Pesquisa inédita do OVA revela dificuldades e perigos do transporte para a universidade

Viagens que se prolongam por horas, atrasos, sustos na estrada: os obstáculos para acessar os campi interiorizados no país não acabam no ENEM

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OVA UFPE
5 min readSep 22, 2024

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Uma pesquisa realizada pelo Observatório da Vida Agreste (OVA/UFPE) com 70 estudantes do Centro Acadêmico do Agreste (CAA) revelou os perigos e dificuldades que as e os estudantes enfrentam diariamente para conseguirem estar em sala de aula. Horas na estrada, atrasos constantes, gastos excessivos e transportes sem manutenção adequada atormentam a vida de quem precisa se deslocar cotidianamente para o campus de Caruaru, uma realidade que se repete em outras universidades interiorizadas de todo o país. O levantamento foi realizado em parceria com o Centro Cultural Brasil-Alemanha, parceiro do OVA, laboratório integrante do curso de Comunicação Social do CAA.

A pesquisa foi veiculada entre grupos de estudantes do Núcleo de Design e Comunicação (NDC), formado pelos cursos de Comunicação Social e Design (há também na pesquisa um estudante da engenharia civil). São pessoas que vivem ou em Caruaru ou nas cidades vizinhas e gastam cerca de 4 a 5 horas para ir e voltar para o campus. Isso quando problemas como lotações atrasadas impedem o acesso de quem precisa se deslocar para outra cidade para só então embarcar em um ônibus para a UFPE.

Muita gente também precisa se expor a constrangimentos como ter que aguardar um veículo à beira das rodovias, muitas vezes à noite, uma vez que nem sempre os motoristas dos transportes adentram o campus localizado na Avenida Marielle Franco. Essa é uma questão particularmente dramática para as mulheres, por conta do risco de violência física e sexual. Mas é a impontualidade e o tempo de espera os problemas que mais afligem os e as respondentes, como vemos no gráfico abaixo: 81,4% das 70 pessoas ouvidas apontaram tais questões como as mais desgastantes.

Outra ampla parcela elegeu a má conservação dos veículos como um problema diário.

A mesma quantidade de pessoas — 72,9% dos e das respondentes, ou 51 estudantes — afirma que a superlotação é o pior a ser enfrentado nessas idas e voltas ao campus universitário. O transporte público municipal é o meio utilizado por uma ampla maioria de respondentes: 72,9%. Em segundo lugar, são justamente os ônibus de prefeituras de cidades vizinhas, disponibilizados gratuitamente para estudantes universitários. As vans fretadas, que costumam ser o meio mais caro (chegando a R$ 700 no mês), aparecem em terceiro lugar.

No nosso levantamento, as bolsas de auxílio surgem como vitais: das 70 pessoas que responderam à pesquisa acessada via Google Forms, 35 usam algum auxílio federal, estadual ou municipal, a maioria sendo contemplada pelo primeiro (leia mais sobre as bolsas nesta matéria). Já 41 das e dos respondentes, ou 58% das pessoas ouvidas, pagam as passagens de ida e volta com recursos próprios. Você verá que a soma total, neste caso, é de 76 pessoas: isso porque o questionário de múltipla escolha mostrou que 16 pessoas utilizavam mais de um transporte, 12 delas também usando a linha UFPE 130, única de transporte público regular que acessa ao campus.

A questão do acesso aos campus das universidades federais está totalmente conectada ao expressivo crescimento dos campus no interior do país. De 2003 a 2014, houve um salto de 45 para 63 universidades federais (ampliação de 40%) e de 148 para 321 campi, crescimento de 117%.

No CAA, segundo lemos na pesquisa A importância do transporte público intermunicipal de passageiros na rotina acadêmica de campi universitários do interior do nordeste, o corpo discente (formado por estudantes) era proveniente de 70 municípios. Em 2019, esse número saltou para 164 municípios. Naquele momento, o número de vans ou ônibus fretados representava 82% dos acessos de veículos de transporte coletivo até o CAA.

A expansão trouxe um expressivo crescimento das universidades federais, principalmente no interior do país. De 2003 a 2014, houve um salto de 45 para 63 UFs (ampliação de 40%) e de 148 para 321 campi, crescimento de 117% (Brasil, 2014b). O Nordeste detém ótimos percentuais de aprovação pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): em 2022, de 306.634 ingressantes, 49% conseguiram aprovação, 87% em instituições federais.

Voltando à pesquisa: dos 70 estudantes que fizeram parte do levantamento, o gráfico acima mostra as cidades das quais cada um se desloca para chegar até à universidade. Exatos 50% destes alunos e alunas residem em Caruaru (observe que Caruaru, "caruraru" e Caruaru-PE correspondem à mesma cidade). Trinta e cinco alunos/as são de cidades circunvizinhas, como Agrestina, Alagoinha, Belo Jardim, Brejo da Madre de Deus, Cachoeirinha, Riacho das Almas, Surubim, entre outras.

Em nossa próxima matéria (link abaixo), você vai conhecer de mais perto cada uma dessas pessoas e as suas rotinas.

Confere nossa reportagem:

  1. *
  2. Com a palavra, estudantes que vão e voltam todos os dias para o CAA
  3. O perigo dos transportes sem regulação (e a famosa linha 130)
  4. Taxa de evasão não leva dificuldades de deslocamento em consideração
  5. Da aldeia ao campus
  6. Conheça as bolsas concedidas por prefeituras, Estado e Governo Federal

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projeto de extensão do Observatório da Vida Agreste (OVA), Curso de Comunicação Social da UFPE/Centro Acadêmico do Agreste (CAA)