Racismo no comando do futebol brasileiro

Gabriel Paes
O Contra-Ataque
Published in
14 min readNov 20, 2020

No fim do primeiro turno do Brasileirão, somente 2,5% dos cargos de comando dos clubes das Séries A e B eram ocupados por negros

Por guto, Gabriel Paes, João Abel, Lucas Martins, Maria Tereza, Paulo Castro, Sara de Oliveira, Sofia Aguiar e Tadeu Chainça

2020 é um daqueles anos que entra de vez para a história. O mundo enfrenta a pandemia do coronavírus cheio de incertezas sobre o que vai ser do amanhã. Se por um lado tem quem goste de refletir sobre o que a humanidade aprendeu com esse momento único, por outro, a imensa maioria que vive novas dificuldades todos os dias, sabe que não dá pra tirar proveito nenhum.

Quem é privilegiado estacionou em casa desde o início do isolamento social e, de lá nunca mais saiu. Quem não é, seguiu a vida normalmente trabalhando e pegando condução.

Outra coisa que não mudou nada, mesmo com a pandemia, foi a violência policial. Nos Estados Unidos, país que possui uma estrutura social racista semelhante à brasileira, George Floyd (40) foi morto brutalmente por um policial que se ajoelhou em seu pescoço e o impediu de respirar. Breonna Taylor (26) teve sua casa invadida pela polícia numa suposta busca por drogas.

Eles não são os únicos, mas ambos foram vítimas em um intervalo de semanas. Isso deu ainda mais voz ao movimento Black Lives Matter, que denuncia eventos como esses desde 2013 e mobiliza a sociedade por mudanças reais.

Vinicius Jr. comemora gol replicando o gesto dos Panteras Negras, popular mundialmente. (Foto: Reuters)

Aqui no Brasil, muita gente apoiou o BLM — sem sair de casa — postando a foto de um quadrado preto nas redes sociais. Entre os atletas, manifestações podem ser bem mais efetivas e chamam a atenção do mundo inteiro para a causa.

Os jogadores da NBA fizeram história nesse sentido ao se juntar aos protestos dentro e fora das quadras, como contamos aqui.

Por falar em esporte, ele também acaba sendo afetado pelo preconceito racial, já que esse problema permeia todas as esferas da sociedade.

“Não existe racismo no futebol”

Foi o que disse o presidente da Federação Francesa de Futebol, depois da denúncia de racismo de Neymar contra o zagueiro Álvaro González, espanhol do Olympique de Marseille. Para justificar, ele ainda diz que “quando um negro marca um gol, o estádio inteiro aplaude”. É um cretino que lançou uma nova versão do “não sou racista, tenho até amigos negros”.

Existe muito racismo no futebol. E não é preciso se esforçar para lembrar de quem sofreu com ele.

Torcedora do Grêmio grita “Macaco” para o goleiro Aranha. (Foto: Transmissão da ESPN)

Aranha, Tinga, o árbitro Marcio Chagas, Taison, Neymar, Daniel Alves, Grafite, Roberto Carlos, Obina, Arouca, Michel Bastos, Hulk, os técnicos Lula Pereira, Andrade e Cristóvão Bórges, Paulão, Jeovânio, Manoel, Antônio Carlos, Tchê Tchê e, mais recentemente, o atacante Marinho.

São inúmeros os casos. Poucos resultam em consequências judiciais aos agressores e, quando elas acontecem, não são suficientes para de fato punir e conscientizar.

Mas se você ainda não consegue enxergar o quanto o futebol é racista, vamos destrinchar a estrutura de quem manda nele para provar.

Roger Machado e Marcão, os dois treinadores negros da Série A em 2019. Ambos não ocupam mais os cargos. (Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF)

Apesar de termos inúmeros ídolos pretos no esporte, a maioria esmagadora conquistou essa idolatria jogando bola, dentro de campo. Faça um rápido exercício: quantos treinadores pretos você consegue contar de cabeça? E agora, pense em cinco nomes brancos diferentes que já conquistaram o Brasileirão. Mais fácil, né?

É fácil lembrar de técnicos brancos — e presidentes e dirigentes — porque quase todos eles são. Ano a ano, O Contra-Ataque atualiza o Levantamento de Negros no Comando do Futebol Brasileiro para mostrar, em números, que essa é a realidade.

A pesquisa foi fechada ao final do primeiro turno de cada campeonato analisado.

Nas principais competições de futebol do nosso país — Séries A e B — , temos 40 clubes. Com eles, milhares de funcionários: presidentes, diretores, atletas, e aquelas pessoas que trabalham nos bastidores. Disso todos nós já sabemos.

Porém, você sabia que nenhum presidente da Série A é preto? Ou que dos 40 técnicos, apenas Jair Ventura não é branco? Quando olhamos pros dirigentes, os responsáveis pelas contratações, nada muda. Não há nenhum executivo preto na elite do futebol. A maioria dos clubes, hoje, possui ao menos dois auxiliares técnicos — em média 80 funcionários. Desse grupo, apenas 11 são negros.

A situação não é nova: a cara do esporte mais amado do povo brasileiro é branca e muito pouco é feito para mudar essa situação. A quem isso interessa?

Na segunda divisão brasileira de futebol, as coisas não mudam muito. Sebastião Moreira Arcanjo é nome do presidente da Ponte Preta e do único da divisão que não é branco.

O ex-atacante Deivid, no Cruzeiro, é o único dirigente [exerce a função de diretor técnico] preto em todo o país.

Colocando as palavras em números: apenas 2,5% entre treinadores, dirigentes e presidentes do futebol brasileiro são negros.

Tiãozinho, como é conhecido o presidente da Ponte.

Para ouvir nosso podcast sobre o Levantamento deste ano, clique no link abaixo:

A “dificuldade” em identificar quem é negro

Desde o primeiro levantamento feito pelo O Contra-Ataque, surgem comentários nas redes sociais alegando que parte dos comandantes do futebol analisados, na verdade, não seriam negros.

Achamos importante abrir parênteses nessa reportagem para comentar isso. Em todas as edições deste levantamento usamos a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que define negro como a junção das populações preta e parda.

Existe uma dificuldade no país para compreender o que é ser negro. O cientista social e historiador Marcel Diego Tonini, doutor pela Universidade de São Paulo (USP), conta que até meados dos anos 30, essa não era uma questão tão importante porque a ideia da democracia racial não estava cristalizada no imaginário social.

“Essa ideologia prega basicamente que, no Brasil, somos todos mestiços. No entanto, esse discurso só é usado na hora que favorece os brancos. Quando não, aí se aponta com facilidade quem é preto e branco”, complementa Tonini, que também é colunista do site Ludopédio.

Além disso, até aquele momento não havia competição entre negros e brancos no mercado de trabalho. “A partir daí, de modo muito gradual e não linear, a presença negra começou a existir em várias esferas. Então, a questão de o que é ser negro foi se tornando um problema no Brasil”, relata o historiador.

Com a chegada da discussão sobre cotas raciais no início dos anos 2000, esse tema voltou com mais força. “A maior parte das classes alta e média se sentiu ‘prejudicada’ e começou a usar a velha justificativa de que todos aqui são mestiços, então não teria como apontar quem é negro e quem não é”, afirma Tonini.

O colunista explica que o conceito de raça — que no sentido biológico não existe, afinal fazemos parte da raça humana — é calcado nos marcadores físicos, ou seja cor da pele, cabelo e outras características fenotípicas. “Mas isso é muito cambiável conforme a situação econômica e social. É um conceito muito subjetivo”, aponta.

Por isso, caso algum dos profissionais listados no levantamento se autodeclare de forma diferente da qual o classificamos, pedimos para que entrem em contato para fazermos a alteração.

O pior em 3 anos

O Observatório de Discriminação Racial no Futebol lista anualmente os casos de discriminação de todos os tipos, ocorridos nos gramados e redes sociais contra atletas brasileiros.

Esse ano tivemos o pior resultado do levantamento desde que começamos a análise, em 2018. Listamos abaixo o comparativo de quantos negros ocupavam as funções analisadas ano a ano:

2018: 6,2%*

  • 2 presidentes na Série B;
  • 2 técnicos na Série A e 2 na B;
  • 3 auxiliares na Série A e 3 na B;
  • 1 diretor de futebol na Série A.

2019: 4,27%*

  • 3 técnicos na Série A e 2 na B;
  • 4 auxiliares técnicos na Série A e 3 na B;
  • Não haviam presidentes ou dirigentes de futebol negros nas Séries A e B do Brasileirão.

2020: 2,5%*

  • 1 presidente na série B;
  • 1 técnico na Série A;
  • 11 auxiliares técnicos nas Séries A e B;
  • 1 diretor de futebol na Série A.

*Os números não levam em conta o número de auxiliares técnicos.

O primeiro presidente…

Quando chegou ao Brasil, o futebol era voltado ao público mais abastado, sendo praticado por brancos que integravam a elite brasileira. Conforme a popularidade do esporte foi crescendo entre as classes mais baixas, pessoas de todas esferas da sociedade passaram a praticar a modalidade.

O início das disputas entre clubes, muitos dos quais conhecemos hoje, ainda era restrita a atletas brancos, gerando lutas para a inserção do negro no futebol, fosse na prática ou em seu entorno.

Dos times mais famosos atualmente, os que se destacaram, na época, por serem pioneiros na luta pela igualdade se encontram no Rio de Janeiro e São Paulo. Fundada em 1900, a Ponte Preta teve entre seus fundadores Benedito Aranha, membro da primeira diretoria do time, e Miguel do Carmo, jogador titular do elenco, ambos negros. Do Carmo foi o primeiro jogador negro do país.

No Rio de Janeiro, Bangu e Vasco se tornaram símbolos na luta contra o racismo no esporte. Em 1911, o time alvirrubro se tornou o primeiro clube campeão com jogadores negros no elenco ao conquistar a segunda divisão do Campeonato Carioca. Sete anos antes, porém, o Clube da Colina também colocaria seu nome na história.

A princípio, o esporte mais popular e com maior cobertura da imprensa, no Brasil era o remo, que originou três dos quatro grandes clubes cariocas (Clube de Regatas do Flamengo, Botafogo de Futebol e Regatas e Clube de Regatas Vasco da Gama). Como time de futebol, o Vasco surgiu apenas em 1915, mas a data de sua fundação, enquanto clube desportivo, é de 1898.

Cândido José de Araújo | Imagem: Site Oficial do Vasco

Nesse período, Cândido José de Araujo, conhecido como Candinho, se tornou o primeiro presidente negro de um clube esportivo do país. Eleito em 1904, ele levou o Vasco ao seu primeiro título de remo. Foi reeleito em 1905, conquistou o bi e permaneceu até agosto de 1906.

Para homenagear o legado deixado por Candinho, foi inaugurado, neste ano, um Centro Cultural com seu nome, no Centro do Rio de Janeiro.

Em 2019, o clube relembrou, no Twitter, os 115 anos do feito, que aconteceu apenas 16 anos após a abolição da escravatura no Brasil.

… e o único em 2020

Entre os 40 presidentes das séries A e B, todos são homens e quase todos são brancos. A exceção é Sebastião Arcanjo, o ‘Tiãozinho’, presidente da Ponte Preta. “Quando você tem uma figura como um presidente negro, a gente sai um pouco do plano das intenções e vai para os gestos concretos”, avaliou Sebastião em entrevista ao Contra-Ataque.

Mas o trabalho da Ponte pela inclusão racial não para no fato de ter um mandatário negro. O clube tem promovido uma série de ações, como cartilhas direcionadas aos jogadores — da base ao profissional — e ações em campo.

“O futebol carregou durante um bom tempo uma opinião equivocada de que tudo se resolve dentro de campo e, portanto, os temas que afligem as pessoas, a sociedade, não deveriam fazer parte do nosso cotidiano”, afirma Sebastião.

Para o presidente alvinegro, o fato da Ponte nascer às margens de uma ferrovia no início do século 20 e ser um time originalmente formado por operários é o contexto que deu um pontapé nas discussões sobre classe e raça dentro do clube. “Os primeiros integrantes da Ponte viviam na pele e debatiam essas diferenças sociais.”

Atualmente, a Macaca, como é conhecida o time, pede à FIFA que seja reconhecida como a 1ª agremiação brasileira a escalar negros no país.

Apesar do cenário de maior mobilização contra o racismo, Sebastião acredita que ainda é preciso avançar na luta antirracista atacando em duas frentes: campanhas de conscientização e punição exemplar a quem cometer o crime de discriminação racial.

“A violência física a gente consegue medir pelo tamanho do hematoma. A violência psicológica e verbal que vem através do racismo precisa de uma resposta da sociedade. Não tem hematoma, não dá pra fazer um corpo de delito, mas você carrega isso para o resto da vida e leva efeitos psicológicos. É algo que deve ser enfrentado pelo clube, pelos torcedores. Punir e identificar quem pratica atos de racismo.”

Onde estão os jornalistas negros no esporte?

Em junho, o programa “Em Pauta”, da Globo News teve uma edição especial para discutir racismo, apresentada pelos jornalistas negros da casa. (Foto: Reprodução)

Apesar de não estarem no topo do universo futeboleiro, os jornalistas esportivos são uma parte muito importante dele — e que, infelizmente, também sofre as consequências do racismo estrutural.

Quantos jornalistas negros você lembra de ter visto em uma mesa redonda comentando os jogos da rodada? E se lembra, eles eram a maioria? Aliás, eram jornalistas ou ex-jogadores?

O podcast Ubuntu Esporte Clube é apresentado apenas por jornalistas negros. (Foto: Reprodução)

Até pouco tempo, Diego Moraes era o único repórter esportivo negro da Globo Rio. “Foram seis anos para ser exato, até chegar a Debora Gares em 2019 e agora, em 2020, tem a apresentadora Karine Alves. Somos poucos num grupo de mais de 30, mas pelo menos não estou mais sozinho”, relata.

Ele acredita que o racismo ter se tornado um tema presente nas rodas de conversa neste ano foi um pequeno passo dado no enfrentamento desse problema.

“Eu chamaria de passo do reconhecimento. Agora, do reconhecer para solucionar, é uma outra história. O racismo ainda está presente nas estruturas. Ainda somos maioria na pobreza, nas mortes, nas prisões e minoria em cargos de poder, de liderança, de destaque”, lamenta Moraes.

O racismo estrutural está presente de forma clara na nossa sociedade e, no futebol, não é diferente. O futebol é um espelho da sociedade. A forma mais simples de entendermos isso é observar o mercado do futebol brasileiro: os jogadores em sua maioria tem origem negra. No entanto, quando a gente pensa nos cargos de gestão, direção, comissão técnica, o negro desaparece, afirma Carter Batista, dono da página Esse Dia Foi Louco.

E se os jornalista negros são minoria, as jornalistas então, nem se fala.

Uma das exceções é a carioca Rafelle Seraphim, que atua na bancada do Redação Sportv como comentarista e comanda o Dominando a Área nas redes sociais.

“Eu não sinto que ser uma das poucas mulheres negras nesse espaço seja bom. Mas importante. Gostaria de ter tido referências e de me ver representada ao longo da minha jornada de construção da profissão, mas não aconteceu. Hoje eu acabo sendo a representatividade para mulheres que almejam o mesmo que eu. Ainda é o começo, algo embrionário, mas saber que pelo menos uma mulher não vai desistir por ter me visto ali, abrindo uma possível porta, me dá muito mais força. Mas o que vai me deixar feliz mesmo é a proporcionalidade, a naturalidade de jornalistas negras ocuparem esses espaços.”

Diego e Rafaelle dividem o microfone com Marcos Luca Valentim, Pedro Moreno e Thales Ramos no podcast Ubuntu Esporte Clube. A ideia do programa é trazer uma visão afrocentrada sobre o esporte, cultura e política.

Se posicionar ainda é difícil, mas necessário

Infelizmente, o futebol brasileiro ainda é um espaço despolitizado e que não incentiva os jogadores a se engajarem em causa sociais. Como comentamos no início, o cenário no basquete norte-americano é bem diferente.

“A NBA é uma das principais competições de todo o mundo. A força dessa organização é gigante e apoiar os jogadores nas manifestações é sinal de que é necessário entender as dores do outro para estar num ambiente melhor”, opina Diego.

Quando se fala em posicionamento contra o racismo no futebol, um dos exemplos mais lembrados é o de Grafite, que em 2005, após xingamento racista emitido pelo argentino Leandro Desábato em uma partida da Libertadores, se tornou o primeiro jogador brasileiro a denunciar um caso de injúria racial.

Reportagens da edição de 15/10/2005 do caderno de Esportes do jornal O Globo.

Em entrevista ao Contra-Ataque, o ex-jogador, que hoje atua como comentarista no Sportv, contou que no futebol europeu existe uma ênfase na luta contra o racismo no futebol.

“Lá, durante toda a temporada tinha campanha. Entrávamos com faixa nos estádios, fazíamos campanha publicitária combatendo o racismo e era durante todo o ano, não era só esporadicamente. Aqui no Brasil é mais em datas marcantes, 13 de maio, 20 de novembro, quando o pessoal dá muita ênfase ou quando acontece um caso como foi o meu em 2005”, aponta.

“Infelizmente, no Brasil existe muito racismo ainda, não só dentro do futebol. Casos como o meu acontecem quase que diariamente, quase que toda hora aí nesse Brasil afora, nas ruas, nos escritórios, nas casas, em todos os lugares”, lamenta Grafite.

E como enfatizamos nessa reportagem, nem sempre ele acontece de forma explícita. O relato de Rafaelle ao ser perguntada sobre situações de preconceito que ela viveu trabalhando é mais um exemplo.

“O racismo velado afeta diretamente as mulheres negras por nunca terem sido padrão de beleza imposto pela sociedade. Então, as pessoas naturalizaram não vê-las na frente das câmeras e isso é racismo. Muitas oportunidades não acontecem por esse motivo”, afirma.

Sobre a denúncia de injúria racial feita em 2005, Grafite diz que preferiu não levar o caso adiante e que acredita no arrependimento de Leandro Desábato.

“É passado, eu segui minha vida e ele seguiu a dele. Só lamento ter ficado marcado negativamente por isso, mas ao mesmo tempo abriu uma porta para os negros brigarem pelos seus direitos no Brasil e no Mundo. Depois apareceram outros casos, o do Aranha, do Elias…”, acrescenta.

Diego acredita que o posicionamento de atletas é de extrema importância. Ainda citando o feito dos jogadores da NBA, disse que eles deixaram o legado de que fazer isso hoje não é sinônimo de perder o patrocinador ou o emprego.

Lewis Hamilton protestou contra o racismo diversas vezes na Fórmula 1 em 2020. (Fotos: Getty Images/EPA)

“Mas vale reforçar que quando eu falo ‘se posicionar hoje’ na posição de LeBron e Hamilton, eles estão em outro patamar esportivo e colecionam inúmeros títulos. Vários outros atletas, sem a força que os dois têm no esporte, poderiam perder espaço. O ginasta Ângelo Assumpção, por exemplo. Um dia, umas das promessas do Brasil. No outro, sem emprego”, comenta Diego.

E o posicionamento dos profissionais que estão em posição de poder, como os analisados neste levantamento? Marcel pontua que, no Brasil, isso é ainda mais complicado.

“De uma forma geral, a sociedade procura negar esse problema social. A primeira reação é ‘não somos um país racista’. É aquela velha ideia de que existe racismo no Brasil, mas o indivíduo é uma ilha de democracia racial. Ele é cercado por racistas, porém é incapaz de apontar alguém que o seja”, analisa.

E mesmo quando há alguém consciente nesse meio, esbarra na mesma situação vivida por Ângelo Assumpção ou pelo jogador de futebol americano Collin Kaepernick, que está sem contrato com nenhum time desde que protestou contra o racismo nos jogos da NFL em 2017.

“Não vemos negros nesse cargos, exceto raríssimas exceções, e que ao longo de suas carreiras já sofreram bastante por serem negros. Para conseguir suas primeiras oportunidades, eles precisaram insistir muito. E eles sabiam que a negritude, se já não barrava de entrada, os impediria de crescer na carreira se eles ficassem tocando nesse ponto”, raciocina Marcel.

Para acabar com o racismo no esporte, seja ele explícito ou estrutural, é fundamental parar de fingir que ele não existe nesse meio e buscar formas efetivas de enfrentá-lo e disseminar informação, dentro e fora dos estádios. Essa é uma luta de todos.

“Tem que haver mais engajamento por parte do governo, das entidades, dos clubes e dos jogadores. Acho que só assim podemos combater o racismo de forma latente, com força, determinação”, conclui Grafite.

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Cultivo especial aversão ao homem-de-bem, à família tradicional e ao Brasil que deu certo.