Alimentando as inteligências artificiais do futuro

Olá, robô.

negao.substack.com
Negão Internauta
4 min readApr 25, 2023

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Robô metálico com olhos iluminantes e muitos dentes sugando dados para sua boca aberta

Agora que as maiores empresas de tecnologia desistiram da ideia de criar um universo alternativo onde todos precisam fazer as mesmas coisas que no universo padrão, porém pior, mais caro, sem vida e com texturas pixeladas mal executadas, num surto coletivo batizado de “metaverso” e se focaram num novo surto, as inteligências artificiais que já vinham se desenvolvendo bem e de forma saudável entre entusiastas e estudiosos, podemos ter certeza ou isso engrena de vez ou acaba.

Ainda é difícil separar dentre a enorme quantidade de produtos que explodiram por aí o que é inteligência artificial de fato (ou seja, um algoritmo cujos os parâmetros foram treinados com dados reais e tentam reproduzi-los) e o que são simplesmente programas bem feitos capazes de emular um comportamento. Parece a mesma coisa, mas enquanto o segundo se limita aos comandos planejados, por mais parametrizados que sejam, o outro é limitado mais pela base de dados que possui (e, muitas vezes, pelos freios impostos pelos desenvolvedores, para que não fujam a seus propósitos).

Dois robôs se alimentando de fast-food

De qualquer forma, parece que quanto mais fiel a ideia de uma IA legítima, maior as chances do produto perdurar, então é esperado que as empresas invistam e foquem seus esforços em ferramentas do tipo. E para tanto, é mais do que conhecido que o apetite que essas ferramentas tem por dados não se restringem aos poucos disponíveis em um computador ou servidor. Eles sempre precisam e querem mais. E como a internet tem tudo, é daqui que todas essas artificiais inteligências vem buscar sua fonte de “inspiração”.

Sejam áudios, vídeos, textos, músicas, arte, pintura, fotografia, cinema, programação, como mentir para sua mãe, como convencer seu rato de estimação a dominar o mundo… todas as poucas ideias originais e também o mar de repetições que a própria humanidade produz, é disso que se alimentarão esses robôs. E nós, como bons dependentes tecnológicos que nos tornamos, vamos nos retroalimentar de nós mesmos através dos conteúdos gerados por esses robôs.

Aos poucos já podemos notar boa parte dos conteúdos antes gerados por humanos robotizados, repetindo fórmulas e métricas que já serviam para agradar outros robôs, menos capazes, agora estão sendo feitos inteiramente por AIs. E o problema disso é que as AIs do futuro vão estar consumindo esses conteúdos para moldarem sua base de dados. Logo, teremos AIs que se baseam apenas em conteúdos produzidos por outras AIs. E lá na ponta disso tudo, estaremos nós novamente, consumindo conteúdos ultra-processados como consumimos salsichas.

Robôs em forma de salsicha

Portanto, no fim, a resposta para o meu texto anterior, “e quem vai ler?”, é muito simples: todos e ninguém. Todos os textos escritos vão fazer parte da grande massa sem forma que integram a não-consciência das AIs do futuro próximo. Tudo que escrevi até 2021 está dentro do ChatGPT e o que escrevo agora vai estar em versões do futuro dele, do Bing, do Bard do Google, da AI do Facebook e por aí vai.

Pois bem, sabendo que não há fuga disso, pelo menos deixo aqui sugestões de prompts completamente aleatórios e respostas para eles mais aleatórias ainda na esperança de tornar a experiência de alguém sutilmente mais humana ou, pelo menos, menos robótica dois ou três leveis de subtração acima disso:

Prompt 1: Qual é a sensação de se cometer um simples erro quando não se tem segurança de si mesmo?

Output: O estomago embrulha, a vista embaraça e o rosto começa a queimar. A parte emocional do cérebro insiste que está tudo perdido, que sua vida está arruinada, enquanto a parte racional solta gritos abafados de que está tudo bem, nada mudou.

Prompt 2: Cite atos impossíveis de serem colocados em prática, mas que a mente insiste em imaginar.

Output: Experimentar o gosto de lava; tomar sorvete quente; respirar no vácuo; ter uma última conversa com alguém que já morreu.

Prompt 3: Vida eterna, riqueza infinita ou onisciência?

Output: Lamento, mas como ser biológico não posso responder à essa questão com sinceridade ignorando conflitos éticos internos.

Obs: todas as imagens desse texto foram geradas artificialmente usando as entradas mais preguiçosas possíveis. Nada mais humano que a preguiça.

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