O que aprendemos com o curso Reinventando as Organizações, na escola N

Rogério Silva
PACTO organizações regenerativas
3 min readSep 29, 2018

Recentemente concluímos a edição piloto de Reinventando as Organizações. Realizado pela escola N, o curso foi um modo de oferecer conteúdos e práticas voltados a produzir mudanças de cultura organizacional ou, como dissemos, voltados a reinventar as organizações.

Com oito encontros semanais de duas horas cada um, percorremos um itinerário orientado para a construção de ambientes organizacionais menos tóxicos e mais virtuosos, de estratégias menos ensimesmadas e mais conectadas e responsivas à realidade, de desenhos organizacionais menos centralizados, mais fluídos e orientados para a autogestão.

Como encontramos um grupo de participantes abertos e generosos, pudemos acessar parte de suas vivências organizacionais em empresas, governos e organizações da sociedade civil. Fomos exitosos ao criar um espaço em que a articulação de teoria e prática ajudou a reconhecer avanços e obstáculos, luzes e sombras das organizações e de cada pessoa.

Tendo desenhado e liderado esta iniciativa ao lado de Sérgio Sampaio, relato cinco pontos que me chamaram atenção entre as reflexões que realizamos ao longo do curso, ao longo dos encontros e no preparo de cada um deles.

1. há grandes níveis de sofrimento nas organizações. Os chamados “ambientes tóxicos”, marcados por centralização, controle, silenciamento, hipocrisia e normalização de vários tipos de discriminação têm machucado as pessoas e as alienado dos processos de trabalho e do próprio sentido e propósito das organizações nas quais trabalham.

2. inúmeros modelos e ferramentas de gestão estão sendo apresentados como soluções para “ambientes tóxicos”. Contudo, ferramentas não serão suficientes quando as mudanças requerem a revisão dos valores e premissas a partir das quais as organizações são constituídas e lideradas: propriedade, poder, desconfiança, competição e controle são alguns temas a serem constantemente analisados e aprimorados.

3. boa parte das organizações contemporâneas depende de outros atores da sociedade para realizar seus propósitos. No caso das organizações da sociedade civil, por exemplo, suas causas e agendas estratégicas só produzirão impactos positivos se coordenadas em alianças, coalizações, redes e frentes amplas, maximizando recursos e ações. Entretanto, são ainda poucos os casos de efetiva atuação conjunta, o que requer bastante atenção.

4. A qualidade dos ambientes organizacionais depende diretamente da qualidade das conversas nesse ambiente. Elas produzem realidades, favorecem ou obstruem possibilidades, fortalecem ou enfraquecem as pessoas, ampliam ou encerram o horizonte ético e político dos grupos. Quanto mais investe em qualidade dialógica mais uma organização ganha em sua estratégia. Qualidade dialógica tem a ver, sobretudo, com boa escuta, emissão de juízos e mensagens, formulação de pedidos e construção de acordos. Como afirmei em post anterior, Cultura Organizacional é Estratégia.

5. Os temas da vulnerabilidade e da celebração parecem centrais como dispositivos de mudança organizacional. Enquanto a celebração é a arte de reconhecer o caminho e as descobertas, os avanços e as conquistas, restituindo às pessoas e grupos o status de seu lugar, seu papel e sua relevância, a vulnerabilidade é a arte de admitir o limite e a falência, o não saber e o erro, ora para regular os limites do que podemos entregar (fundamental em tempos de hiper-exigências), ora para transformar erros em aprendizagem e alavancas de evolução.

Esperamos retomar nova edição do Curso Reinventando as Organizações em 2019, a fim de aprofundar o que iniciamos nesta edição piloto. Queremos também evoluir a partir dos nossos próprios limites técnicos e pedagógicos, bem como a partir dos limites das teorias que utilizamos nesta edição.

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Rogério Silva
PACTO organizações regenerativas

Sócio da Pacto, é doutor em saúde pública pela USP, psicanalista pelo CEP e consultor em avaliação, estratégia e cultura organizacional