Diário do Ninho de Escritores #2

A palavra do dia é “perseverança”.

Tales Gubes
Ninho de Escritores
3 min readMar 15, 2017

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Quando pensamos em escritores, falamos muito de técnica, talento, qualidade do texto, número de leitores, sucesso de vendas, fama. São todos tópicos importantes de serem discutidos (por exemplo: não acredito em talento), mas tem um ponto que às vezes fica esquecido. Esse ponto é a perseverança necessária para que a literatura exista.

Cultivar arroz dá trabalho. Tem que molhar as sementes por mais de 12 e menos de 36 horas. Escolher uma estação e um local apropriados. Livrar-se das ervas daninhas. Plantar as sementes separadas entre si. Adubar, manter o solo sempre úmido… E esperar meses pela colheita.

Cultivar literatura é parecido: tem que estar presente e ser perseverante.

Talvez por isso eu tenha ficado tão feliz ontem no encontro do Círculo do Ninho de Escritores. As pessoas estavam lá, presentes e dispostas.

Nos primeiros minutos, uma das participantes disse:

Eu fico procurando motivos para não vir, autossabotagem, mesmo, mas quando chego aqui a energia muda e eu fico feliz.

Vale a pena procurar esse lugar com a escrita: o prazer que vem depois de um esforço. Porque não devemos nos enganar: escrever dá trabalho e às vezes parece que é por nada. Às vezes realmente é por nada além da prática.

Quem escreve precisa aceitar que existem tempos de maturação indefinidos a serem enfrentados. O tempo da ideia, do planejamento, da escrita, da tinta secar no papel, da edição e da reescrita, da publicação, da leitura…

Para ser escritor, precisamos de perseverança, essa qualidade que nos leva a continuar porque o sonho do que virá é maior do que o desencanto do que ainda não veio. Quando fica difícil perseverar sozinho, a gente se une com outras pessoas que sonham parecido e caminha junto.

E seguimos.

Do que tenho medo quando escrevo?

Lancei essa pergunta no começo do encontro para direcionar nossas primeiras reflexões por escrito. Alguns medos são recorrentes para quem faz arte:

  • não estar bom o bastante;
  • não dominar a técnica (narrativa);
  • não ser claro para o leitor;
  • ser julgado pelos outros.

Esses medos às vezes nos paralisam, mas eu gosto deles. Gosto de saber quais são os medos que me circundam porque daí posso descobrir o que eles precisam para me deixar seguir. Meus medos e autocríticas existem para me proteger, então o melhor que posso fazer é trabalhar para que essa proteção seja garantida.

O que é o Círculo

Publiquei esta semana um texto explicando por que os encontros recorrentes do Ninho de Escritores trocaram o nome de Jornada para Círculo.

Para meu deleite, o Alex Bretas, que pesquisa e escreve sobre educação autodirigida e encontros significativos, publicou um texto tratando da metodologia do círculo. Recomendo a leitura porque ajuda a entender o que estamos fazendo no Ninho de Escritores.

O que aprendemos

Uma parte importante dos encontros do Ninho de Escritores é a colheita dos aprendizados ao final de cada momento compartilhado. Quando deixamos ao sabor da memória, corremos o risco de perder as pequenas pérolas de conhecimento que não se parecem com grandes descobertas, mas que ainda assim influenciam nossa percepção.

Pedi que cada pessoa escrevesse, durante apenas um minuto, os aprendizados que ficaram mais fortes das horas que compartilhamos.

Eis o que aprendemos:

  • A compartilhar. A considerar que o mundo tem muita coisa linda para sabermos, para ouvirmos, para nos iludirmos, para nos encantarmos.
  • A importância de figuras concretas em favor da clareza quando o texto tem temas abstratos.
  • Que a complexidade individual dos personagens define quem deve ser o protagonista.
  • Que podem existir histórias melhores por trás das que selecionamos como principais.
  • Que as escolhas devem ser deliberadas e explicadas.

Quer participar do Ninho de Escritores?

O Círculo do Ninho de Escritores se reúne nas terças e quintas das 19h às 22h a 550 metros do metrô Faria Lima.

Venha conhecer o grupo e participar de um encontro experimental!

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Tales Gubes
Ninho de Escritores

Um olhar não-violento para uma vida mais livre, honesta e conectada. Criador do Ninho de Escritores, da Oficina de Carinho e do Jogo pra Vida.