Diversifica: como surgiu o comitê de diversidade do Olist

Rhayana Souza
olist
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8 min readJun 22, 2020

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Muita gente já procurou por um olister para perguntar como surgiu nosso comitê de diversidade, se foi fácil abraçar essa causa dentro da empresa, como o estruturamos etc.

Por que não fazer um artigo para compartilhar o que deu certo (e também o que não deu) até agora? Então senta que lá vem a história.

Quando me procuram para fazer bench, eu gosto de começar dizendo que a criação do nosso comitê foi algo totalmente orgânico e criado a várias mãos.

Em maio de 2019 eu participei de um evento em Curitiba cujo foco era discutir o tema diversidade dentro das empresas. Saí de lá com a certeza de que a gente precisava fazer alguma coisa para fomentar o assunto dentro do Olist.

Praticamente ao mesmo tempo, alguns olisters trouxeram à tona mais ou menos o seguinte questionamento: “Vejo muitas empresas fomentando a diversidade, qual o posicionamento do Olist em relação ao tema? Já pensamos no assunto?”.

Estava claro que a gente precisava falar sobre isso, mas por onde começar?

O primeiro passo foi marcar uma reunião pra gente falar sobre diversidade com qualquer pessoa da empresa que tivesse interesse no assunto. Nesse encontro, que contou com a participação do CEO, listamos todos os tipos de diversidade que conseguimos imaginar e fizemos um grande brainstorm sobre o que poderíamos fazer.

Decidimos então criar um comitê de diversidade. Nesse meio tempo, eu e mais alguns colegas conversamos com diferentes empresas de Curitiba que já tinham iniciativas de diversidade, assim poderíamos aprender um pouco com quem já estava no caminho.

De volta ao Olist, abrimos um formulário de inscrição para quem quisesse participar ativamente do comitê e nos surpreendemos com a quantidade de inscritos. Olisters de alguns setores tiveram mais interesse do que de outros, mas decidimos que de duas a três pessoas por setor seria uma solução equilibrada. E pra ficar ainda mais justo, convidamos cada um dos times para se reunir e decidir entre os inscritos quem seriam as pessoas da mesma equipe que integrariam o comitê.

Dias mais tarde era formada a nossa primeira comissão com 21 pessoas (na época, nosso time tinha cerca de 200). Em conjunto definimos algumas regras: os encontros seriam quinzenais, sempre às quartas-feiras, das 11h às 12h.

No começo era tudo muito intangível. Tínhamos mais perguntas do que respostas, mas a coisa foi tomando forma e o comitê ganhou até nome: Diversifica — comitê de diversidade do Olist.

Pesquisa de diversidade e Manifesto Olist

Antes de sair falando sobre o assunto, a gente precisava olhar para dentro de casa. Fizemos então uma pesquisa 100% anônima para entender o quão diverso era o time do Olist. Neste link você confere todas as perguntas que inserimos em nosso formulário.

Paralelamente, começamos a redigir um documento relatando o posicionamento da empresa em relação a qualquer ato de preconceito. Criamos assim o Manifesto Olist pela Diversidade — esse documento é entregue no kit de onboarding de novos olisters, dessa forma garantimos que as pessoas que estão chegando na empresa tenham conhecimento sobre o posicionamento do Olist desde o dia 1.

Isso tudo aconteceu em junho/2019 e a gente sabia que no dia 28 daquele mês seria comemorado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQI+. Por que não aproveitar a data para apresentar o comitê formalmente e fazer a nossa primeira ação numa tacada só?

No Olist nós temos uma cerimônia — a mais tradicional da empresa — chamada Town Hall Meeting. Ela acontece toda semana e conta com 100% da empresa (é todo mundo mesmo: pessoal do escritório em Curitiba, escritório em São Paulo e remotos espalhados pelo mundo). Nessa reunião são abordados assuntos diversos sobre a companhia, momento de negócio, ações futuras etc.

Negociamos internamente e conseguimos uma Town Hall com exclusividade para uso do comitê. Usamos o encontro para apresentar nosso comitê, mostramos os resultados da nossa pesquisa de diversidade e também apresentamos o Manifesto.

Pra fechar, convidamos o Felipe Kato para contar aos olisters a origem do Dia Internacional do Orgulho LGBTQI+ e a história da Rebelião de Stonewall, que completava 50 anos naquele dia, 28/06. Além de apresentar o contexto desse evento marcante, o Felipe também compartilhou um pouco da sua história e os desafios que uma pessoa homossexual enfrenta ao assumir sua orientação sexual publicamente. Essa Town Hall especial fez muitos olisters se emocionarem e jamais será esquecida por quem estava lá! ♥

Ações do comitê

Depois da primeira ação, criamos um calendário temático para a cada mês falar sobre uma diversidade diferente. Selecionamos o tema com base no calendário de datas comemorativas (ex.: em novembro falamos sobre racismo, pois dia 20/11 é o Dia das Consciência Negra) e com base em nossa pesquisa, considerando os temas apontados pelos olisters.

As principais ações que realizamos todo mês são: “Pílulas da diversidade” (conteúdos informativos em texto, vídeo ou áudio) publicadas em nosso canal oficial de comunicação (Slack), cartazes pelas paredes dos escritórios e um encontro com especialistas no tema (na maior parte das vezes fazemos uma mesa-redonda formada por olisters e convidados externos). Nos links abaixo você confere um pouco do que já fizemos:

Canal de denúncias

Uma coisa interessante que outras empresas fazem e nós optamos por não fazer — pelo menos até o momento — é criar um canal de denúncias anônimas. O motivo é porque no Olist prezamos MUITO pela transparência e pela confiança. Estimulamos que os olisters se manifestem sempre que ouvirem algum comentário ou presenciaram alguma atitude que não estejam de acordo.

Claro que nem sempre nos sentimos à vontade para “dar um toque de amigo” a uma pessoa que não temos tanta intimidade. Nesses casos, os olisters sabem que podem procurar por qualquer um dos membros do comitê e a gente vai ajudar no processo de educação da pessoa que foi ofensiva, junto com as nossas BPs, para que a situação não ocorra novamente.

E isso funciona de verdade. Já tivemos algumas situações em que olisters procuraram por membros do comitê e o olister do Diversifica expôs o caso mais ou menos assim: “uma pessoa me procurou para falar sobre a situação X, alguém sugere alguma abordagem pra eu cuidar disso?”. Não compartilhamos o nome de quem fez a denúncia e muito menos de quem foi a pessoa “acusada”. Assim vamos construindo um ambiente cada vez mais seguro e confiável. Nos casos mais sérios, envolvemos as BPs para uma abordagem mais assertiva.

Rotatividade do comitê

Com o passar do tempo, alguns integrantes não conseguiram conciliar as tarefas do dia a dia com os encontros e as responsabilidades do comitê. Nesses casos, os membros foram deixando o grupo voluntariamente. Criamos então uma nova regra: a pessoa que se ausentar de três reuniões seguidas (exceto se a justificativa for férias ou doença), será convidada a ceder seu lugar para outra pessoa que queira participar do grupo. Muitos olisters gostariam de estar no comitê e não puderam entrar, então contamos com o verdadeiro comprometimento de quem fez a escolha de estar ali representando a empresa.

Também optamos por não ter uma rotatividade muito frequente de membros do comitê para podermos dar continuidade às ações que começamos. Então, no começo de 2020 criamos squads de interesse para que pessoas de fora do comitê também pudessem participar das ações. Listamos todos os temas que planejamos abordar no ano em um formulário e o enviamos ao time. Assim, cada pessoa poderia se inscrever para participar do comitê somente quando o assunto que ela mais se identifica fosse abordado. Os squads também ajudam na divisão de tarefas para que ninguém fique sobrecarregado mês após mês.

Aprendizados

Como nem tudo são “flores”, também erramos ao longo do caminho. Em janeiro de 2020 nos reunimos para montar o calendário de ações 2020, ficou incrível. Então, soltamos mais uma pesquisa de diversidade para entender o quanto evoluímos desde a última pesquisa que rodamos (lá em junho de 2019). No formulário, deixamos um campo aberto para as pessoas dizerem o que achavam das ações do comitê e darem sugestões de temas a serem abordados. O resultado apontou que nosso planejamento não estava completamente alinhado com as necessidades da empresa.

No Olist a gente erra, aprende rápido e segue em frente. Pegamos todo o planejamento que já estava prontinho, viramos ele de cabeça pra baixo e montamos um novo calendário para atender aos principais pontos que surgiram na pesquisa. E, então, veio a quarentena e nosso calendário precisou ser adaptado mais uma vez — as ações do comitê continuam mesmo no home office, agora com encontros 100% online.

Espero que esse conteúdo possa inspirar você e o seu time e que novos comitês de diversidade apareçam por aí. Me conta o que você achou nos comentários e, se você já tem um comitê e quiser acrescentar alguma dica, fique à vontade!

10 CONSELHOS PARA CRIAR UM COMITÊ DE DIVERSIDADE NA SUA EMPRESA

  1. Não dependa do time de RH da sua empresa para criar um comitê de diversidade, não é função dessa área fazer isso. Se você tem interesse pelo tema, reúna pessoas com essa mesma vontade e coloquem a mão na massa juntos!
  2. Apesar de não ser uma obrigação do time de RH, busque o apoio da área e também da liderança da sua empresa. O RH é seu amigo e vocês só têm a ganhar se caminharem juntos. Os líderes têm muito poder de influência e poder contar com eles será incrível.
  3. Quanto mais diversidade dentro do comitê, melhor!
  4. Crie regras para o comitê e elabore um playbook a ser seguido (ele vai ser muito útil quando novas pessoas entrarem no comitê).
  5. Faça uma pesquisa para entender o quão diverso é o seu time.
  6. Monte um calendário semestral ou anual de ações de acordo com o resultado da pesquisa e priorize os temas que mais fazem sentido para a sua empresa agora.
  7. Divida o comitê em squads para não sobrecarregar ninguém.
  8. Pessoas que entraram no comitê megaempolgadas vão desistir ao longo do caminho e tá tudo bem, não fique triste.
  9. Respire fundo e tenha calma. O comitê não vai tornar o mundo mais justo e tolerante do dia para a noite. Cada passo pequeno significa muito na busca por respeito e inclusão. Se você e a sua empresa já deram o pontapé inicial, fique feliz pois estão no caminho certo.
  10. Tome cuidado para não julgar e apontar dedos para a falta de informação. Existe uma coisa chamada viés inconsciente e muita gente nem sabe que aquele comentário que soltou é preconceituoso e pode ofender alguém. Ensine, explique mais de uma vez se for preciso e acredite na educação para transformar o ambiente da sua empresa.

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Rhayana Souza
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Publicitária e tecnóloga em comunicação institucional, apaixonada por branding, publicidade e criação de conteúdo.