99 foi responsável por acrescentar R$15,1 bilhões à economia em 2020, segundo FIPE

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7 min readOct 26, 2021

Em 2020, ano de declaração da pandemia mundial de Covid-19 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), os desafios para as economias do mundo todo foram ainda maiores. O pesquisador de história econômica Aaron Benanav (2020) afirma que a recessão provocada pela Covid-19 é um dos maiores desafios enfrentados pela economia global e está impulsionando os processos de insegurança e desigualdade econômica. Novas formas de organização das atividades econômicas serão essenciais, principalmente aquelas relacionadas às inovações tecnológicas e diversificação das atividades produtivas.

Um desses setores é o de transporte por aplicativos. Esta modalidade começou a se consolidar ao longo da década de 2010 e sofreu rápida expansão, tornando-se uma das mais dinâmicas da economia compartilhada, incrementando o leque de possibilidades à população, que agora pode contar com uma opção de mobilidade mais prática e acessível (HADDAD et al., 2019). Nesse sentido, a disponibilidade do serviço oferecido pelos aplicativos aparece como uma alternativa importante para aumentar o acesso às oportunidades econômicas nas cidades, e apresenta potencial de impactar positivamente as economias locais (Ibid.).

Além disso, o impacto econômico causado pela 99 é ainda maior quando são consideradas as oportunidades de geração de renda pelos motoristas parceiros. Por meio dela, surgem novas dinâmicas econômicas nos contextos locais, que favorecem diversos setores direta e indiretamente envolvidos na cadeia de valor gerada pelos custos operacionais dos motoristas e pelos custos de vida das suas famílias. Dessa maneira, é possível mapear a movimentação observada em diferentes setores impactados pela 99 e quantificar o impacto econômico gerado pelo aplicativo na economia brasileira.

A pesquisa, encomendada pela equipe de Políticas Públicas e Pesquisa da 99, foi realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) e teve como base os dados da renda gerada pelos motoristas parceiros. Por meio dela, foi possível estimar os impactos macroeconômicos de valores agregados (VA) para a economia do país, geração de postos de trabalho indiretos e impacto no recolhimento de diferentes tipos de impostos.

Em linhas gerais, o cálculo da FIPE aponta para um impacto positivo da 99, que totaliza 15,19 bilhões de reais no PIB brasileiro de 2020 e representa 0,21% do PIB do país no primeiro ano pandêmico. Em publicação anterior, referente ao ano de 2019, o impacto registrado foi equivalente a 0,18%, o que confirma um crescimento, tanto absoluto quanto relativo, do efeito do aplicativo na economia nacional.

O anúncio do PIB brasileiro de 2020 ocorreu no início do mês de março, e apresentou queda de 4,1% em relação ao ano de 2019, sendo a maior queda desde a compilação atual da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Diante desse cenário, a contribuição da 99 para o PIB nacional se torna ainda mais relevante diante do impacto positivo da companhia na geração de renda frente a um período de recessão econômica. O gráfico a seguir mostra a variação do PIB desde a segunda metade de 2018 até o final de 2020, e evidencia sua queda no último ano:

Fonte: IBGE, 2020

Diante deste contexto, a 99 conseguiu impactar na geração de 331 mil novas posições de trabalho indiretas em diversos setores da economia, além de contribuir para movimentar a arrecadação de R$1,3 bilhão de reais em impostos, como os Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI), Impostos sobre operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre prestações de Serviços (ICMS), Impostos sobre Serviços (ISS), entre outros.

Metodologia

Os efeitos na economia analisados são calculados a partir da cadeia de valor gerada pelos ganhos dos motoristas, por meio de um modelo de insumo-produto, que registra uma “fotografia econômica” da relação entre os diferentes setores de serviços e produtos. Dessa forma, os impactos são mensurados do ponto de vista relacional e sistêmico do mercado, considerando a dependência entre seus setores.

Apesar da intermediação ocorrer pelo aplicativo da 99, em um ambiente digital, os efeitos econômicos são tangíveis e mensuráveis no mundo offline, onde as transações realizadas entre os usuários impactam em uma série de outras trocas econômicas. Diante disso, a mensuração é realizada através do consumo projetado dos motoristas, com base na cadeia produtiva de suas receitas. O esquema abaixo demonstra o fluxo de renda no contexto econômico relacionado ao setor de ride-hailing:

Esquema do fluxo de renda do setor de ride-hailing

O modelo de insumo-produto caracteriza a estrutura econômica gerada a partir das receitas dos motoristas que utilizam a 99 e suas composições de gastos familiares, projetados com base nos dados de pesquisas nacionais oficiais. Dessa forma, por meio da receita gerada via 99, os resultados obtidos podem ser desagregados em quatro tipos de efeitos na economia brasileira:

Efeitos iniciais: São aqueles relativos ao setor de ride-hailing em si, associados diretamente aos pagamentos das viagens pelos passageiros que utilizam os serviços dos motoristas parceiros.

Efeitos diretos: São aqueles relacionados aos setores econômicos diretamente afetados pelas despesas dos motoristas, como gastos operacionais, despendidos na compra e manutenção dos veículos e nos combustíveis, e gastos de consumo, relacionados à alimentação, vestuário, internet, etc.

Efeitos indiretos: São os impactos que resultam do encadeamento das compras e vendas entre os setores da economia afetados pelos efeitos diretos.

Efeitos induzidos: São aqueles relacionados aos consumidores diretos ou indiretos, que realizam seus gastos por meio das atividades econômicas beneficiadas pela variação da demanda final pelos serviços de transporte por aplicativo.

Impactos regionais e setoriais da 99

A análise regional evidencia um maior impacto no Valor Agregado (VA) à economia, postos de trabalho indiretos e impostos indiretos da 99 nas regiões sudeste, sul e nordeste do país, respectivamente. Além disso, é possível perceber um aumento do impacto econômico entre os anos de 2019 e 2020 em todas as regiões. O mapa 1 abaixo sintetiza os impactos calculados pela FIPE, agrupados por grandes regiões político-administrativas, em relação ao Valor Agregado à Economia pela 99 em 2020.

Mapa 1 — Valor Agregado (VA) à economia pela 99 em 2020

O Mapa 2 mostra a distribuição das novas posições de trabalho geradas, de forma direta, indireta ou induzida, entre as regiões do país. Ao todo, foram mais de 331 mil novos postos de trabalho gerados em outros setores, viabilizados por meio dos hábitos de consumo e da atividade econômica dos motoristas que usam a 99 para gerar renda. Esses impactos são distribuídos nacionalmente com maior expressão nas regiões sudeste, sul e nordeste, respectivamente, mas também estão presentes nas regiões norte e centro-oeste.

Mapa 2 — Novas posições de trabalho geradas de forma indireta pela 99 em 2020

Além disso, a análise de insumo-produto considera a interdependência produtiva entre os setores da economia por meio do entendimento sistêmico dos impactos econômicos mediados pela 99. É possível verificar impactos relevantes em setores diretamente ligados aos custos operacionais do motorista, como a cadeia do petróleo, que abrange os setores de extração de petróleo e gás e refino de petróleo e coquerias, mas principalmente em setores tradicionalmente movidos pelos impactos dos consumos familiares, como é o caso dos setores de comércio (atacado e varejo), atividades imobiliárias e alimentação. A ilustração abaixo mostra os três setores que tiveram maior variação nos agregados econômicos de variação adicional (VA) à economia (em laranja e amarelo) e postos de trabalho gerados de forma indireta (em azul).

Ilustração 1 — Impactos setoriais da 99 na economia brasileira em 2020

A medida utilizada na avaliação capta a integração econômica da atividade de transporte por aplicativos em relação ao sistema produtivo tradicional. No caso do Valor Agregado (VA) à economia, os setores econômicos mais beneficiados pelo uso do aplicativo da 99 são o comércio por atacado e varejo, as atividades imobiliárias e o desenvolvimento de sistemas e outros serviços de informação. Em relação à geração de postos de trabalho de forma indireta, continua em primeiro lugar o setor de comércio por atacado e varejo, seguido pelo setor de serviços domésticos e pelo setor de alimentação.

Portanto, observa-se uma contribuição positiva da 99 para o contexto socioeconômico brasileiro, além de grande intersetorialidade na circulação de seus efeitos na economia do país. Além de possibilitar maior dinamismo na cadeia produtiva nacional contribui por meio de impactos em diversos setores que também afetam o mundo offline. Além disso, é importante compreender as diferentes escalas dos impactos gerados pelos serviços oferecidos pela companhia, bem como observar como esses efeitos se difundem na economia brasileira como um todo.

Por fim, é importante ressaltar que a 99 expandiu seu portfólio de produtos nos últimos anos com o lançamento do 99Poupa, 99Compartilha e o 99Carona, que têm o potencial de contribuir para transformações na mobilidade urbana das cidades e de impactar diversos outros setores relacionados ao transporte por aplicativo. Para além disso, a empresa tem investido nas áreas de entregas intermediadas entre restaurantes e entregadores parceiros, com o 99Food, e serviços de pagamento digital, com o 99Pay. Essas novas unidades de negócio não são contabilizadas para o cálculo apresentado neste artigo, mas já estão sendo incorporadas em pesquisas do time de Políticas Públicas da 99 em relação ao seu impacto na vida dos usuários, das cidades e da economia como um todo.

REFERÊNCIAS

BENANAV, Aaron. Automation and the Future of Work. Verso, 2020.

HADDAD, Eduardo Amaral et al. A socioeconomic analysis of ride-hailing emergence and expansion in São Paulo, Brazil. Transportation Research Interdisciplinary Perspectives, v. 1, p. 100016, 2019.

SHAHEEN, Susan; CHAN, Nelson. Mobility and the sharing economy: Potential to facilitate the first-and last-mile public transit connections. Built Environment, v. 42, n. 4, p. 573–588, 2016.

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