A guerra do sexo é bíblica? Então porque estamos guerreando?

Uma análise sobre o “pecado de Adão” e o nosso pecado

Bruno A.
o mundo precisa saber
4 min readJul 21, 2024

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Photo by Tim Mossholder on Unsplash

O primeiro episódio da guerra dos sexos aconteceu no Éden (Gênesis 3). Ao comer do fruto proibido, Eva peca. Em seguida, ela oferece o fruto ao Adão, que também prova e também peca.

Quando aborados por Deus, Adão dá início a guerra dos sexos:

“A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi.” (Gn 3:12).

É uma dupla transferência de culpa. Adão, segundo ele próprio, não comeu da árvore pela sua própria desobediência, e sim por causa da influência da mulher e por causa do erro do Deus que a colocou ao seu lado.

O argumento foi prontamente rejeitado pelo Criador, que atribuiu a ele o mesmo pecado de Eva. Ambos foram expulsos do Éden.

De lá pra cá, se foram alguns milhares de anos, e a nossa atitude masculina não mudou. No século 21, bomba na internet conteúdos sobre homens que tomaram a pílula vermelha e entraram na matriz: vivem em um mundo de fantasia onde todas as mulheres são uma potencial ameaça, o que aliás, vai de encontro ao discurso feminista que eles tanto recriminam.

O problema do discurso da guerra dos sexos

Cenas naturais de países em guerra são pessoas fungindo ao modo “salva-se quem puder”. Filas intermináveis em postos de gasolina e supermercados. Toda gasolina e todo papel higiênico devem ser estocados por você, não importando se o seu vizinho vai ficar sem. É o “cada um salve-se a si mesmo”.

É o egoismo. Sentimento até mesmo necessário em momentos onde nossa vida e integridade está em perigo.

E esse é o problema do discurso alarmista de guerra: nos tornamos egosistas diante de uma possível ameaça. Não importa mais a moral ou o caráter. O que importa é se salvar a qualquer custo. “Na guerra, vale tudo”.

Isso motiva os conteúdos de red pills contra mulheres. Se todas as mulheres são potencias ameaças, se todas elas estão procurando uma forma de se aproveitar dos homens, então é necessário ser egosísta, pensar em si mesmo antes de mais nada. Salve-se quem puder.

Logo, o homem provedor de Efésios 5, tão louvado nesses mesmos discursos de masculinidade, perde espaço para o homem com medo, que age de maneira alarmista, infantil, procurando sinais de ameaça no sexo oposto. Daí tantos vídeos masculinos repreendendo comportamentos femininos, onde mulheres não podem ter amigos, não podem sair, não vestir certas roupas, não podem ser mães solteiras, entre tantas outras coisas.

E quando nós trocamos os ensinamentos de Cristo, de amor, humildade, doação, fraternidade, perdão e tantas outras coisas pelo egoísmo e ódio motivado pelo medo, ficamos como Adão, nus diante de Deus. E a nossa justificativa, que costuma ser igual a de Adão — “estou pecando por causa da mulher que tu me deste” — mais uma vez será rejeitado por Deus.

Mas mulheres más existem

É certo que existem, assim como homens maus também. Mas, como aprendemos em Romanos 12, não devemos tomar a forma deste mundo caído, pagando o mal com o mal. Pelo contrário, temos que abencoar até mesmo os que nos perseguem.

Como já tratamos anteriormente, homens estão longe de um ambiente onde são perseguidos por mulheres (o que acontece normalmente é o contrário). Então há muito espaço para praticar o ensinado em Romanos 12.

Como homens, e cientes dos erros da masculinidade que estão provados em números e casos que todos conhecemos de perto, deveríamos praticar o acolhimento: chorar com as mulheres que choram, praticar a hospitalidade, abençoar.

À alguma mulher que esteja lendo esse texto, eu sei que parece o mito da princesa que precisa ser salva pelo herói, mas não é bem isso. Veja.

Se a maior parte dos gestores são homens, deveríamos ter um olhar mais sensível para mulheres que nunca alcançam melhores posições e salários em seus locais de trabalho, mesmo se preparando muito para isso. Se a maioria dos pastores são homens, deveríamos ser mais sensíveis com os casos de violência doméstica que acontecem entre as ovelhas que dizemos a Deus que estamos cuidando.

E esses dois exemplos acima, se praticados, já resolveria muito dos problemas que alimentam essa insana guerra do sexo até hoje.

Virar as costas para essas realidades por causa dos alegados exageros do feminismo (o que aliás, trataremos por aqui em breve) é mais uma versão da desculpa de Adão no Éden. E mais uma vez seremos repreendido por um Deus que mandou acolher (Mateus 25:35–40).

Vamos refletir?

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