O que torna Mad Max um ótimo filme.

Dutra
BROS
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7 min readMay 23, 2015

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George Miller pode se consider um cara de sorte. Em 1979 apresentou ao mundo o nosso tão amado Mad Max. Logo depois veio Mad Max 2: The Road Warrior (1981) e Mad Max: Beyond Thuderdome (1985) para fechar a trilogia. Depois do terceiro filme, Miller resolveu fazer outras produções. Happy Feet e Babe (1995) — aquele filme do porquinho que com certeza você já assistiu na sessão da tarde — são duas delas. Então, 30 anos depois ele tem a chance de revistar sua obra. Uma oportunidade de ouro para atualizar conceitos, mas um risco imenso. George Miller voltou para nos presentear mais uma vez.

“My name is Max. My world is fire and blood”

Mad Max: Fury Road inicia relembrando um pouco do que aconteceu nos filmes anteriores. Uma breve recapitulação e cenas demonstrando o quão insano o mundo se tornou. O filme não se esquece de seu passado. Max Rockatansky também não.

Constantemente assombrado pelas suas memórias, Max (Tom Hardy) é um sujeito sem esperanças que se propõe apenas a sobreviver. O que é quase um privilégio no mundo de Mad Max: Fury Road.

O herói que resolve tudo é desconstruído na primeira cena. Uma rápida perseguição e o Interceptor já está capotando no deserto.

Max é então feito prisioneiro e esse é pontapé para que venhamos a conhecer a pequena cidadela que fica entre dois grandes rochedos, controlada por Immortal Joe.

Tudo indica que o mundo de Mad Max foi assolado por guerras nucleares. Pessoas normais e sem problemas genéticos são exceção. O ambiente normal de Mad Max é completamente estranho para nós. Isso é magistralmente feito pela produção do filme. Desde o visual exagerado e alegórico do vilão, até os detalhes dos carros.

Entretanto, toda essa estética não é só para causar estranheza, mas também para passar mensagens. O visual de Immortal Joe também é para representa-lo como uma liderança. Você olha e já tira a conclusão de que não é um ato inteligente ficar perto desse louco. Além da mascará e armadura servir para que Immortal Joe consiga agir, já que o mesmo é praticamente um incapacitado fora de sua armadura.

Na cidadela em que Max é posto como prisioneiro, existe uma divisão e submissão de classes interessante. Há a classe mais baixa que vive na miséria, esperando que Immortal Joe abra as torneiras d'água, ou trabalhando para fazerem os elevadores manuais funcionarem. Já os “War Boys” são os soldados e fiéis de Immortal Joe.

Fiéis porque Immortal Joe é visto quase como uma criatura divina entre os soldados. “Ele olhou pra mim. Ele olhou pra mim! Ele olhou pra mim!é a reação hiperbólica de um dos War Boys. Antes de cometer suicido, outro dos War Boys, spray cromado na boca e grita ensandecido: “Testemunhem!”. Morrer com hora e cromado o garantiria lugar em Valhalla.

Todo esse fanatismo e alegoria servem para manter o poder e dominação do vilão. É perceptível uma relação em Mad Max com conceitos e práticas de guerras medievais, mostrando um pouco de como aquela sociedade se comporta de forma retrograda. Há um altar com os volantes dos V8 na cidadela, cada motorista tem o seu, como se fossem espadas. Seus carros são suas armas de guerra. O guitarrista cego com sua guitarra flamejante, seria como um porta-estandarte.

Na cidadela as poucas mulheres saudáveis, são feitas como parideiras. Uma forma de Joe sustentar sua genética e tentar ter bebes saudáveis. O enredo do filme é muito sobre essas mulheres, já que acompanha a Imperatriz Furiosa fugindo com um grupo de parideiras para o Vale Verde. Uma terra prometida que Imperatriz espera encontrar.

Alias, Imperatriz Furiosa é a melhor surpresa de Mad Max: Fury Road. Bom, pelo menos para mim. Há quem diga: “Ah, mas o filme é Mad Max, não tinha que ter tanta Furiosa.”. Eu discordo, primeiro por ter sido bem utilizada e servido de apoio para o construção do próprio Max. Além de que Zelda é o nome do jogo e o Link é quem mais aparece. Batman: The Dark Knight é o titulo daquele filme, mas quem aparece mais é o Coringa. E em Mad Max: FURY Road quem rouba a cena é a linda — mesmo sem braço, suja e com tinta na cara — Imperatriz Furiosa (Charlize Theron).

Furiosa é a imagem reversa de Max. Enquanto o Max é um sujeito sem esperanças e sem um objetivo, Furiosa sabe muito bem para onde ir e tem esperanças de conseguir. Ela é o centro do filme, até que acontece uma reviravolta. Furiosa fica sem chão, e é ai que Max assume as rédias de seu próprio filme.

A representação feminina no cinema blockbuster geralmente não é tão boa, já comentei sobre isso aqui no post sobre a Viúva Negra e sobre a confusão envolvendo o Joss Whedon. Bem, Mad Max: Fury Road acertou tanto que um grupo de ativistas pelos “direitos dos homens” se sentiu incomodado. Bom, eu levo isso como um bom sinal.

A representação da Imperatriz Furiosa é muito boa. A personagem subverte a ideia de mocinho que salva a princesa. Furiosa não precisa ser salva, é ela quem está “salvando”. Uma das cenas que vai ser sempre lembrada, é quando Max está com um rifle e tenta por três vezes alvejar um dos lideres da perseguição. Ele tenta, tenta, tenta, mas não consegue. Até que dá aquela olhadinha para a Furiosa e passa o rifle. Claro, ela acerta um belo headshot no primeiro tiro.

Mas o velho Max ainda está no filme. Uma das cenas seguinte, Max manda aquele clássico “Deixa que eu resolvo.” e volta com o volante do inimigo na mão. Além do já citado ato final, onde ele resolve para onde ir e participa ativamente do combate final com as tropas.

Max continua sendo um tremendo azarado, ou sortudo, depende do ponto de vista. Ele não se importa em ir para Vale Verde, ele não tá nem ai pro Immortal Joe, ele só quer viver. Porém como nos outros filmes, a ação parece ter uma leve paixão pelo Max. A sorte e azar de Max rende ótimas cenas, a arma que não funciona, a quase queda, entre outras.

Além de Furiosa e Max, há outro personagem que participa bastante. Nux é um dos War Boys que tenta a todo custo destruir Furiosa e Max, mas falha miseravelmente. Depois de falhar enfrente ao seu mestre e ouvir um “MEDIOCRE!” de sua boca, Nux desiste de tudo e se aloja em posição fetal em uma das “cabines” do caminhão da Furiosa. Nux acreditava cegamente que servir seu mestre e cumprir o objetivo decretado, o levaria para Valhalla. Porém a certeza de ir para Valhalla vai por aguá abaixo. Nux fica sem saber como reagir e o que fazer. Toda a imposição e manipulação feita por Immortal em Nux, o deixa sem coragem até de morrer.

Uma das “parideiras” o acolhe. Algo quase como uma visão materna para Nux, que passa até outro objetivo, outro motivo para ir Valhaha. E tudo se completa no ápice do personagem, quando ele decide se sacrificar por seu novo objetivo.

Em questões técnicas, Mad Max: Fury Road também se sai muito bem. A fotografia alaranjada do dia, contrastando com o tom azulado da noite. Faz o caos ficar bonito. George Miller usou bastante efeitos praticos, apenas cerca de 20% da composição das cenas são em CG. Colin Gibson, produtor do longo disse em entrevista:

“George — Infelizmente, não gosta de coisas que não funcionam. No passado fiz objetos de cena normais e ele ia lá e perguntava “OK, agora liga ele”. A primeira versão da guitarra, acho que me empolguei demais com o lança chama, e pouco com o som. E sim, a guitarra lança chamas funcionava, tinha que funcionar, e as caixas de som funcionavam e estavam plugadas nela, e os tambores… Vou te falar, não é muito confortável tocar tambor a 70km/h, comendo areia.” — trecho retirado do MDM.

Esse capricho faz toda a diferença, tornando as cenas de ação mais realistas e interessante de assistir. Explosões e capotamentos de verdade. Obrigado George Miller.

Mad Max: Fury Road consegue ser um ótimo filme de ação e ainda tocar em temas muito pertinentes para a nossa sociedade. Uma obra que vai ser lembrada por anos e anos. Ah, também gostaria de citar o texto da Larissa Palmieri: “As 6 críticas sociais pesadas que você não conseguiu enxergar em Mad Max — A Estrada da Fúria”. Vai lá, prestigie, porque está excelente.

That’s All Folks!

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Dutra
BROS

Um publicitário que encontrou na fotografia e no design, o que sempre amou fazer.