Novo Mundo: aventura, emoção e história

Em entrevista, os autores Thereza Falcão e Alessandro Marson revelam os bastidores do processo de criação

Rede Globo
NovoMundo
7 min readMar 18, 2017

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Foto: Cesar Alves / Globo

Como começou a parceria de vocês? Como é a dinâmica de trabalho em dupla?

Thereza — Fiz o ‘Sítio do Pica-Pau Amarelo’ com o Alessandro em 2005. No ano seguinte, eu e ele fomos colaborar na nossa primeira novela, ‘O Profeta’. Quem levou a gente para o projeto foi a Duca Rachid. De lá eu fui para o ‘Toma Lá Dá Cá’ com o Miguel Falabella e o Alessandro foi fazer ‘Desejo Proibido’ com o Walter Negrão. Em seguida, fomos os dois para a segunda novela da Thelma Guedes e Duca, ‘Cama de Gato’. Dali, o Alessandro voltou a trabalhar com o Negrão em ‘Araguaia’ e eu fui com a Thelma e a Duca para a sinopse de ‘Cordel Encantado’, onde Alessandro colaborou também. Depois nos reencontramos em ‘Avenida Brasil’. Hoje, são 12 anos de parceria. Nos completamos. Venho com a ideia e ele vem com uma coisa que arremata ou o contrário. Tudo é nosso. Em ‘Novo Mundo’, escrevemos os primeiros 24 capítulos sozinhos.

Quando juntamos as cenas, elas estavam totalmente uniformes. As pessoas não sabem quem escreveu o que, e não é pra saber mesmo (risos).

Alessandro — Mantemos uma rotina de trabalho que considero muito importante. Escrever é rotina, tem que reservar horas do seu dia. Temos um lugar onde nos encontramos. Temos hora para chegar e só saímos quando terminamos as escaletas do dia. Nossa visão de mundo é muito parecida, e isso é importante. Acho fundamental ter uma pessoa para discutir, dividir. Sempre que tem discussão, debate de ideias, isso acaba deixando a história muito melhor.

Foto: Cesar Alves / Globo

Como surgiu a ideia desse projeto? Como vocês definem ‘Novo Mundo’?

Alessandro — Nossas conversas começavam no carro durante o trajeto até o trabalho. Acompanhávamos o ‘Ofício em Cena’, gravado nos Estúdios Globo, e estávamos em ‘A Regra do Jogo’, que ainda não tinha estreado. Começamos a falar sobre criar algo. Tínhamos ideias sobre um herói, alguém que abrisse mão da sua própria vida pelo todo e fizesse algo grandioso. Lemos os livros sobre Dom Pedro I e falamos: “Temos esse herói”. Um jovem de 22 anos que resolveu ser imperador de um país que ele inventou. Isso é uma coisa heroica, grande, que existiu. Começamos por aí. A história do Dom Pedro serve como pano de fundo, mas criamos outros heróis fictícios. Tem o ideal da independência e a história dos índios, que a gente queria falar de uma maneira não caricata. A trama do Joaquim (Chay Suede) e dos índios vem por aí. A história de Anna e Joaquim não pode ser contada em outra época, se não da independência do Brasil. Para ser contada, precisa dos elementos que aconteceram naquela época. Isso dá uma exclusividade, um tom inédito à obra.

Foto: Raquel Cunha / Foto

Thereza — Chegamos à conclusão que tínhamos que falar da figura do herói. Essa pessoa que deixa de pensar como indivíduo e passa a pensar no coletivo. Aí veio a questão da época. Pensamos em falar sobre a formação do povo brasileiro. Como a gente vê esse país de hoje. De onde ele veio? Como eram as pessoas que vieram de fora? O que elas queriam de bom ou de ruim? Nosso herói é um brasileiro que retorna de uma maneira que ele não tem como fugir. Ele vai se fazer em uma nação brasileira. Os acontecimentos “macro” afetam sua vida, e a vida dele pode vir a afetar esse movimento maior da independência.

Para vocês, qual a principal mensagem da novela?

Thereza — Saber que, às vezes, você pode fazer alguma coisa é o princípio do coletivo. E é isso que o Joaquim faz. Ele podia ir atrás do amor dele, a Anna, mas prefere lutar pela causa dos índios. Abre mão do seu quinhão de felicidade momentânea para fazer a felicidade de um monte de gente.

Eu só posso ser feliz se todos são felizes. A felicidade é coletiva.

Alessandro — Queremos passar um otimismo. Esse país foi criado para dar certo. E, hoje, toda vez que vemos o noticiário ficamos tristes, chateados. Não somos assim, não precisa ser assim. Se conseguirmos devolver um pouco de otimismo para as pessoas vai estar ótimo.

E essa viagem que atravessa o Atlântico? Qual a importância dela na trama dos protagonistas da história?

Thereza — Quando os europeus saíram do Velho Mundo rumo ao Brasil, muita coisa mudou na vida deles. A vida da Leopoldina e dos outros personagens que vieram com ela também vai mudar. Mas é um novo mundo que se abre, inclusive para Joaquim (Chay Suede) e Anna (Isabelle Drummond). Falamos dessa descoberta individual. Eles fazem esse novo mundo e, a partir disso, começará um processo de mudanças que culminará na independência do Brasil.

Foto: Ellen Soares / Gshow

Alessandro — A busca do novo mundo é a busca de um objetivo para cada um dos personagens. A Anna (Isabelle Drummond) vem atrás de algumas coisas e vai descobrir outras que ela não sabia sobre o pai e o passado dela. O Piatã (Rodrigo Simas) também descobrirá muitas coisas sobre si mesmo. Tudo está ligado a esse novo mundo, e tudo o que acontece muda radicalmente essas pessoas. O legal é que elas são mudadas pelo mundo e o mundo é mudado por elas. Sem elas, esse novo mundo não seria possível.

Foto: João Miguel Júnior / Globo

Como foi realizada a pesquisa histórica? Como isso ajudou no processo de elaboração do texto?

Thereza — Assistimos a filmes, visitamos museus com peças lindas no Rio de Janeiro, o Paço Imperial, o Museu Histórico Nacional, a exposição sobre a Leopoldina no Museu de Arte do Rio, as igrejas do centro. Começamos a desenvolver a história em paralelo às leituras. Muitos personagens que criamos, encontramos depois nas pesquisas. O historiador Francisco Vieira é nosso consultor (Confira o texto dele no Medium). Também lemos os livros do Laurentino Gomes, “1808” e “1822”, “A Carne e o Sangue”, de Mary Del Priore, e a biografia de Dom Pedro escrita por Isabel Lustosa, entre outros. A leitura dá uma base segura, até mesmo para a licença poética.

Fotos: Cesar Alves / Globo

Desejamos que as pessoas tenham interesse pela história do Brasil, que leiam e procurem saber mais. Se conseguirmos atrair o público, teremos alcançado nosso objetivo.

Foto: Cesar Alves / Globo

Alessandro — Fomos com o nosso consultor, Francisco Vieira, passar um dia no centro do Rio de Janeiro. Vimos onde a família Real vivia, no Paço Imperial, como era, aonde iam, a igreja onde casaram. Andar pelas ruas estreitas do centro do Rio é uma viagem no tempo. O legal na pesquisa foi descobrir coisas que a gente achava totalmente ficcionais, mas aconteceram de fato. Como estamos falando de um período específico, entre 1817 a 1822, dá pra saber mês a mês tudo o que aconteceu, e vamos usando isso na história. Queremos mostrar que temos uma história feita de heróis.

Foto: Cesar Alves / Globo

O que o público pode esperar de Novo Mundo?

Thereza — Aventura, emoção e história. As pessoas vão se emocionar com o amor, a dedicação e a frustração de alguns personagens, principalmente Anna (Isabelle Drummond), Leopoldina (Letícia Colin) e Joaquim (Chay Suede). Sonoramente a novela vai marcar também. O público ouvirá uma trilha que não está acostumado, mais cinematográfica.

Alessandro — A novela vai ser muito bonita visualmente. Teremos uma semana de novela em um navio, outra semana em uma tribo indígena e um casamento de princesa de verdade, só para citar alguns exemplos.

Com estreia prevista para 22 de março, ‘Novo Mundo’ é escrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson, com direção artística de Vinícius Coimbra.

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