[Review] Flying Witch

Felipe Massahiro
Nerd / Articles
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5 min readJun 28, 2016

Com um ritmo vagaroso, bonito e divertido, Flying Witch é um anime bem diferente e que lembra uma mistura de Non Non Biyori e um pouco do sobrenatural a la xxxHOLIC.

Diferente de um anime de magia e sobrenatural com tramas complexas, ação ou drama, Flying Witch é exatamente o oposto de tudo isso. É um anime com desenvolvimento lento, sem objetivos e bastante inocente e divertido em sua trama: o cotidiano. Por esse motivo, talvez — e felizmente — não seja um anime que irá agradar muitas pessoas.

Felizmente porque é um estilo de slice of life diferente do que estamos acostumados. Da mesma forma que Non Non Biyori apresenta a rotina na vida das garotas no interior, que aparentemente parece chato e tedioso, mas que torna-se divertido e único sob um roteiro muito bem cuidado, Flying Witch mostra que a magia pode ser algo divertido e rotineiro, não apenas envolvido em ação, confrontos e tramas complexas.

Makoto Kowata é uma bruxa profissional que alcançou a maioridade. Para as bruxas uma pessoa é considerada adulta com 15 anos e deve partir para viver longe da família. Tendo isso em mente, sua família a enviou para a casa de seus primos Kei e Chinatsu Kuramoto.

Logo no primeiro contato Makoto já se apaixona pelo pequeno vilarejo cercado pela natureza. Ainda que inexperiente e sem muito senso de direção, as aventuras da pequena bruxa começam.

As aventuras são nada menos do que a rotina. Parece estranho, mas cada episódio é uma história na rotina de Makoto e seus amigos. Coisas simples do cotidiano como aula de culinária, preparar a terra para plantar vegetais, ir até a loja e encontrar no caminho alguns amigos, até coisas que entram no sobrenatural, como ir em um café disfarçado por magia em que a atendente é uma fantasma da era Meiji, observar uma baleia voadora que passa pelo vilarejo e subir nela.

O melhor que todos esses eventos sobrenaturais acontecem de forma tão trivial, tão natural, que são indistintas da rotina. Literalmente o anime faz com que a magia não seja algo todo especial, mas parte do dia a dia. Essa fluxo tão simples criam histórias belas, simples e muito divertidas. Não há um momento sequer de tédio na rotina dos personagens e isso é algo bem interessante do anime, pois as coisas mais simples tornam-se legais de se assistir. Tanto que em praticamente todos os episódios, o tempo passou tão rápido que quando o fim chegava, eu ficava surpreso com o pensamento “já terminou?” ou “o tempo passou rápido”. E acho que isso remete muito na realidade de qualquer pessoa que passa o tempo com uma conversa interessante ou fazendo algo divertido.

É um pouco da sensação que Non Non Biyori trouxe, mas também diferente, já que a temática ligada ao sobrenatural dá um tom único ao anime.

Outra coisa bastante interessante é que, mesmo com a ausência de uma trama central, de um objetivo principal para a série, Flying Witch consegue criar episódios com começo, meio e fim muito bem amarrados. Por exemplo, se a irmã mais velha de Makoto, Akane, no meio do episódio se teleporta para algum outro lugar, ainda que os eventos do anime aconteçam, a história volta para a irmã dela nesse outro local dando uma sequência paralela à história do episódio. Outro exemplo é na aula de culinária em que Makoto assa alguns biscoitos e acabam aparecendo em uma outra etapa ao longo do episódio.

Além da abertura e encerramento de cada episódio, há ainda ocasiões em que o fim de um episódio acaba dando sequência direta para a abertura do próximo, dando continuidade a história.

Esses pequenos detalhes no roteiro fazem com que o anime, ainda que não tenha uma trama central ou objetivos mais profundos, torne-se algo curiosamente prazeroso de se acompanhar, gerando até expectativas para o próximo capítulo na rotina dos personagens.

Somado a essa fórmula maravilhosa, a arte e a música do anime são simplesmente fantásticas. As animações e os traços são lindos, as cores são sempre vibrantes e alegres, assim como a música e os sons. Tudo que compõe Flying Witch é perfeito.

Longe de ser um anime de magia, de ação, de tramas complexas, drama e romances. Flying Witch é um anime pacífico, tranquilo e divertido que vai roubar umas risadas e também o coração de quem assistir. É o tipo de história vagarosa pelo qual qualquer um pode se apaixonar, relaxar e sorrir.

Para conseguir fazer algo tão diferente como um café de fantasmas e seres sobrenaturais parecer tão… natural, tão comum e cotidiano, é preciso de muito cuidado com a construção da história. Felizmente Flying Witch faz isso com maestria e consegue ser um slice of life bastante diferente e, em partes, necessário para a torrente de animes com roteiros mais complexos e de ritmo bem mais acelerados.

Flying Witch mostra que a magia, a bruxaria, é algo em partes especial, mas que é simples. O anime acompanha seu próprio ritmo, sua própria evolução. Não há conflitos, não há superações, mas sim a vida como ela é, com uma pitada de magia. No fim é uma história que reconforta o coração, pois mostra que todos nós temos nossa própria velocidade de crescer, de se desenvolver e que, quando essas diferenças são respeitadas, tudo fica mais leve, mais divertido e tranquilo.

Flying Witch é um retiro de paz de todo o caos e estresse que vivemos. Com certeza é um anime especial que merece a atenção de quem gosta do gênero, mas que pode parecer um anime muito lento e sem muito sentido para outros. Acredito que seja uma história mais para ser sentida do que para ser pensada ou refletida, ainda que existam elementos reflexivos bastante importantes.

Um deles, como mencionado, o de respeitar o tempo e desenvolvimento de cada um. Makoto é desajeitada e não sabe usar a magia muito bem. A sua irmã mais velha é um gênio nessa área, mas não cobra nada da Makoto, apenas ajuda com que pode e deixa que a irmã mais nova encontre seu próprio ritmo de aprender e viver.

Outro é a aceitação do diferente. O esteriótipo de bruxas é amplamente rompido em Flying Witch, apresentando uma cultura um tanto misteriosa, porém bastante simples e amistosa. A maneira como Chinatsu, a irmã mais nova de Kei, se assustou com a Makoto no inicio, ou com os amigos espíritos como o Prenúncio da Primaveira, um ser espiritual com máscara de coruja, mas após entender o papel de cada um, quando ela encontra a Dama das Sombras que traz a noite, logo fica amiga. Aceitar, entender e respeitar o diferente também é uma das muitas lições que podemos tirar do anime.

Com 12 episódios — espero que lancem uma segunda temporada — Flying Witch está disponível através dos serviços de streaming do Crunchyroll e TubiTV.

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Felipe Massahiro
Nerd / Articles

Jogador compulsivo, escritor obcecado, amante perturbado da literatura e jornalista de vez em quando.