puderem. A dieta vegetariana estrita é recomendada até para a gravidez e lactação, que normalmente exige cuidados.

Além da ADA a sociedade Dietética do Canadá também se posiciona publicamente em favor das dietas vegetarianas estritas, bem como a Sociedade Vegetariana Brasileira, que fez um ótimo artigo cheio de fontes para cientista ( de verdade) nenhum botar defeito. Quarenta e quatro fodendo fontes : e quando eu falo fonte eu não estou dizendo ZAP ponto aeiou.

Falta proteínas, vitaminas e minerais nos vegans

O veganismo é um produto da modernidade e só é possível recentemente. O que significa que se você for vegan vai sim precisar suplementar B12. Esqueça esse papo de kephir , de que orgânicos tem B12 suficiente e que alimentos hoje não contém B12 porque tratamos com inseticidas nas plantações. É balela. A OMS já soltou um relatório dizendo que em poucos anos não teremos nenhum antibiótico capaz de controlar bactérias ( vamos lembrar que a pecuária usa antibióticos em larga escala para fins de produtividade então a culpa é do seu bife sim).

É uma guerra injusta: você faz um antibiótico em, sei lá, oito anos, e a bactéria se adapta a ele em bem menos que isso em alguns casos ( e vai lá o gênio e joga isso em escala industrial em bois pra vender mais carne). O que te faz pensar que um pesticida seria responsável por aniquilar a flora capaz de produzir B12? Come on.

Isso posto sim, precisamos suplementar B12. E é isso. Finito. Não tem mais segredo. B12 você consegue em capsulas na farmácia ou enriquecido na comida. Até leitinho de soja vem enriquecido com B12 então parem de fazer alarde. De resto é simplesmente mentira.

Sobre cálcio, ferro e ômega 3 deixo aqui alguns vídeos didáticos do Dr Eric Slywitch, nutrólogo com CRM SP 185.231. Lembra aquilo que eu falei sobre citar um genérico “especialistas alertam dos perigos” ser tosco? Bem, em ciência eu preciso ter o que atacar. Preciso ter uma afirmação falseável, preciso ter a quem me dirigir. E aqui está, o Dr Eric coloca o dele na reta e eu também coloco o meu. Se eu estiver mentindo me processem.

Os vídeos sobre o cálcio vão do 14 ao 17. Recomendo fortemente que assistam aos vídeos. Por favor, nunca te pedi nada.

Dr Eric Slywich sobre o cálcio . Vejam os vídeos até o 17 please.
Dr Eric Slywich sobre cálcio em veganos

Proteínas. Eu me recuso a acreditar que preciso falar sobre proteínas a uma bióloga em pleno 2016 , ainda mais no termo cheio de ideologia e vazio de significado que é o tal “proteína animal”. Seu corpo fiscaliza a origem das proteínas por acaso? Precisamos de algum aminoácido não presente em vegetais ? Qual é esse aminoácido? Diferente dos felinos nós não precisamos de taurina e creatinina externa. Também somos capazes de produzir ácido araquidônico ( presente na carne) a partir do linoléico (um tipo de ômega 6). Qual é o fodendo sentido em se dizer que precisamos de “proteínas animais?”.

Vamos lá, professora, aulinha de biologia do ensino fundamental. O alimento entra na cavidade bucal, sofre ação mecânica e é destroçado. A pitialina ou amilase salivar faz uma primeira quebra dos carboidratos. O bolo alimentar passa pela faringe , vai ao esôfago , cai no estômago. A pepsina age nas proteínas ( lembrando: adultos não sintetizam renina então parem de tomar leite que isso é coisa de bebês) e quebra em oligopeptídeos. O bolo sofre ação da bile que emulsifica as gorduras para, finalmente, no duodeno receber um coquetel de substâncias que continuam quebrando o alimento. Entre elas a tripsina e, adiante, a quimiotripsina. Aquelas ligações peptídicas vão para o saco e o que sobram são só os aminoácidos.

Se liga nesse Fordismo ao contrário: o alimento passa por uma linha de desmontagem e no final das contas o que vamos ter são os nutrientes essenciais como monossacarídeos, ácido graxo e glicerol e os aminoácidos componentes das proteínas. Não interessa de onde eles vieram , contanto que você tenha os aminoácidos na proporção adequada pode ficar tranquilo.

Cadê o “proteína animal”? Seu corpo não sabe da sua concepção sobre o que seja um animal e um vegetal. Ele entende bioquímica (toca aqui corpo! o/ ), ao contrário de certos cientistas por aí. Ele entende de quebrar ligações peptídicas e de pegar aminoácidos: não interessa pra ele se veio do feijão, que tem um aminograma parecido com as carnes, ou da carne.

Deixo aqui mais um vídeo do Dr Eric, esse sobre proteínas. Não há sentido em dizer que precisemos de carne, isso é histeria coletiva.

Proteínas:Compare diferentes alimentos. Use fontes confiáveis. Mostre os dados. Isso é ciência.

Sobre o ômega 3 é a mesmíssima coisa. Tem ótimas fontes vegetais de ômega 3 como a linhaça e a chia. O óleo de soja tem também, só evite fritar esse negócio, aliás evite fritar qualquer coisa.

Ômega 3 , comparando peixe e linhaça. O time dos vegetais debulhando suas crenças ❤

O desenvolvimento do cérebro e da cognição se deu graças à carne

Cada vez que alguém que se diz cientista dá uma declaração sem fontes, dados e completamente dissociada do conhecimento do nosso tempo um neurônio ( dele) tem uma morte horrível. Por favor, salvem os neurônios : um pouco de ceticismo e respeito ao próximo não fazem mal a ninguém.

A pessoa alega que a carne foi fundamental no desenvolvimento do cérebro. Em um artigo que alerta dos perigos do veganismo. Consegue em uma só tacada blasfemar contra a lógica e a ciência.

Vamos primeiro à ciência. É especialmente incômodo ouvir isso de biólogos , simplesmente porque isso não tem o menor fucking sentido com o que eles mesmos dizem todo santo dia nas aulas que dão para seus alunos. Quer ver?

Como se dá , na esmagadora maioria dos casos, a “evolução”? A adaptação das espécies, que chamamos bem grosso modo de evolução, se dá por um mecanismo de seleção natural, descrito pelo naturalista inglês Charles Darwin.

O que Darwin diz? Nas clássicas aulas sobre a evolução há a contraposição da teoria Lamarkista dos caracteres adquiridos por uso e desuso com a teoria da seleção natural de Darwin.

Bem resumidamente é assim: Lamark acreditava que os pescoços das girafas eram grades porque elas precisavam se esforçar para alcançar as folhas mais altas nas árvores. Esse esforço fazia o pescoço crescer ( o que pode ser verdade em algum grau), e esse crescimento do pescoço era transmitido à prole. Lamark supunha que aquilo que você fizesse em vida seria transmitido aos seus filhos.

Darwin contrapôs essa ideia dizendo que na população , naturalmente, havia girafas de vários tamanhos de pescoço. Com a falta de comida, aquelas que podiam comer as folhas mais altas sobreviviam e aquelas que não tinham pescoções morriam de fome. As girafas pescoçudas, então, deixavam descendentes e é assim que a característica era transferida à geração seguinte. A característica vantajosa, então, já estava presente na girafa e foi selecionada por pressão ambiental.

O que diz a nossa amiga do Diário de Biologia, porém? Diz que o cérebro se desenvolveu com o consumo de carne. O que ela não diz é que não é assim que a adaptação das espécies funciona.

Ainda que a carne pudesse explicar um maior desenvolvimento do cérebro de alguém ( e não explica) , isso não seria transmitido à prole já que é uma característica exógena, assim como fazer musculação pra cacete e ficar um brutamontes não faz o meu filho ser um rambinho. Ele tem meus genes e a pressão ambiental, boa sorte, Marvin, agora é com você.

O que pode explicar o desenvolvimento do cérebro é a caça, não a carne. A caça era uma atividade perigosa, de vida ou morte, que dependia da inteligência do humano caçador. Funcionava então como pressão ambiental de seleção dos mais aptos. Os humanos mais inteligentes conseguiam caçar e não serem caçados, deixando descendentes. Os mais sonsos morriam. Essa explicação renderia um abraço do nosso amigo Darwin.

Há! Você admite então que comer carne é bom, certo? Errado, Padawan. Há ainda dois problemas aqui. O primeiro é que a caça não é mais um mecanismo de seleção natural, já que o homem moderno não caça. Temos um montão de atividades que desenvolvem a cognição que vão desde brincar, viver em sociedade, escrever, ir à escola, trabalhar. A caça não ajuda em nada, muito menos a carne.

Além disso, a Dra. incorreu na Falácia do Apelo à Tradição, que é aquela que diz que porque algo foi necessário ou bom isso deve continuar a ser feito hoje, em um cenário completamente diferente que não impõe essa necessidade. E isso é mentira.

Fiz em outro artigo a análise de um gene induzido por dieta vegetariana, ainda, que favorece a produção de ácido araquidônico , que desenvolve o cérebro em fetos, podem checar.

É isso aí amiguinhos. É assim que funciona: cada vez que alguém usar de informações sensacionalistas e/ou falsas como se ciência fosse vai passar vergonha. Espero sinceramente que a página Diário de Biologia se retrate pela matéria postada. Se o fizer faço um artigo agradecendo. Do contrário vou recomendar que não vejam mais as besteiras publicadas ali porque não precisamos de fontes se passando por ciência sem agir à altura.

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