Finalmente entrei no Vermelinha

Daniel Borges
na calçada
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3 min readJul 26, 2023

Moro — do verbo morar, não confundir com o juizeco-voz-de-marreco-lavajateco — há três anos no centro de Vitória. Realizo uma vontade que me consumia desde 2014, ano em que cheguei da pequena Guaçuí, sul do estado, na divisa com o Estado do Rio de Janeiro, via simpática Natividade.

Consegui chegar ao centro em 2020, justamente o ano pandemônico. O primeiro endereço foi na Barão de Monjardim (A Gruta da Onça). Foram só três meses até começar, em março, o apocalipse viral. Saí desse local, de forma nada tranquila em abril de 21, inclusive contei aqui a t̶r̶a̶g̶é̶d̶i̶a̶ história. Desde então sigo ainda no bairro, agora, na Avenida Presidente Florentino Avidos, entre o Parque Moscoso e a Vila Rubim.

A rua que corta a minha, a 23 de Maio, é marcada por toda sorte de estabelecimentos num curto espaço. De Casas Franklin à RB Garagem — lavador de carros que tentei ser cliente, mas nunca vi aberto. Vizinhos garantem que funciona. Tem Pet Shop, Assembleia de Deus, estacionamento e a incrível e famosa Noite Perfeita lingerie, com DEZENAS de manequins vestidas com as peças, expostas na vitrine que ocupa dois andares do prédio(!). No meio do caminho, a banca do bicho — loteria popular — me guia ao destino que encabeça o título.

Não se deixe enganar, o bar é grande.

Passava pela calçada de olho comprido, namorava o local, mas não entrava. No último sábado isso acabou. Finalmente entrei no Vermelinha Bar, Lanchonete e Restaurante. Que lugar. Legítimo butiquim — chamá-lo de raiz é redundante. Já te ganha na entrada com azulejos portugueses de fora à fora no enorme corredor que dá forma ao salão. Cardápio do dia logo na entrada, escrito na parede, como deve ser. Carne-seca com linguiça no feijão, dobradinha, fígado de boi e bolinhos de carne. Fora o PF cheiroso que vi passar — Prato Feito, hein?! Não confudir com um Polícia Federal, até porque o mínimo que se espera é perfume e higiene em dia, considerando os altos rendimentos.

Belo balcão, longo, com as clássicas banquetas redondas. Tudo bem cuidado. Antes que alguém fale, vale lembrar: o termo pé-sujo em nada ofende o local, até porque a referência é aos pés dos usuários e não aos butiquins. O butiquim é para todos os pés.

Fui de carne-seca, servida com generosidade e preço justo. Bebi umas brahmas geladaças e soltei a musculatura com um gengibre batido com Ypióca.

Crédito: Daniel Borges

Mesmo com os cotovelos enferrujados, confesso, rapidamente me entrosei. O papo foi de “até quando o Botafogo vai segurar a liderança?”, passando pelo “dólar caindo mais que o Vasco” até “Essa ‘novela do agro’ começou bem, mas perdeu o gás”. Óbvio que a cota de contador de fake news foi preenchida com um “O luladrão vai cobrar o pix a partir de agosto” — com todos rindo e debochando, pra minha paz. Não errei ao entrar.

Em uma outra oportunidade entro no mérito da gerência. Spoiler: Bar sob comando da mesma família há 54 anos. Só nesse endereço são 30 e poucos.

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