O Homem Falho e a Masculinidade Metafísica

Ricardo C. Thomé
O Conselho
Published in
4 min readAug 26, 2020

O homem essencial se encontra no arquétipo transcendente da masculinidade, e não em figuras terrenas reféns da limitada percepção temporal de sua época.

algo de essencialmente errado na busca por modelos de masculinidade na era moderna. Breves minutos naufragando nas redes e sua imaginação moral é inundada por figuras controversas, contraditórias, incoerentes e — por vezes — vazias de sentido e significado, rodeadas por seguidores, modelos profissionais, acompanhantes de luxo, locais artificialmente paradisíacos e fotos estrategicamente montadas para expor uma ideia de poder, fama e domínio. No entanto, basta uma breve pesquisa sobre tais figuras entendidas hoje como homens ideais (geralmente pertencentes a cúpula artística ou financeira) para rastrearmos um histórico de abusos, vícios e vexames.

Acontece que a vida de muitos destes homens em topo de hierarquia é fabricada, nada mais são que um produto de uma adoecida sociedade mercadológica, inautênticos por natureza devido a sua subserviência a um imaginário caricato do que é o sucesso e a fama na pós-modernidade: Mulheres alugadas (seja com dinheiro ou projeção), automóveis enfileirados, fortuna herdada, luxo e calhamaços de notas nas mãos; e é este o tipo de masculinidade que muitos garotos em estágio de amadurecimento miram ou idealizam neste contexto de escassez de mitos e ancestralidade.

O homem é uma corda estendida entre o animal e o Super-homem: uma corda sobre um abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar; perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar. O que é de grande valor no homem é ele ser uma ponte e não um fim: o que se pode amar no homem é ele ser uma passagem e um acaso. (Friedrich Nietzsche)

Pondo nossos olhos na antiguidade, a exemplo da cultura dos espartanos, a despeitos de seus reis de carne e osso de sua época, entendiam-se como descendentes diretos de Hércules; escolhendo uma divindade para se afirmarem como povo ao invés de figuras públicas de seu tempo. O porquê é óbvio. Figuras humanas não merecem o título de ídolos, pois são falhas e contraditórias por essência, ao passo que figuras ancestrais e míticas são um modelo ideal por possuírem um arco no qual seu triunfo sobre o mundo é definitivo, é como se nestas histórias residissem uma fórmula hermética primordial para se alcançar a glória e vencer os seus medos e temores.

Figuras humanas são passíveis de admiração, mas nunca de idolatria, pois suas vidas — não sendo um modelo absoluto de transmutação do EU em algo superior — estão permanentemente ameaçadas pela infâmia e pela tragédia, levando seus seguidores a reproduzirem suas quedas, e não o seu triunfo. É por este motivos que o homem deve infestar a sua imaginação moral com as jornadas épicas dos grandes entes dos alfarrábios empoeirados. Que homem em seu tempo se aproxima dos arcos de Ulisses, Aquiles, Perseu ou Heitor? Que astro do cinema, cobiçado por tantos, pode-se dizer tão próximo da iluminação de Sidarta, Cristo ou Muhammed? Que atleta compara-se ao vigor físico da batalha apocalíptica de Gilgamesh contra besta tão terrível como o dragão sumério Tiamat?

Abandone as celebridades artísticas decadentes e figuras políticas de seu tempo como alvos de idolatria, e conheça as sagas destes homens acéticos, onde suas jornadas são como fórmulas alquímicas atemporais para o triunfo da masculinidade, contidas em obras que aguardam ansiosamente, nas prateleiras empoeiradas por desuso, serem (re)visitadas e decifradas no presente momento. Leia as Eddas Poéticas nórdicas ou junte-se a Odisseia grega; conheça a jornada escatológica de Dante e Virgílio pelos aterradores círculos do inferno na Divina Comédia ou revisite o caminho de Perseu contra a besta Medusa e o triunfo de Cristo sobre a morte; abra a Epopeia de Gilgamesh do mito sumério ou leia sobre a ascensão de Rá como soberano do Nilo.

Os mitos exemplares não findam. Mas exigem um olhar apurado para desembaralhá-los.

O homem essencial se encontra no arquétipo transcendente da masculinidade, e não em figuras terrenas reféns da limitada percepção temporal de sua época. É preciso exercer a prática da masculinidade metafísica, pois quando replicamos atitudes por hábito ou costume perdemos parte do significado que nos leva a estas ações. É necessário decodificar a mitologia do homem soterrada nos épicos do passado, para que cada atitude, quando realizada, seja parte de um rito que nos direcione ao elevado.

Por uma masculinidade metafísica.

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Ricardo C. Thomé
O Conselho

Criador do projeto O Conselho. Professor e livre opinador sobre o homem, vida, morte e tradição | Instagram @ricardocthome