It's the end of Coworking…

Leo Ornelas
Octop
Published in
5 min readMay 4, 2020

… as we know it (and I feel fine).

Fazendo uma adaptação da música lançada em 1987 pelo R.E.M. (que 33 anos depois, faz mais sentido do que nunca), começamos o post já com um spoiler: o mercado de Coworking não vai ser o mesmo no pós-pandemia (e está tudo bem).

Esse não é mais um post sobre como a WeWork está sofrendo para pagar os alugueis na quarentena, com especulações do mercado de que não irão reabrir algumas unidades e deixando investidores do Softbank com crises de ansiedade. Abordaremos aqui a visão do mercado como um todo, com foco no mercado brasileiro de Coworkings de médio e pequeno porte.

A pergunta que mais recebemos nos últimos 40 dias foi: vocês acham que o mercado de Coworking irá sobreviver à pandemia do Covid-19? A resposta é bem clara, para não gerar dúvidas: Sim, ele irá sobreviver. É importante lembrar que o Coworking praticamente nasceu na crise (a de 2008 dos EUA), e sobreviveu diversos momentos de baixa do PIB Brasileiro (como em 2015–2017). Nesses 2 momentos, o mercado manteve a tendência de crescimento de praticamente dobrar a cada ano, como podemos ver nessa estatística aqui sobre o mercado global e nessa aqui sobre o mercado brasileiro.

De onde vem esse medo, então?

1. Aluguel de longo prazo x planos de curta duração

Diferentemente dos aluguéis padrões de mercado que duram 1, 3, 5 ou 10 anos, os "inquilinos" dos Coworkings, chamados de coworkers ou residentes, pagam em sua maioria "aluguéis" (planos) de curtíssima duração: 3 meses, 1 mês, 15 dias ou 1 dia. Então é claro que, em momentos de crise como esse, essa conta não fecha. O dono do espaço continua pagando o aluguel (e todos os outros custos fixos), enquanto os residentes vão deixando de renovar os planos que venceram.

A flexibilidade de tempo de contrato foi o que consagrou o Coworking como uma opção inovadora para o mercado imobiliário, e é a mesma que está penalizando financeiramente os espaços — pelo menos no curto prazo.

2. Muita gente? Nem pensar.

O pós-pandemia irá trazer também a aversão à aglomeração. Os escritórios compartilhados são, de certa forma, lugares em que muitas pessoas independentes (não fazem parte do mesmo círculo ou mesma empresa) convivem. E como o próprio nome já diz, no escritório compartilhado, tudo é compartilhado: canecas que enchem os cafés, o talher do almoço, o banheiro, a cadeira, a mesa… É natural que as pessoas demorem alguns meses até se sentirem seguras para voltar à rotina de trabalho que tinham antes.

Algumas medidas devem ser adotadas para acelerar esse processo, como diminuição da capacidade dos espaços compartilhados e salas, dispensers de álcool em gel instalados em todas as áreas comuns e avisos de conscientização para lembrar as pessoas de que se deve lavar a mão por pelo 20 segundos.

Para um negócio lastreado em pessoas, como o Coworking, a tempestade vai demorar um pouco mais a passar. O pessimismo do mercado é claro, e alguns players já estão saindo do barco e encerrando as atividades (como a plataforma de gestão de Coworking Cora).

Foto por Bruno Pinheiro no Manifesto Coworking

Otimista por quê?

Apesar de tudo, empreendedores são otimistas por natureza. A resiliência surge já no momento de abrir o CNPJ, que leva em média 79 dias. Olhando para esse mercado e analisando a sua reação ao COVID-19, é possível identificar padrões muito importantes para traçarmos um futuro (no médio e longo prazo) de resultados muito positivos para os Coworkings.

1. O filtro natural de uma crise

Quantas vezes já ouvimos falar de um novo Coworking que abriu nos últimos 2 anos? Shopping Centers, bancos (!), imobiliárias e até mesmo restaurantes que querem surfar na onda da inovação abriram seus espaços de trabalho compartilhado e o denominaram de Coworking. O combo mágico de mesa, cadeira e internet não pode e não deve ser chamado de Coworking.

Muito mais do que um espaço físico, um Coworking é feito por pessoas. A comunidade é o ativo mais importante desse mercado. E é exatamente por isso que as empresas líderes de mercado possuem um cargo específico para cuidar desse ativo: o gerente ou a gerente de comunidade.

A crise vai quebrar os que estão se aventurando no mercado, e fortalecer aqueles que são profissionais, que estão no mercado com propósito e valorizam sua comunidade. As empresas sérias, mas que investiram numa overexpansion nos últimos anos também irão sofrer.

2. Padrões de trabalho quebrados

É indiscutível que os padrões de trabalho estão sendo destruídos nessa crise. Empresas que eram engessadas e adotavam estratégias de 1929 com seus funcionários se viram obrigadas a buscar alternativas para não quebrarem. O home-office (teletrabalho) antes muito questionado, virou o novo normal. A reunião que poderia ter sido um email de fato foi um email. Trabalhar nas suas horas mais produtivas (mesmo que elas sejam intercaladas) e não de 9h — 18h agora parece óbvio. Na verdade, ser cobrado por produtividade e não por horas trabalhadas parece ser cada vez mais aceito (finalmente). Não perder horas e horas no trânsito para ir trabalhar é a nova rotina.

A flexibilidade vai ser uma característica inerente às empresas que sobrevierem à crise. Os dois lados viram os benefícios do novo normal, e dificilmente voltarão ao padrão antigo. O Coworking é, portanto, o grande aliado nesse novo comportamento de trabalho, possibilitando empresas e funcionários a serem flexíveis e mais humanos.

É necessário, entretanto, entender que não existe uma fórmula mágica para as empresas. Tem gente que ama o home-office e aumentou a sua produtividade significativamente, e tem gente que não consegue quebrar o ciclo filhos-comida-louça-cachorro-tv. Mas uma coisa é certa: muita gente está traumatizada de trabalhar de casa. O Coworking mais uma vez vai se mostrar como a solução para esse problema.

3. Mercado imobiliário em parafuso

Já estamos vendo algumas placas de aluga-se surgindo. Preços de aluguel e compra de imóveis caindo. Sinais claros que uma crise imobiliária vem como consequência dessa crise humanitária. As empresas estão vendo que o custo de se ter um escritório fixo é muito alto para um mundo suscetível a crises.

E se existisse uma alternativa em que você não precisasse ter custos fixos de escritório para que os seus funcionários pudessem ser produtivos, com a melhor estrutura possível? Existe, e a resposta você já sabe.

No fim das contas, o cenário parece positivo para o mercado de Coworking. É tempo de aprender com o que está acontecendo. É tempo de ser mais humano e de se fortalecer com comunidades.

Nada voltará ao normal. O novo normal está surgindo, e teremos que ser adaptáveis e flexíveis para sobreviver a ele.

No curto prazo, o impacto financeiro vai ser (já está sendo) evidente. Pra isso, algumas soluções como negociações de custos e empréstimos podem ajudar a empresa a sobreviver.

No médio e longo prazo, o mercado irá se fortalecer e trazer novas soluções para os novos padrões de trabalho. Afinal, ser inovador e flexível é a essência de um Coworking. Não é o início do fim. É o começo de uma evolução necessária.

Leo Ornelas é o autor do texto e sócio do Manifesto Coworking (Brasília, 2017) e da Octop (Brasília, 2020).

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