Aplicativos de mobilidade tendem a diminuir congestionamentos

99
Para onde vamos?
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5 min readMar 27, 2018

Serviços da 99 desestimulam carro próprio sem colocar mais veículos nas ruas e podem melhorar vida das pessoas

Uma boa maneira de medir o impacto de um serviço é avaliar como era o mercado e o atendimento aos clientes antes dele existir. No caso dos aplicativos de transporte individual, pode-se analisar como era, antigamente, a vida de motoristas e passageiros e como funcionavam as cidades. Ao comparar o cenário anterior e posterior à entrada do serviço, pode-se ter uma ideia do impacto que tem nos hábitos das pessoas.

No município norte-americano de Austin, no Texas, é possível fazer essa análise de um jeito muito particular. Lá, houve um duplo “antes” e “depois”.

Tráfego congestionado em Austin, Texas (Foto: Shutterstock)

Aplicativos de mobilidade começaram a oferecer o serviço na cidade em 2014; porém, em maio de 2016, elas abandonaram Austin, após a aprovação de uma legislação municipal extremamente rígida, que exigia inclusive fiscalização de motoristas por biometria digital. Um ano depois, em maio de 2017, quando uma legislação mais moderna foi aprovada, as empresas retornaram à cidade.

A saída sem aviso de Austin criou uma janela única para se investigar o impacto do serviço na vida das pessoas. Foi o que fizeram pesquisadores da Universidade do Texas, da Universidade de Michigan e da Universidade de Columbia, no estudo “Medindo o impacto da suspensão não-antecipada do serviço de aplicativos de transporte”.

A pesquisa perguntou a 1.200 ex-passageiros de grandes empresas de serviços de aplicativos como eles estavam se deslocando após a saída repentina das empresas.

Os resultados apontaram que 41% da pessoas voltaram a usar o próprio carro, enquanto 3% disseram ter retornado ao transporte público e 42% declararam usar aplicativos de transporte de empresas menores, que passaram a ter mais espaço com a saída das gigantes do setor. E 9% dos entrevistados afirmaram, ainda, que compraram um novo carro em reação à suspensão do serviço.

Aplicativos inibem carro próprio

Essa tendência é reforçada por outro estudo norte-americano que analisou a relação do transporte público com os serviços compartilhados em sete grandes cidades dos Estados Unidos. No levantamento com 4.500 pessoas, realizado pelo instituto “Shared-Use Mobility Center (SUMC)” para a Agência de Transportes Públicos Americana (APTA), encontrou-se evidências de que serviços de transporte individual, de bicicletas compartilhadas ou de caronas inibem o uso do carro próprio.

Entre os usuários desses aplicativos, 21% disseram ter adiado a compra de um veículo; 22% afirmaram ter desistido de adquirir um carro; 27% contaram ter vendido seu veículo; e 30% disseram gastar menos tempo no trânsito.

Além disso, a pesquisa realizada em Austin, citada no início deste texto, possui outro dado interessante: as pessoas que voltaram a usar o carro próprio com o fim repentino do serviço de ride-hailing afirmaram fazer mais deslocamentos pela cidade do que quando usavam os serviços de aplicativos.

Uma hipótese para entender essa tendência é a que os usuários de aplicativos de transporte individual selecionam com mais cuidado as viagens que fazem. Como cada corrida gera um custo, os passageiros não chamam um motorista caso não seja realmente necessário. Enquanto isso, os donos dos próprios carros estão mais propícios a usar seus veículos com menos parcimônia — comportamento que gera mais viagens pela cidade e, consequentemente, aumenta o volume de carros nas ruas.

Apps de mobilidade NÃO colocam mais carros nas ruas

Os estudos sugerem, portanto, que um passageiro que opta em usar o serviço de transporte individual de um aplicativo pode contribuir com o trânsito nas cidades. Afinal, um mesmo veículo é utilizado intensamente como transporte para vários passageiros.

E apesar das empresas de intermediação de transporte possuírem centenas de milhares de motoristas cadastrados para fazer corridas, isso não significa que eles estejam ao mesmo tempo nas ruas das cidades e nem que eles fiquem o dia todo trabalhando.

Motoristas entram e saem das plataformas a todo momento, de acordo com sua necessidade de trabalho e disponibilidade de horários deles.

Ao se comparar o número de motoristas disponíveis para receber chamadas ao longo do dia na plataforma da 99 ao universo de carros que há utilizando as ruas em São Paulo, percebe-se que o número de carros é pequeno, se comparado ao todo.

Nessa análise, utilizamos as informações das corridas da 99 e os microdados da pesquisa de Mobilidade Urbana de 2012 da Região Metropolitana de São Paulo para obter uma estimativa de quantos carros há nas ruas a cada minuto de um dia típico. As viagens realizadas por pessoas dirigindo os próprios carros foram agregadas minuto a minuto.

De início, é possível verificar que a curva da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) segue a tradicional distribuição dos horários das viagens e suas máximas coincidem com os períodos de pico da manhã, da tarde e do meio do dia. A pesquisa aponta, respectivamente, que o número de carros nas ruas na RMSP atinge picos de mais de 1 milhão de carros nas ruas no início e no fim do dia e de, aproximadamente, 500 mil carros por volta das 13h.

Comparando o gráfico e com os dados de operações de um dia típico da 99, concluímos que:

tanto durante o pico da manhã (07h-10h) como no da tarde (17h-20h), os carros da 99 (99Pop e 99Táxi) representam menos de 1% dos carros que estão nas ruas.

Proporção do número de motoristas com aplicativo ligado sobre o número de veículos em viagem, em 2017 (supondo um crescimento do número de viagens de 2012 para 2017 igual ao de 2007 para 2012)

Os dados também apontam que os carros da 99 chegam quase à metade dos veículos que estão nas ruas durante as madrugadas, período em que tradicionalmente há acidentes envolvendo bebida e direção. Conclui-se que, hoje, a 99 vem se tornando uma alternativa para aqueles que querem ingerir bebida alcoólica e não voltar para casa dirigindo. O transporte, tratado como um serviço, apresenta benefícios deste tipo à sociedade.

(Temos, inclusive, uma parceria de dados com órgãos governamentais que aumenta a eficiência de políticas públicas de trânsito e ajuda a salvar vidas).

Tal tendência, aliás, é reforçada pelo estudo — já mencionado nesse artigo — realizado pela “Shared-Use Mobility Center (SUMC)” para a Agência de Transportes Públicos Americana (APTA). O levantamento feito em sete cidades dos Estados Unidos aponta que as corridas de ride-hailing são mais comuns durante as noites dos finais de semana.

Quando perguntados a respeito dos horários e períodos da semana que usavam serviços mais de um modal, os entrevistados da pesquisa apontaram ride-hailing como o menos usado nos períodos de “rush” da manhã e da noite e como o mais frequente durante as madrugadas.

Enfim, segundo as pesquisas e os números da 99, os serviços de aplicativos de transporte individual não colocam mais carros nas ruas e podem ajudar a diminuir o congestionamento nas nossas cidades.

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