Como fazemos trabalho remoto — uma das habilidades para as carreiras do futuro

Éfrem Maranhão Filho
NITE-CEUMA
Published in
9 min readDec 17, 2018

Trabalho com EAD desde 2007 e vejo que educação feita desta forma não evoluiu e continua sendo vista como "massificação" do ensino. Nada mudou.

Vejo iniciativas de algumas universidade querendo igualar o preço do EAD com o presencial e disponibilizar os conteúdos de graça — MIT, Stanford, Harvard, etc — mas para tal, precisa trazer equidade para a qualidade do ensino e não dos métodos. Já se passaram 11 anos e se usam as mesmas ferramentas e o mesmo estilo de aprendizagem.

Como aprendemos: independente de lugar, baseado em projeto e resolvendo problemas reais.

Falo isso, pois vejo muitas universidades disponibilizarem o ferramental — por exemplo: LMS e bibliotecas virtuais — mas não as adequam ou se adequam. Quando fazem, replicam um modelo presencial, ou seja, não se aproveitam dos benefícios trazidos pelas ferramentas, mas fazem uma aula estilo palestra na qual todo mundo tem que estar sincronamente assistindo alguém falar. Para nós, como trabalhamos é como ensinamos! O que muda é o foco: no trabalho normalmente se aprende para se executar a tarefa da forma mais rápida possível.

Já quando o foco é educação, se executa para aprender. No NITE-CEUMA decidimos questionar isso e para tal, fizemos um paralelo com o trabalho remoto feito com qualidade em grandes empresas — para nomear algumas: Wordpress, Atlassian, Invision, Zapier, Buffer, etc. Assim, deixamos de tentar replicar o esquema presencial — aulas expositivas, provas, cobrança de presença, etc. — e passamos para uma aprendizagem baseada em projetos, pois se mostra mais adequado para esse esquema de aprendizagem. Acreditamos que as instituições de ensino precisam aprender a lição dessas empresas e de coworkings para se tornarem verdadeiros colearnings.

Lista das habilidades para os trabalhos do futuro para 2020.

Além disto, um dos nossos valores é a "Aprendizagem Ativa" e sermos remote friendlyinspirado no documento da Atlassian — nos permite estar sempre focado em melhorar as habilidades para os trabalhos do futuro, como por exemplo: resolução de problemas complexos, pensamento crítico, criatividade, negociação e gestão de pessoas/tempo.

Apesar de ser um dos nossos valores —" Meu notebook é meu escritório" — há ~2,5 anos eu trabalho remoto e não é nem um pouco fácil. Costumo dizer que demorou 2 anos para eu me sentir confortável com isso. Hoje, vemos diversos pontos que achamos necessário para se conseguir trabalhar desta forma.

[1] Não se trata mais de estarmos conectados ou desconectados, pois somos seres conectados. Você lembra da última vez que alguém falou “vou conectar a internet”?

[2] Não se trata mais de encontrar um balanço entre vida pessoal e trabalho, mas a sua integração e harmonização. Saber se beneficiar disto é algo de extrema importância e um bom exemplo, o qual pratico com frequência, é usar as horas de reunião para lavar louça, ou seja, reuniões integradas com trabalho manual — e nada intelectual — de casa. :)

Hoje chegamos a uma maturidade legal. Muito do que nossa equipe faz é realmente remote friendly, o que torna possível estarmos em vários cantos do Brasil nos conectando e compartilhando nossas experiências, ou seja, outro dos nossos valores que é "Comunidade" — contribuir e compartilhar com os outros.

Não quer dizer que estamos sempre afastados, mas que sabemos usar o meio digital para trabalhar de onde estivermos e (normalmente) assincronamente. Lembra dos nossos valores? Fazemos isso para praticar a empatia com o tempo do outro. É importante destacar que estudar/trabalhar remoto é muito diferente de trabalhar em casa — onde muitas vezes estamos — é dizer que independente do lugar e tempo eu consigo estudar/trabalhar.

Para tal, as nossas ferramentas e técnicas tiveram que mudar. As vezes nos adaptamos as ferramentas e outras adptamos nossa cultura a ela. Assim, gostaria de apresentar as ferramentas que usamos/indicamos e como as usamos. Para quem precisa de inspiração, tem essa lista de ferramentas para quem trabalha remoto.

Dividi em duas categorias de ferramentas. Uma terceira seria para as ferramentas específicas de cada área, por exemplo, para desenvolvedores usar alguma ferramenta de git — como github ou bitbucket — ou professores usarem algum conjunto de ferramenta para provas, disponibilização de arquivo ou LMS — a lista que uso pode ser encontrada aqui.

Ferramentas de comunicação

Entedemos como ferramenta de comunição tudo que usamos para falar uns com os outros, por exemplo, usamos muito o cards do Trello para nos comunicarmos. Basicamente dividimos em síncronas e assíncronas:

Síncrona

Para reuniões síncronas e gravar vídeos explicando algum conceito/técnica/ferramenta usamos preferencialmente o Zoom.us. Entretanto, também usamos o Google meet e o Appear.in. O motivo da escolha são: poder usar via telefone; poder gravar, pois usamos muito para disponibilizar nossos videos no youtube e o fato de poder participar até 100 pessoas para quando temos reuniões maiores como esta.

Criamos nossa própria taxonomia para usar o Whatsapp.

Para mensagens mais rápidas usamos duas: Telegram e Whatsapp. O nosso time usa Telegram, pois é uma ferramenta que podemos usar em qualquer dispositivo — sem a necessidade do celular estar conectado, Stickers (usamos MUITO), Hashtags (usamos, por exemplo, para deixar registrado as #liçõesaprendidas e #feedbacks), manter a qualidade dos arquivos compartilhados e por não termos nos adaptados a outras, como o Slack.

O Whatsapp tivemos que nos render. Apesar de eu achar uma péssima ferramenta de comunicação — exatamente os motivos de usarmos o Telegram — é a ferramenta que nossa comunidade está acostumada a usar e por isso tiramos essa barreira de atrito — novamente, empatia pelos outros — pois haveria a necessidade de instalar outro aplicativo, custo de aprendizagem da nova ferramenta e perdemos o engajamento. Para tal, criamos nossa própria organização, como na imagem ao lado/cima e tentamos encerrar o grupo quando termina o programa.

Assíncrona

Testamos o Workplace, pois a curva de aprendizado para uso é praticamente zero, mas como falei anteriomente, optamos por nos comunicar pelo Trello, pois a comunição fica focada nas nossas atividades, só precisa instalar um app e é bem aceita nas empresas digitais.

Trello, nossa ferramenta de escolha para comunicação assíncrona.

A decisão de não usar o Workplace foi uma decisão do grupo como um todo e não necessariamente por ser uma ferramenta inadequada — por exemplo, ainda há restrições ao uso do Facebook — a qual barra o uso do Worplace — em algumas das nossas IES. Nesse ponto, ficou ótimo já que nossa ferramenta de comunicação assíncrona se mistura com a de produtividade. :)

Ferramentas de produtividade

A segunda categoria são as ferramentas de produtividade. O Trello já citado acima é também nosso gerenciador de tarefas, pois acreditamos que é excelente para aprendizagem ativa. Aqui não estão necessariamente todas, até porque usamos a ferramenta adequada para cada problema, mas as que usamos corriqueiramente. Nessa categoria, as ferramentas estão dividas em três grupos de como: fazer as tarefas; buscar conteúdos; e gerar conteúdo.

Fazer as tarefas

Usamos o Dontpad para compartilhar textos e códigos pela simplicidade e forma compartilhada de edição e usamos o Bit.ly para encurtar nossos endereços — inclusive temos o nosso encurtador, mvpnaoe.app. Além destas, começamos a usar o Realtime Board pela necessidade de desenhar em conjunto em quadro branco, mas ainda estamos usando pouco.

Claro, usamos o básico de produtividade: Para nossas apresentações Google Slides e Microsoft PowerPoint; Para nossas planilhas Google Sheets e Microsoft Excel; relatórios Google Docs e Microsoft Word; para feedback Google Forms/Typeform/Jotform; E o maravilhoso Google Calendar para nossas agendas em comum. Há, usamos muito o Google Translate, até por conta da dificuldade do idioma para muitos dos nossos participantes.

Tudo isso guardado em Google Drive (nossa pasta compartilhada), One cloud (nosso backup de vídeos do youtube) e Dokuwiki (nosso repositório de informações mais formais, como editais). Para fazer tudo isso, precisamos aprender a fazer boas buscas de conteúdo.

Buscar conteúdo

Temos contextos bem específicos e antes de perguntar, buscamos pela resposta antes — empatia pelo tempo do outro novamente. Principalemte saber usar o Google. Garanto que muita gente que acha que sabe usar…na verdade não sabe. Duvida?! Desafio você a conhecer todas as opções de buscas avançadas no Google. Uma dica que já vale, se precisa saber como fazer, misture essas buscas avançadas com “How” ou “Como” e com certeza você achará algum tutorial.

Como organizamos os conteúdos para nossos participantes.

Para o que está acontecendo, muitas vezes usamos: Twitter, principalmente eu, pois conseguimos acompanhar diretamente pessoas/empresas/entidades que nos influenciam e são importantes para nosso trabalho/aprendizagem; Instagram, a turma mais “djovem” e que eu entendo pouco; YouTube, pelo mesmo motivo que eu uso o twitter, mas com conteúdo consumido de forma diferente e para criar listas, pois além de buscar, gostamos de organizar para nossos participantes.

Como gerar conteúdo

Usamos o Youtube para além de organizar os conteúdos dos outros, mas geramos conteúdo para nosso canal. Como falei anteriormente, usamos muito o Zoom.us para gerar os vídeos para subir no Youtube.

Alguns dos nossos textos no Medium.

Isso serve não apenas para compartilhar conhecimento, mas permitir que os participantes que não puderam participar de momentos sícronos, possam consumir o conteúdo posteriormente. Também usamos nosso Mediumpara consolidar muito das nossas lições aprendidas e opiniões pessoais…e onde estão lendo esse texto. :)

Por fim, muitas vezes precisamos criar imagens e usamos o Trakto.io que foram super parceiros e permitiram nossos participantes usarem — fora serem brasileiros! — e o Canva, pois ainda temos uma licença válida nele.

Autogestão…ou será apenas bom senso?

Esse é um ponto essencial para o remoto funcionar. Para mim, está cada vez mais claro que tudo depende do nível de maturidade e interesse. Aqui eu traduzo maturidade como bom senso, pois é necessário saber que não tem ninguém lhe fiscalizando, mas você deve trabalhar/aprender da melhor forma possível.

Bom senso para saber quando não está fazendo o que lhe agrada e começar a pensar a mudança de carreira/aprendizado. A “maturidade” de saber que se assumir um compromisso de entrega assumir a responsabilidade sobre as entregas e saber reconhecer os erros e aprender com eles.

O outro lado da maturidade está no gestor/facilitador, pois para quem coordena é uma trabalho de confiar e saber que horas importam menos do que a entrega da tarefa pronta ou o objeto de aprendizagem.

Muitas vezes eu não sei fazer e a responsabilidade de aprender vem do interesse de executar/aprender o que se precisa. Claro, se você faz parte da economia digital — os trabalhadores do conhecimento — é bem mais fácil conseguir conciliar o interesse com a responsabilidade.

A lição mais importante: mudamos o tempo todo. O Programa Universitário Empreendedor (PUE) vem amadurecendo um bocado, incluso ferramental, pois não começamos como está hoje — obrigado aos alunos por toparem sempre! As vezes tentamos criar mudança de compartamento. Por exemplo, agora está em teste um grupo no linkedin para os alumni, pois queremos que nossos alunos usem o linkedin com mais frequência.

Quando junta é mais ou menos nisso que dá!

É necessário entender que existe uma curva de aprendizagem para se trabalhar/aprender remoto e ferramentas que facilitam esse processo. Encontros presenciais, no mesmo local e tempo, quando possível são excelentes para fazer conexões mais humanas.

Não são necessariamente essenciais, mas preferenciais. Nós não deixamos de executar algo por conta disto, o contrário. Toda vez que podemos fazer isso, fazemos, pois gostamos de estar juntos, pois não somos pessoas que apenas trabalham juntos, mas pessoas que querem estar juntos e sabemos aproveitar a liberdade que a tecnologia nos proporciona.

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