Ensaios da Madrugada: a gordofobia também nos coloca no armário
Quem nunca fez uma brincadeira por conta do peso de outra pessoa?
Preciso começar esse texto assumindo a minha condição de gordo. Sempre fui acima do peso ideal para a minha altura e idade e, até poucos dias atrás, essa questão sempre foi um motivador para estima baixa e uma constante afirmação de que sou feio.
Estava escutando algumas versões da música Love on the Brain, da Rihanna, quando me deparei com este vídeo:
O roteiro, os comentários e a atriz deste vídeo me fizeram ter noção de como a gente se enfia no fundo de um armário quando se é gordo. A gente não se aceita. Se acha feio. A gente não existe de verdade. Ninguém presta atenção em uma pessoa gordinha, a não ser por motivos de chacota ou pelas razões erradas.
No Tinder, a gente escolhe as nossas melhores fotos. A gente corta boa parte do corpo, usa fotos estilo 3x4 pra documento. A gente não preenche o campo de altura e peso. A gente tem vergonha de assumir quem é.
Assista o vídeo que você vai entender.
É culpa da sua piada, da sua pena
Thelma, uma amiga minha do Facebook que se declara como ex-gorda, contou-me que certa vez estava na fila do buffet, na frente de três rapazes. Quando chegou sua vez de pegar, escutou os três cochichando: “Ih, dançamos, a gorda vai pegar toda a batata frita”.
“Ah, mas eu não sou gordofóbico. Foi só uma piadianha”, eles diriam. Será mesmo que essa piadinha que é tão inofensiva pra eles não tem nenhuma consequência? Quantas são as pessoas que não curtem ficar com gente gorda? Quantas amizades existem sem que o peso da pessoa não seja usada em alguma piadinha ou em alguma frase de pena?
Tudo isso faz a gente se sentir feio. Faz a gente ter vontade de ser outra pessoa. Tira a nossa coragem de ser real. Thelma concorda comigo: “Isso é muito triste. Você vira piada, vira ponto de referência na rua. E parece que você é um perdedor, mesmo sendo bem sucedido na vida. ‘ah, mas viu a fulana, que tamanho ficou’. E para as mulheres é pior ainda”.
As piadas, a pena e a gordofobia nos colocam no armário, causam depressão. Eu li um textão da Julia Bevilaqua no Facebook que discute muito bem esse triângulo.
Para finalizar, cito um trecho que me toca: “ A gordura é tratada como um grande defeito que necessita de compensação, eufemismo, explicação, preocupação. As pessoas esquecem que por baixo dessa pele com estrias, celulites, cicatrizes, tatuagens e marcas de todo tipo, existe um ser humano que merece e precisa de empatia, que tem sensibilidade”.