“Mantive a atividade física durante a gravidez. Diziam: ‘você está correndo? Como assim? Não pode!’ E eu respondia: pode sim.”

Geysa

Anamaria Legori
Nua e Crua
7 min readMay 8, 2016

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Depoimento a Anamaria Legori
Fotos por Sâmara Correia
Edição Leandro Demori

Muitas mulheres ficam inseguras em relação à gravidez. Eu mesma fiquei. Achei que ia ter estrias, que ia engordar demais, que meu corpo não iria voltar ao normal. Mas no fim não tive estrias e não foi aquele bicho de sete cabeças que eu achei que seria. Eu já vinha com acompanhamento nutricional mais intenso há um ano e meio, porque eu já estava planejando engravidar e busquei levar isso a sério. Procurei não descuidar da alimentação e foi a melhor coisa que eu fiz, na gravidez eu mantive isso e me ajudou muito.

Também mantive a atividade física durante e ouvi muito as mulheres dizendo: “você está correndo? Como assim? Não pode!” E eu respondia: pode, pode sim. No primeiro trimestre eu tive medo que acontecesse alguma coisa porque é um período mais delicado. Talvez até deveria ter feito mais atividades físicas. Mas, como disse, fiquei com medo. Então, nessa fase inicial, eu parei com tudo. Até porque a gente tem enjôos nesse período. Mas, no segundo trimestre, eu voltei aos exercícios porque comecei a me sentir melhor. Intensifiquei. Dava umas corridinhas, mas nada muito intenso. Antes da gravidez eu era acostumada a correr dez quilômetros, então nesse período eu corria só cinco ou seis e controlava a frequência cardíaca. É possível correr durante a gravidez mas você tem que controlar a frequência cardíaca, porque se elevar muito pode cortar o oxigênio do bebê. Eu também fazia musculação leve, tudo com moderação, controlando a frequência e a temperatura do ambiente porque não pode estar muito quente. E controlava também os pesos para não exagerar. Tinha muita gente que achava que eu estava louca. As pessoas me perguntavam na academia: “você pode fazer exercício? Você pode estar aqui?”

Faço exercícios porque faz bem, me deixa mais disposta, ajuda na auto-estima. O exercício físico me deixa feliz, sabe? Deixa alto astral, pra cima. Eu tenho duas vidas: com atividade física e sem. São duas Geysas. Fico mal-humorada, irritada e até deprimida se não consigo fazer exercícios. Então pra minha cabeça é muito bom. Vem tudo isso junto e ainda me sinto mais bonita e feliz com o próprio corpo.

Continuei fazendo atividade física na gravidez também porque é importante pro bebê. Aumenta o aporte de oxigênio pra ele. Como aumenta a circulação sanguínea, o bebê recebe mais sangue e consequentemente mais oxigênio. Não está prejudicando, pelo contrário, o bebê adora e facilita na hora do parto.

No terceiro trimestre da gravidez, que começa a ficar mais complicado, eu optei por modalidades mais tranquilas, como a caminhada e a musculação. Eu reduzi bastante a atividade e a frequência também. Mas a minha nutricionista me indicou continuar com a musculação pra eu não perder muita massa muscular. Pra hora do parto é importante ter um preparo físico bom, ter uma musculatura que está em dia, ter um cardiorespiratório que está legal, isso tudo é importante também. E tanto que o meu trabalho de parto foi super rápido. Tive contrações à noite, mas na hora que começou a dilatar foi super rápido. Acho que isso tudo veio do meu preparo. Cheguei no hospital com 7cm de dilatação e quando vi estava com 10cm na sala de parto.

Isso foi ótimo porque eu sempre pensei em fazer parto normal. No Brasil a porcentagem de cesáreas é gritante. A exceção é o parto normal. Sempre quis, porque é algo mais natural, não é uma cirurgia e tem mais a ver comigo até pelo momento que estou vivendo agora. Me alimento de forma natural, estou evitando industrializados, da mesma forma que quis evitar uma anestesia. Quis ter um parto que acompanhasse essa vibe.

As pessoas me faziam duas perguntas durante a gravidez: a clássica “é menino ou menina?” era a mais comum. A segunda me surpreendeu no começo: “você quer parto normal ou cesárea?”. O que eu achava um absurdo. Deveria ser: parto normal, óbvio, cesárea só em caso de uma complicação médica. Mas isso é um costume e uma realidade no Brasil. As cesáreas aqui se tornaram o normal, mas não são o natural. Tem muitas mulheres que dizem que não querem sofrer, mas cesárea é uma cirurgia, com anestesia. Acho que o sofrimento pós-cesárea é maior.

Assim como cuidei minha alimentação antes e durante a gravidez, agora no pós-parto também estou de olho. E isso se reflete no meu leite, que está super forte e em boa quantidade. O bebê perdeu um pouquinho de peso no hospital, mas em cinco dias pós-parto, que é um período que eles costumam perder peso, ele já se recuperou. A pediatra até se espantou. E por quê? Porque eu não como industrializados, não como porcarias. Eu como nutrientes: vitaminas, minerais e uma boa quantidade de proteínas.

No terceiro trimestre eu fazia exercícios de manhã. Acordava às 5h, fazia 50 minutos num ritmo tranquilo. Às 6h eu tomava banho e saía de casa às 7h e pouco pra ir trabalhar. Com certeza isso tudo ajudou no parto e a minha recuperação está sendo rápida, por conta do meu metabolismo estar acelerado. É claro que eu não fazia nada da minha cabeça: estudei muito, li muito e tinha profissionais me orientando. A minha nutricionista é também personal trainer, formada em educação física e nutrição. Então ela tem um conhecimento muito bom.

Realmente o corpo muda na gravidez, mas quem nota mais é a própria pessoa. As pessoas me falavam: você tem só barriga, de resto está igual. Mas eu me sentia enorme. Isso é normal e a gente tem que se preparar. Mas como estou vendo que no pós-parto estou tendo uma recuperação legal, eu tô super feliz. Não tô mais encanada, tô tranquila. O quadril vai ficar mais largo, vai. Mas pra mim isso é só um detalhe. Se meu quadril ficar mais largo tudo bem, não vou encanar com isso. Não vai influenciar em nada na minha vida. Se eu tiver que colocar silicone nos seios depois, também não estou preocupada. Eu só quero voltar à minha atividade física logo, essa é a minha maior preocupação, porque é algo que me faz falta.

Fiz o parto de cabelo solto e unha pintada de azul. Claro que pode usar anestesia no parto normal, se quiser. Mas eu não quis, preferi ficar lúcida. Essa é uma das grandes vantagens em relação à cesárea. Com anestesia você consegue fazer força, mas não sente a contração. A médica fica com a mão na sua barriga pra avisar quando tem que fazer força. A anestesia te tira a vontade natural de fazer força. Não é algo natural, e eu queria sentir aquilo.

O bebê nasceu apenas 25 minutos depois de eu chegar no hospital. Cheguei lá, tirei a roupa, a médica fez o exame de toque e viu que eu estava com 7cm de dilatação, então fomos para a sala de parto. A equipe nem conseguiu se arrumar direito — quando cheguei no quarto não tinha nem o berço ainda, de tão rápido que foi.

Esse é o meu primeiro dia das mães e estou com um bebê de sete dias. Ainda não caiu a ficha! Eu até tinha esquecido do meu aniversário, que cai bem nessa época — a cabeça fica muito direcionada para o bebê. É tudo muito forte, ele suga muito a energia, principalmente nos primeiros dias. É uma loucura. Consegui cuidar do meu cabelo só quatro dias depois que ele nasceu. Aos poucos conseguimos estabelecer uma rotina: amamentar, trocar e colocar pra dormir. Não era assim nos primeiros dias. Ele chorava e não sabíamos o que ele queria, estávamos desnorteados, mas no começo é assim mesmo. É muita informação, estamos aprendendo e pegando a prática. Leva um tempo pra entrar na rotina. Isso tudo vale a pena, estou amando.

Benjamin, 29/04/2016

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Anamaria Legori
Nua e Crua

Escritora no coletivo Nua e Crua: as mulheres e suas histórias | Consultora e Pesquisadora de Tendências |✉ analegori@gmail.com