Fogueira ecológica é uma opção para reduzir impactos na saúde respiratória
Pneumologista relata que Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica está entre as mais comuns entre as causadas pela queima de biomassa
Por Rawanderson França
Eraldo Simões é médico pneumologista e professor de pneumologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) do Centro Acadêmico do Agreste (CAA) de Caruaru. Também trabalha como pneumologista na Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, em Recife. Como experiência, acumula 32 anos de trabalho na área da pneumologia e 22 anos lecionando aulas no CAA. O especialista falou conosco sobre os riscos à saúde causados pela exposição frequente nas fogueiras juninas e alertou sobre os fatores de desenvolver a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).
Quais os problemas no corpo ao inalar a fumaça das fogueiras juninas?
A queima da fogueira, que chamamos de queima de biomassa, vai liberar várias substâncias na atmosfera: monóxido de carbono, dióxido de carbono e vários outros hidrocarbonetos. Tanto alicíclicos, quanto não alicíclicos. E com isso, como sabemos hoje, existem doenças causadas pela queima da biomassa e uma delas é a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Essa fumaça no nosso organismo vai causar irritação na mucosa ocular e mucosa nasal. Nos pacientes que já são doentes, isso pode aumentar as suas doenças de base, sejam pulmonares ou cardiovasculares. Faça um exercício de imaginação: imagine quantas fogueiras são acesas apenas no dia 23 de junho em Caruaru? E se colocássemos toda essa fumaça em apenas um local? Isso equivale a um incêndio de grandes proporções. Essa é uma tradição que precisaria ser modificada.
Quais os sintomas mais frequentes para identificar se alguém está passando mal?
Começa com a irritação da mucosa ocular e da mucosa nasal. O paciente começa a ter acesso de tosse, um desconforto respiratório com a falta de ar. Esses são os sintomas que é possível identificar precocemente nas pessoas que estão tendo seu quadro clínico piorado pela inalação da fumaça.
No mês de junho também ocorrem muitas chuvas no Nordeste. A presença delas pode agravar a situação?
A chuva por si só não é um problema, mas tem a questão do frio. Isso pode causar uma aglomeração nas pessoas e aumentar as chances de doenças aero transmissíveis. Por exemplo, um paciente doente que espirra e tosse próximo a outro faz com que a cadeia de transmissão se proporcione. Um outro fator encontrado nos tempos de chuva é o aumento de fungos e bolores. Quando inalados (os esporos), a pessoa pode ter doenças imunológicas e respiratórias.
Há pessoas que já apresentam problemas respiratórios como rinite ou asma, são mais vulneráveis. Existem cuidados para reduzir os impactos da fumaça?
Sinceramente, não. O mais recomendado é ir para locais longe da fumaça. Porque a pessoa alérgica pode até não fazer fogueira, mas o seu vizinho faz, o rapaz da outra rua faz. Então fica uma zona de fumaça onde essas pessoas estão. Ou tem uma ação coletiva para não queimar as fogueiras ou as pessoas alérgicas precisam sair da cidade.
Você percebe um aumento de pacientes nas clínicas por causa da fumaça?
Sim, você pode perceber isso nos prontos socorros. Há um aumento de atendimento em pessoas passando mal nessas noites. Se você pegar as estatísticas dos dias 12, 23 e 29, são dias de pico de atendimentos sintomáticos respiratórios nas urgências de emergência.
Você é a favor ou contra da queima de fogueiras?
Se eu pudesse eliminaria as fogueiras. Há alguns anos atrás, eu vi uma fogueira ecológica que é reutilizável. A pessoa montava a fogueira com a madeira e colocava fitinhas de papel celofane laranja, simulando a chama das fogueiras e embaixo colocava uma luz e uma ventoinha de computador. Então, a pessoa faria sua festa e ao terminar desligaria sua fogueira ecológica e recolheria o material para ser usado no ano que vem. Uma atitude para não produzir fumaça e desmatamento.