Diário do Ninho de Escritores #3

Tales Gubes
Ninho de Escritores
3 min readMar 19, 2017

Ao final de cada encontro do Círculo do Ninho de Escritores, colhemos nossos aprendizados para compartilhar com o mundo.

Aprendi que metáforas são ferramentas poderosas e bonitas para descrever sentimentos + Aprendi que basicamente tudo pode ser transformado em metáfora para algum sentimento

A metáfora é um modo imaginativo de construir novos significados. Seu papel é o oposto do clichê. Enquanto o clichê é um lugar comum que usamos porque seu significado já se instalou e já está fácil de percorrer (como uma trilha bem aberta no meio de uma floresta), a metáfora envolve sair do caminho usual e convidar os leitores a experimentarem outra forma de percorrer e descrever o mundo.

A construção do sentido é arbitrária. Ou seja, nós decidimos que caminhos de sentido queremos que o leitor percorra. Para experimentar essa potência, realizamos um exercício de criatividade simples: a partir de uma lista de sentimentos e outra de objetos, cada participante precisava escrever a seguinte fórmula: o [sentimento] é um(a) [objeto]. O texto então justificaria essa escolha.

Os resultados foram incríveis e poéticos. Relações inesperadas entre sentimentos e objetos foram elaboradas porque dedicamos o tempo a encontrar semelhanças entre eles. Vivemos acostumados com as diferenças, mas cada vez mais acredito que o trabalho criativo está nas semelhanças.

Aprendi que o tempo verbal nunca deve ser ignorado + Aprendi que é importante se manter no tempo escolhido

Se existe um aprendizado que todas as pessoas que passaram pelo Ninho já tiveram que encarar, é esse. Às vezes começamos um texto no passado, depois passamos ao presente sem mudar o tempo da narrativa. Às vezes é o contrário.

Controlar o tempo é um dos maiores poderes do escritor. Mas esse poder exige responsabilidade para não confundir nem despistar o leitor. Se escrevo no presente, perdi leitores trocando de tempo verbal sem motivo. Como na frase anterior, que soa estranha e me dá vontade de voltar e trocar logo o verbo para que ela fique acertada.

Aprendi que certas palavras têm significados mais intensos do que esperamos quando usamos

O que o leitor constrói em sua cabeça a partir dos nossos textos nasce das palavras que escolhemos. Lemos um texto que tinha a seguinte expressão:

Não gosto nada da ideia de me expor publicamente.

A frase vinha no início do texto e pôs uma questão: o personagem não gosta da ideia de se expor ou da exposição em si? A palavra ideia pode jogar o leitor para ambos os lados. Essa ambiguidade poderia ser explorada na narrativa, por exemplo, no caso do personagem não gostar da ideia, mas depois descobrir que gosta da exposição em si, o que geraria um efeito interessante de humor por meio da quebra de expectativa.

Se, como foi o caso, o que o personagem não gosta é da exposição pública, a expressão da ideia está sobrando porque não acrescenta nada ao entendimento que temos do que está acontecendo. Se uma palavra não acrescenta, ela é excesso.

Aprendi que a concentração pode dar muita intensidade

Outra faceta do nosso poder sobre o tempo é concentrar o texto em momentos específicos para que ganhem maior importância. A regra geral é que quanto mais palavras, mais importante é a cena ou ideia.

Passei doze páginas descrevendo uma árvore? Ela deve ser bem importante!

Passei doze páginas descrevendo uma árvore, mas cada outro ser ou objeto foi descrito em quinze páginas cada um? Então a árvore era pouco importante.

Ou seja: só podemos saber o ponto onde estamos concentrando nossa atenção (e, por tabela, a do leitor) quando em relação ao restante do texto.

Quer experimentar nosso exercício de criação de metáforas?

Então escolha uma das duas propostas a seguir e comente aqui:

  • O medo é um anel.
  • A tristeza é um gato.

Conheça o Círculo do Ninho de Escritores

O Círculo do Ninho de Escritores se reúne nas terças e quintas das 19h às 22h em São Paulo.

Os aprendizados de cada encontro, meus e dos participantes, estão sendo compartilhados neste diário virtual. Aqui estão os textos anteriores: #1 e #2.

Venha participar de um encontro experimental!

--

--

Tales Gubes
Ninho de Escritores

Um olhar não-violento para uma vida mais livre, honesta e conectada. Criador do Ninho de Escritores, da Oficina de Carinho e do Jogo pra Vida.