O que esperar de um ano 20/20

Uma lista com tendências pra você ficar de olho e começar a nova década com a inspiração lá em cima.

Flávia Carvalho
PALAVRÃO
12 min readJan 23, 2020

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Sejam bem-vindos à década de 2020! Não temos cortes de cabelo charmosos ou danças divertidas como em 1920, mas pelo menos todo mundo pode usar a roupa que quiser quando vai à praia.

O ínicio de mais uma década faz a gente perceber ainda mais nitidamente como o tempo passa rápido. Se você nasceu nos anos 1990, por exemplo, já viveu a passagem de um milênio e de três décadas, e é provável que ainda nem tenha chegado aos 30. Como explicar isso, né? O tempo é uma coisa muito doida.

Também tem gente que diz que a nova década só começa no ano que vem. Mas a verdade é que isso não importa. Nada muda o fato de que estamos em 2020, um ano que, por si só, já é bastante simbólico.

A última vez que tivemos um ano com o mesmo padrão de números iguais foi em 1010. Sim, mil anos atrás. E pra rolar isso de novo, só nos anos 3000, quando o Fry de Futurama finalmente for descongelado.

Mas mesmo que 3030 ainda esteja muito longe, 2020 soa super futurista e, pode acreditar, não é só fachada.

Em 2019, nós fizemos um artigo com tendências pra você ficar de olho e, para 2020, te entregamos uma lista ainda melhor. Vem com a gente, inspire-se e embarque nessa nova década de braços abertos. Ou prepare-se para embarcar em 2021. Ninguém aqui vai te julgar.

1) Verde é meu, azar é seu

É impossível falar de futuro sem falar de sustentabilidade. Nos últimos anos, tudo aquilo que especialistas apontavam que aconteceria começou a acontecer de verdade: destruição de ecossistemas, poluição extrema, derretimento de geleiras e várias outras tragédias.

Alguns dos líderes mundiais podem até ter ficado como o meme do Pikachu, mas o impacto desses acontecimentos e a urgência de reverter esse cenário também provocou mudanças na forma como marcas agem e pessoas consomem.

Para o consumidor, o que está acontecendo é uma mudança de “eco-status” para “eco-shame”.

Como assim? Alguns anos atrás, ser aquela pessoa preocupada com a natureza e que só consome produtos eco-friendly era considerado um status. Principalmente porque adotar esse estilo de vida exigia certo investimento.

Agora, esses produtos estão cada vez mais acessíveis. Como a carne vegetal, que deixou de estar presente apenas em restaurantes oficialmente veganos (e nada baratos) para chegar a redes de fast food como o Burger King.

Para citar outro exemplo, em 2008, a Tesla lançou o Roadtser, um super carro elétrico que custava $ 100.000. Ou seja, dirigir carro elétrico era só para um grupo seleto de pessoas abastadas. Mais de 10 anos depois e o Model 3, modelo mais acessível da Tesla, foi o carro mais vendido no Reino Unido.

O aumento da acessibilidade de produtos sustentáveis fez com que “ser verde” deixasse de ser um status. Consumir marcas sustentáveis não é mais motivo para exaltar quem faz, mas para envergonhar quem não faz. “Ser verde” agora é quase como uma obrigação. E ai de quem não separar o lixo.

2) Marcas responsáveis para consumidores exigentes

Como falei antes, sustentabilidade virou um assunto urgente e isso tem impactado bastante a forma como as pessoas consomem. Mas o que muda para as marcas?

Talvez o maior ponto de virada tenha sido a recente decisão da Business Roundtable, a associação de CEOs das empresas mais importantes da América do Norte, de redefinir sua missão. Anteriormente, ela era resumida em uma frase: gerar valor para seus acionistas. Agora, eles preferiram priorizar atividades como “investir em funcionários”, “valorizar seus clientes” e “promover diversidade e inclusão”.

E não é só de propósito (essa palavra que já tá batida) que estamos falando. Enxergar o crescimento além do lucro também é resultado de uma pressão por parte das pessoas.

Afinal, não dá pra negar que estamos vivendo um cenário caótico, com crises não só ambientais, mas também políticas, econômicas e sociais. E em meio a esse caos, as pessoas estão, sim, responsabilizando empresas e esperando que elas tomem uma atitude.

É assim que a sustentabilidade passou a ser vista como uma prioridade no meio empresarial. E não é só pra gerar marketing (e aquele filme emocionante e caríssimo sobre como a sua marca é diferente das outras), as pessoas querem ações reais, nas empresas como um todo e nos produtos que elas vendem.

Até porque a internet deixou tudo muito mais transparente e tá cada vez mais difícil viver de aparências.

Esse cenário também tem impulsionado empresas a desbravarem caminhos um tanto incomuns. Como a marca de cosméticos Deciem, que desativou seu site na black friday e disponibilizou um cupom de desconto durante todo o mês de novembro. Segundo a marca, eles boicotaram a data por acreditarem que ela incentiva o consumo em excesso e que qualquer decisão envolvendo cuidados com a pele não deveria ser tomada de forma impulsiva.

Temos cada vez mais marcas abdicando do lucro para abraçar causas e construir imagens sólidas e verdadeiras, um movimento bastante interessante.

3) Conveniência é a alma do negócio

Você lembra como era a nossa vida antes dos serviços de streaming? Pra assistir a um filme, éramos obrigados a ir à locadora, comprar o DVD, esperar sair na TV ou, vamos ser sinceros, tentar encontrar um link pirata pra ver ele online (e ter que fechar a janela com aquele site de apostas toda vez que mexia o mouse). A gente sofria e não sabia.

A chegada da Netflix e de outras plataformas deu início a era do on demand e do “tudo pode virar serviço”, o que mudou a forma como consumimos um monte de coisa. Agora, as pessoas querem que tudo seja extremamente conveniente: o transporte que para na porta da sua casa, o streaming de música que sabe exatamente o que você quer ouvir e o clube de assinatura que te entrega uma coletânea de produtos que tem tudo a ver com o que você gosta.

Já faz tempo que essa necessidade de personalização e conveniência faz parte das nossas vidas, mas a chegada de novas tecnologias promete levar a coisa ao extremo. Tecnologias essas que, como era de se esperar, alimentam-se de dados.

Um exemplo bem interessante é a The Emotional Art Gallery, lançada em março de 2019 pela Clear Channel, na Suécia. Trata-se de de uma série de obras de arte digitais exibidas em 250 telas espalhadas pelas estações de metrô de Estocolmo.

A série, cujo objetivo é desestressar as pessoas que circulam por esses locais, usa dados de pesquisas feitas no Google, mídias sociais, notícias e informações sobre o trânsito para alterar as obras exibidas em tempo real, de acordo com o clima da cidade. Sempre tentando despertar sentimentos de conforto, calma e alegria.

Em resumo, já não basta entregar algo personalizado para o seu consumidor, é preciso acompanhar o seu estado de mudança constante e estar presente nos momentos em que ele realmente precisa.

As pessoas estão cientes de que empresas coletam seus dados o tempo todo. E esperam que elas saibam o que fazer com isso.

4) Onde há dados, há preocupação

Achou que a gente não ia bater na velha tecla e falar de privacidade? Pois achou errado. Houve um tempo em que a troca de dados por conveniência funcionava muito bem, mas a situação atual não anda tão harmoniosa assim.

Os últimos escândalos envolvendo vazamento de informações e o excesso de invasão fez com que as pessoas não só percebessem como seus dados estão sendo coletados de forma exagerada, como também ficassem cada vez mais desconfiadas (e com razão).

O que acontece agora é um movimento em que big techs, as grandes responsáveis por tudo isso, tentam ser mais transparentes quanto ao uso de dados e criam iniciativas pensando na privacidade do usuário, colocando ele no controle da situação.

Algumas dessas marcas, como a própria Apple, estão apostando em campanhas que usam a preocupação com a privacidade como argumento de venda (com slogans como “Privacidade. Isso é iPhone”), mostrando como isso tornou-se relevante para o consumidor.

E não pense que isso é uma preocupação apenas no setor privado. No Brasil, entrará em vigor este ano a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), que irá obrigar empresas que tratam dados pessoais a se adequarem a uma série de normas, buscando proteger o consumidor.

Embora ainda seja pouco, esses pequenos passos estão na direção certa. E um futuro em que todos poderão ter controle dos seus próprios dados está cada vez mais próximo.

5) Acorda, Instagram, temos visitas

Lembra quando a internet era um lugar pra você ver vídeos engraçados e manter contato com os amigos? Ninguém poderia prever que chegaríamos a esse ponto, onde circulamos entre os mesmos três aplicativos, recebendo notícias alarmantes, discutindo com estranhos e tendo aquela velha sensação de que todo mundo tem uma vida melhor que a nossa.

Não é preciso ter um doutorado em psicologia pra saber que isso não faz nada bem.

Numa época em que a saúde mental nunca foi tão discutida, questionamentos sobre os danos causados por grandes redes sociais, como o Instagram, o Facebook e o Twitter, estão em voga há muito tempo. E, vamos falar a verdade, as empresas por trás delas só estão preocupadas em te deixar mais viciado.

Se há algum tempo as tendências giravam em torno dessas redes, como ambientes “instagramáveis” e conectividade a todos os momentos, agora estamos indo por um caminho contrário.

Já estamos tendo, por exemplo, lugares “anti-instagram”, como o restaurante Lucky Cat, localizado em Londres. Lá, o ambiente é mais escuro de propósito, tornando impossível tirar fotos em seu interior. O completo oposto dos lugares onde tudo é bem iluminado e fotografável, para incentivar o público a compartilhar suas experiências nas redes sociais.

Cada vez mais, teremos espaços que encorajam as pessoas a viverem o momento de verdade, em vez de fazer isso pela lente de uma câmera.

Isso significa que as redes sociais vão acabar? Muito pelo contrário. É dessa necessidade de conexões mais verdadeiras e saudáveis que surgem redes alternativas, geralmente focadas em públicos menores e bem segmentados.

Como o Night Feed, uma rede social que foi feita pensando em mães que ficam acordadas até tarde amamentando seus bebês. O aplicativo permite que elas conversem entre si, compartilha conteúdos relevantes sobre maternidade e ainda tem uma série de funções interessantes.

Entretanto, criar uma rede social lucrativa dentro desses moldes é bastante desafiador. É preciso pensar em novos modelos de negócio. Redes que surgem de um verdadeiro desejo de servir uma comunidade, em vez de transformar seus usuários em um tipo de moeda.

6) Se namorar fosse bom…

Já falamos disso nas tendências de 2019 e, adivinha só, o número de solteiros continua crescendo. As pessoas estão optando por não formar famílias ou sequer se envolver em relacionamentos mais sérios. E é isso que gera novas formas de consumo, que vão além de produtos e serviços “para um”.

Isso porque viver sozinho tem suas desvantagens, principalmente na área financeira. Sem um parceiro, fica muito mais difícil comprar uma casa ou até mesmo pagar o aluguel. Solteiros sempre acabam pagando mais caro pelo seu estilo de vida e existe até um termo que dá nome a esse fenômeno: single tax.

Muitas marcas estão percebendo a solteirice como uma oportunidade de negócio e tentando encontrar formas de ajudar essas pessoas. Como o TaskRabbit, que terceiriza tarefas domésticas para facilitar o dia a dia de quem mora sozinho.

Mas isso não é tudo. Com o aumento da expectativa de vida, também estamos tendo um número cada vez maior de idosos que vivem sozinhos. O que é um tanto mais complicado.

Nesses casos, a solidão é um problema sério e muitas marcas estão tentando encontrar, na tecnologia, soluções para aliviar um pouco esse peso.

Um bom exemplo disso é o ElliQ, um robozinho ativado por voz que ajuda pessoas mais velhas a manter contato com a família, além de servir como companhia, entretenimento e assistente.

7) Acelera esse filme, Scorsese

Uma pesquisa apontou que, enquanto o tempo de atenção dos millennials é de 12 segundos, o da geração Z caiu pra 8. Isso significa que as pessoas estão sem tempo (irmão), nem quando se trata de entretenimento.

Em 2019, nós vimos a Netflix testar um recurso que permitiria que usuários acelerassem ou reduzissem a velocidade de suas séries e filmes. Isso gerou uma indignação por parte de quem trabalha com produção cinematográfica. Muitos apontaram que de nada adianta a Netflix investir em conteúdos originais de qualidade se nada disso vai ser respeitado depois.

Mas esse recurso só mostrou como essas plataformas estão preocupadas em atender as novas gerações. As pessoas estão preferindo consumir conteúdos curtos e simples a passar três horas vendo um filme complexo. A prova disso é o sucesso do TikTok e seus vídeos de 15 segundos.

E é dessa tendência que nascem serviços de streaming alternativos. Como o Quibi, uma plataforma que será lançada em abril deste ano e irá oferecer vídeos de 8 segundos, que funcionarão tanto na vertical quanto na horizontal. Uma proposta perfeita para este momento em que estamos vivendo.

8) Mil e uma maneiras de comprar

Nós já falamos sobre conveniência extrema, mas vamos falar um pouco mais. Comprar pela internet já foi complicado, ficou mais fácil e agora a tendência é ser mais simples do que nunca.

De redes sociais como o Instagram a mecanismos de busca como o Google, muitas plataformas estão criando recursos que possibilitam que o usuário faça compras sem sair de seus aplicativos.

Isso é vantajoso para as marcas que atuam nesses espaços, que com a facilidade da compra podem alavancar suas vendas e conquistar novos clientes, é interessante para a plataforma, que retém seus usuários, e também facilita a vida do cliente, que pode conhecer novos produtos e adquiri-los de qualquer lugar.

9) Crédito, débito ou dedo?

Em 2018, a consultoria Goode Intelligence previu que mais de 1,2 bilhão de pessoas usariam pagamentos biométricos até 2020. E de fato, os avanços na tecnologia estão possibilitando que a digitalização biométrica aconteça em todo o mundo, gerando mais segurança e facilidade nas transações.

Para citar um exemplo, a Fingopay lançou, em setembro de 2019, uma tecnologia que consegue identificar o usuário com base no padrão de veias de seu dedo. Basta que ele faça o registro, associando esse padrão ao seu cartão de crédito ou débito, e então utilize o leitor, presente no caixa dos estabelecimentos, para fazer o pagamento.

Como o padrão de veias não deixa rastros e não pode ser copiado, esse tipo de sensor biométrico foi considerado o ideal para a autenticação de alta segurança.

Também podemos citar a Incode, uma empresa de São Francisco que criou um sistema capaz de tornar pagamentos online muito mais seguros ao utilizar sensores de reconhecimento facial, presentes em muitos smartphones.

Mais alguma coisa?

Se 2020 vai ser mesmo 20/20, a gente não tem a mínima ideia. Mas garantimos, seja lá o que for acontecer, com certeza trará muito aprendizado. E o que não vai faltar são mudanças.

E mesmo que a sua década só vá começar no ano que vem, não dá pra negar que estamos em pleno futuro, onde a roupa não é prateada, mas o brilho de uma nova descoberta ronda a cada esquina.

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Esse artigo foi produzido com base no relatório de tendências da The Innovation Group. Se você quiser se aprofundar ainda mais, vale a pena conferir o documento completo. Tem muita coisa bacana por lá.

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