Taxa de evasão não leva dificuldades de deslocamento em consideração
Realidade enfrentada pelos difíceis deslocamentos até o campus ainda aparece pouco nos estudos que trazem dados sobre desistência dos cursos
A associação entre a evasão no Campus Agreste e as dificuldades enfrentadas pela ausência ou precariedade dos transportes entre universidades e cidades ainda é pouco visibilizada nas pesquisas disponíveis.
A taxa de evasão na UFPE no ano de 2021 foi de 10,9% como relatado no Relatório de evasão anual (2017–2021). Em um outro estudo realizado pela UFPE sobre o tema, publicado em 2020, lemos que “a evasão ocorre com mais frequência (28,3%) antes do terceiro semestre após o ingresso, ou seja, no primeiro ano”.
O levantamento também mostra que quase a totalidade (aproximadamente 95% dos estudantes) não recebia bolsa de apoio social nesse momento.
Entretanto, a análise não detalha a relação entre os municípios de onde os alunos são provenientes e o percentual evadido, que transita numa média de 10% ao ano no CAA. Uma das principais causas para evasão, apontadas pelo estudo, foi o grande percentual de reprovação. Quase um quarto dos alunos reprovaram mais de 90% das disciplinas nas quais se matricularam e 47% reprovaram por falta em mais de 40% das disciplinas matriculadas.
O quanto a questão da ausência de transportes de qualidade, do desconforto, do alto custo e dos perigos das vans e ônibus informais pode ter impactado na obtenção desses números?
O relatório não responde. Em relação aos fatores que mais influenciaram na evasão do curso, os mais citados foram:
“Não ter certeza se estava no curso certo/dúvidas na escolha profissional”, “Decepção com o curso”, “Dificuldade de conciliar o curso com o meu trabalho/atuações profissionais” e “A carreira não ser como eu achava que seria”.
Contudo, numa questão aberta desse mesmo levantamento da UFPE, quase 28% dos pesquisados descreveram fatores pessoais como motivo para terem largado seus cursos (como morar longe, dificuldade financeira, troca de curso e/ou de instituição por questões alheias ao curso anterior e a UFPE, problemas de saúde e problemas familiares).
O Campus Caruaru, que fica a 140 km do Recife, foi inaugurado em 2006 por meio do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). A UFPE passou a contar com o Centro Acadêmico do Agreste (CAA) e o Centro Acadêmico de Vitória (CAV), em Vitória de Santo Antão, a 60km do Recife. Ambos se somaram ao campus Recife, na Cidade Universitária.
Os resultados da nossa pesquisa com 70 alunos, que também questionou os estudantes sobre sugestões de melhoria, foram entregues a representantes do Diretório Acadêmico de Comunicação Social (DACO), como forma de colaborar na persistente luta por melhorias entre os setores envolvidos. Esperamos que estudos futuros, realizados por discentes, técnicos, docentes e com a participação da comunidade, tragam mais elementos cruciais para garantir o acesso e a permanência dos e das estudantes no campus.
Confere nossa reportagem:
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