O custo da dessacralização da mulher

Ricardo C. Thomé
O Conselho
Published in
6 min readJan 13, 2021

A revolta contra a feminilidade e a frustração da mulher pós-moderna.

O fetiche igualitarista nas relações de gênero criou diversas promessas e distorções na sociedade e na autopercepção dos sexos. Se por um lado prega-se a igualdade como meio justo de libertação dos papéis sexuais, do outro tenta-se reparar artificialmente as consequências de forçar estes desiguais a conviverem sob as mesmas pressões do meio. Uma contradição percebida inclusive pelo meio feminista da autora e ativista Maria Rita Kehl em trecho de entrevista, diz ela:

“A mesma geração de mulheres dos anos 70 e 80 (da revolução sexual) que reivindicou a igualdade de se comportar como homens — recebendo o aval social para revidar cantadas, de ser aquela que terá a iniciativa de levar o homem para cama e etc — são as mesmas que ficam chocadas depois que os parceiros casuais somem, seja por não terem ligado ou mandado flores. Afinal, qual era a condição do romantismo? Inegavelmente o tabu da virgindade feminina, que ao longo da últimas décadas foi perdido. Isso demonstra que as mulheres não querem perder nada de nenhum dos lados, desejando serem “masculinas” no estilo de vida e ao mesmo tempo serem adoradas romanticamente num contexto em que não se cabe mais. A condição do romantismo “nós” quem derrubamos, nós mulheres. Outro exemplo sintomático que vejo é a questão do assédio sexual, pois o que estas leis sobre assédio estão criminalizando? Criminalizam justamente a dessacralização do corpo da mulher, evitando que o homem possa ser insistente, chato, tocar, pegar, ser inconveniente… Tornar isso crime numa geração de mulheres que pediu por isso, que quis dessacralizar os seus corpos (se despindo da aura do tabu da virgindade), é querer também as duas coisas ao mesmo tempo.”

Claro que a aceitação masculina a revolução sexual num geral foi positiva, é um fenômeno sociológico, quanto mais barateado for o sexo, menos os homens precisarão se comprometer emocionalmente para consegui-lo, isso porque já não é mais necessário tal profundidade emocional que só traz mais responsabilidade para quem a adere, e o homem médio sente isso, trilhando (naturalmente) pelo caminho de menor sacrifício para obtê-lo (o sexo).

Em última instância, é a mulher quem, inconscientemente (como grupo), determina as regras do jogo sexual, elegendo o que os homens precisarão fazer ou o modo como deverão agir para obter o que desejam, e é por isso que muitos homens sequer criticam a liberação sexual, pois eles quem são os diretamente beneficiados no curto prazo, justamente por não precisarem mais passar por inúmeros ritos sociais, como namoro, crivo familiar, regras sociais para flertar, noivado e casamento para levar uma mulher para a cama.

São poucos os homens com algum valor que ainda aderem ou se submetem aos rituais românticos incondicionalmente (como em gerações anteriores), a maioria simplesmente está respondendo “sim” a tão desejada dessacralização do ser feminino almejada pelo feminismo dos anos 70: o desprivilegio de ser tratada como homem socialmente e no campo amoroso.

A ilusão do mercado de trabalho como realização da mulher

Há embutida a idealização do mercado de trabalho como fonte de realização feminina, neste discurso a autonomia econômica seria a peça que faltava para preencher a uma eterna inquietação feminina por significado. Ao longo do desenvolvimento da sociedade de livre mercado não era conveniente para os donos dos meios de produção que metade da população economicamente ativa (as mulheres) se abstivessem do mercado de trabalho, percebendo que 50% do potencial mercado consumidor eram as donas de casa, que geriam o lar, a vida doméstica, realizando trabalhos esporádicos como renda extra e cuidando dos filhos o sistema capitalista encontrou na propaganda feminista uma forma de diminuir a importância das funções das mulheres que optassem por uma vida doméstica, a propaganda crescente deu à vocação maternal e do lar aspectos pejorativos, e a mulher então, convencida de que sua realização passava pela independência financeira, lançou-se no mercado de trabalho, para competir diretamente com os homens.

“O feminismo trouxe a ideia confusa de que as mulheres são livres quando servem aos seus empregadores, mas são escravas quando ajudam seus maridos.” (G.K. Chesterton)

Acontece que trabalhar nunca foi um privilégio para os homens, sempre foi visto como uma questão de sobrevivência e provisão daqueles pelos quais é responsável (pouco do dinheiro do homem médio é usado para o seu próprio prazer). Turnos fechados, horas extras, inflexibilidade, exaustão emocional, abusos hierárquicos, cargas de responsabilidade e stress afetando a vida fora do serviço e etc, o homem sempre soube que trabalhar era uma necessidade, e não um prazer. As propagandas feministas da 2ª onda do movimento utilizaram da ínfima parcela de homens em topo de hierarquia, abastados e em trabalhos cômodos, para convencê-las (as mulheres) a ingressarem no mercado — enaltecendo o estilo de vida liberal e consumista para a mulher que trabalha — , quando a realidade é que a maioria esmagadora dos homens sempre trabalhou em funções desagradáveis, exploradoras, desmotivadoras e periculosas.

E como resposta a esse novo mercado, outrora adormecido, criou-se uma indústria voltada a essa nova mulher, solteira, masculinizada pelo ambiente de competição profissional, gastadora, sem filhos e sexualizada pela vida hedonista fora do ambiente familiar, entendendo até mesmo o controle e canalização dos impulsos sexuais pregado da antiga vida tradicional como uma prisão que deve ser superada.

Décadas passaram desde estas revolução que prometeram às mulheres realizações e felicidade, mas pouco ou nada disso foi entregue a elas. Um dos mais relevantes estudos nesse sentido é de 2009 divulgado no American Economic Journal: Economic Policy por Betsey Stevenson e Justin Wolfers chamado The Paradox of Declining Female Happiness (O Paradoxo do Declínio da Felicidade Feminina) estipulando uma medida chamada de “bem-estar subjetivo”, como resultado, resumidamente, constatou-se que o bem-estar subjetivo masculino aumentou de modo sutil, enquanto que o feminino, que em 1972 era relativamente maior que o masculino, caiu em relação ao patamar de 34 anos atrás. Para os autores do estudo, essa infelicidade se dá pela frustração feminina em relação aos movimentos de libertação da década de 70. É estimado que 49% das mulheres relatam ter o nível de estresse aumentado nos últimos anos, e foi constatado que os maiores usuários de medicamentos antidepressivos são mulheres na casa dos 40 anos. É nítido que a promessa de felicidade no mercado de trabalho e abandono da feminilidade e maternidade (entendido aqui como algo vexatório) criou problemas no psicológico da mulher pós-moderna.

Curiosamente, muitas mulheres, entendendo como negativas as consequências de uma vida voltada ao trabalho e abdicação da família e da feminilidade, estão resgatando alguns pontos da forma de vida pré-industrial e tradicional para a sua rotina prática e modo de enxergar a realidade, redescobrindo as suas demandas femininas mais íntimas ao invés de rejeitá-las ou envergonharem-se delas, mas este ainda é um movimento tímido, de nicho e ainda teoricamente contraditório quando posto em prática, sobretudo diante de uma sociedade liberal que não comporta mais determinados estilos de vida onde o aspecto do feminino é ressaltado. A estas mulheres e aos homens que buscam desligarem-se da propaganda liberal feminista, da hiper sexualização como forma de liberdade e do consumismo de gênero como fonte de satisfação e da ideia do seio familiar como opressivo terão uma árdua batalha cultural pela frente, pois o atual sistema foi alimentado por décadas e os fomentadores deste rentável mercado do empoderamento não largarão o osso tão facilmente.

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Ricardo C. Thomé
O Conselho

Criador do projeto O Conselho. Professor e livre opinador sobre o homem, vida, morte e tradição | Instagram @ricardocthome