Acabei O Quinze
Terminando um livro triste em um dia de péssimo humor.
Talvez tenha escolhido o pior momento para terminar de ler esse livro. Acordei num daqueles dias em que tudo o que se vê é cinza e ruim. Não gosto desses dias, nem os glorifico, acontece. Fazer o quê.
O fato é que ao terminar O Quinze, de Rachel de Queiroz fui jogado mais ao chão. A história é triste, de amargar coração. De imaginar o quão ruim a vida pode ser para o ser humano e o quão o humano pode ser ruim.
Em um salto acrobático relembro a conversa que tive no final de semana. Estávamos falando de restaurantes e como que a empreitada inicial de um restaurante novo gera quilos de desperdício. A quantidade planejada de frangos ou carnes não foi vendida como o esperado. Destino. O lixo. Não pode doar. A lei não deixa. O chef não deixa. O mercado não deixa. Tem que ir pro Lixo. Comentei que isso não era desumano, e meu compadre corrigiu — Isso é humano — relutei, mas no fim tive de concordar.
O Quinze tem como pano de fundo a seca no nordeste de 1915, essa foi terrível (ainda não tive dados o suficiente para comparar em danos se ela foi pior ou melhor do que a de 1932 que quero retratar em O Cangaceiro) .
Quem vivia no sertão teve que decidir, arriscava a vida tentando tratar o gado para faze-lo sobreviver a estiagem ou abandonava casas e rumava para as cidades. Muitos deixaram suas terras. O ponto aqui é que dependendo do status social ir para a cidade poderia significar alugar uma casa e esperar o pesadelo passar, ou rumar a pé, perdendo filhos no caminho, e engolir o orgulho para pedir esmolas para sobreviver.
O livro é ótimo, você deve lê-lo. Mas prepare seu fígado, pois é difícil se por na pele, é dolorido sentir o caminho. Talvez seja necessário também.
Abundam por aí as dedos que apontam “preguiça” aos pobres, zeradas de empatia. Abundam os louvores a meritocracia, essa justiça de mercado auto regulador. São todas rasas de vivência ao se defrontarem com realidades distantes. Servem para quem pode pegar o trem para voltar para a capital, esmagam aqueles que tem que ir a pé. Jogam fora a comida pronta que não se vendeu, refutam politicas de assistência.
Não há como concordar com eles.
O Cangaceiro é um projeto de Visual Novel baseado no sertão nordestino de 1932. Saiba mais sobre o projeto clicando aqui!
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