2º dia de Paraty em Foco

Estúdio Madalena
Blog do 11º Paraty em Foco
7 min readSep 25, 2015

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Por Julio Boaventura Jr e Manuela Rodrigues

O segundo dia de festival foi literalmente quente. Mas mesmo com um calor de quase 40º graus o público acompanhou a extensa programação da Tenda Multimídia , que teve início com a mesa dedicada a prévia do Fórum Latino Americano de 2016.

Em um primeiro momento os participantes Daniel Sosa (Centro de Fotografia de Montevideo, Uruguai), Sofia Fan (Instituto Itaú Cultural, São Paulo), Fredi Casco (Sueño de la Razón, Paraguai), Ítala Schmelz (Centro de la Imagem, DF-México), Marcelo Brodsky (Argentina) e Iatã Cannabrava, ressaltaram a importância da realização do evento, que restabeleceu conexões intercontinentais há tempos perdida (com o fim dos lendários Colóquios Latino Americanos realizados no México) e que propiciou o surgimento de inúmeros projetos ao longo das 3 edições.

Foto de Bea Rodrigues

Depois passaram a discutir as propostas para a 4ª Edição (prevista para junho de 2016), que visa sobretudo, um olhar para o futuro e a consolidação dessa rede.

Entre as principais falas dos convidados e dos presentes na plateia, foram levantadas questões como as barreiras físicas que ainda existem e dificultam a circulação de exposições e a distribuição de fotolivros; a necessidade de um plataforma contínua de discussão, que não perca força após a realização de cada evento; a inclusão da nova geração de produtores de imagens, e como estes as utilizam como uma nova forma de comunicação; a centralidade da educação visual no contexto atual e a necessidade de produzir e difundir ainda mais a produção de pensamento sobre o meio e fotográfico.

Mudando de continente mas sem sair do tema, Fariba Farshad apresentou a estrutura e os excelentes resultados da primeira edição do Photo London, que chegou a reunir 25.000 visitantes.

Foto de Bea Rodrigues

A convidada ressaltou o objetivo da "feira" (que como Milton Gurán da platéia bem ressaltou, é na verdade um excelente mix entre feira de arte, mostra de fotografia e programa educativo) de colocar Londres como um centro de excelência no meio fotográfico. Pois apesar de sua tradição no meio artístico, a fotografia ainda não tinha um ponto de encontro na cidade que reunisse artistas, críticos, colecionadores, curadores e público. E para a segunda edição (19–22 de maio de 2016) espera expandir as atividades e o alcance para tornar o evento ainda mais relevante e participativo.

Foto de Bea Rodrigues

Após a parada para o almoço, todos de volta a Tenda Multimídia para uma conversa com o curador Agnaldo Farias, que em tom amistoso avisa a Iatã Cannabrava que desviou um pouco do tema inicialmente proposto para analisar a visão do cinema sobre os fotógrafos, pela análise dos filmes Janela Indiscreta de Alfred Hitchcok (1954) e Blow Up de Michelangelo Antonioni (1966).

Após a analise de Janela Indiscreta, Agnaldo conclui que sua primeira lição sobre o que é ser fotógrafo não veio da leitura de Roland Barthes, ou Susan Sontag, mas sim vendo este filme.

"Essa maneira de se pensar esta figura que atua flagrando e enrijecendo o movimento, capturando, porque tudo é fluxo, e ele coagula o fluxo e vende este coágulo. Este é o profissional, tudo está se transformando e é ele quem paralisa." Agnaldo Farias

Foto Sara de Santis

E com a análise de Blow Up, a segunda lição sobre a fotografia como disse "qualquer forma de narrativa".

"Nós a rigor produzimos ficções, o tempo todo, mesmo que debruçados sobre o mundo. Mas como disse Peter Grinwold ninguém fatia o real, ninguém colhe o real, ninguém captura o real, porque será sempre uma fração e sob um angulo que é muito particular. Não há verdade portanto nesse processo." Agnaldo Farias

E após ser perguntado por Iatã se chegou a imaginar o processo de certa forma inverso ao das análises, de imaginar uma trama a partir do tema inicialmente proposto, o curador nos responde com mais uma lição aprendida com a leitura de Júlio Cortazar (escritor que o produziu o conto usado como inspiração para o filme Blow-up): ficcionalização é a possibilidade de conseguir viver!

Foto de Bea Rodrigues

E após ser perguntado por Iatã se chegou a imaginar o processo de certa forma inverso ao das análises, de imaginar uma trama a partir do tema inicialmente proposto, o curador nos responde com mais uma lição aprendida com a leitura de Júlio Cortazar (escritor que o produziu o conto usado como inspiração para o filme Blow-up): ficcionalização é a possibilidade de conseguir viver!

Na primeira entrevista do dia, Alfredo Manevy conversa com Ailton Krenak, ícone na defesa dos direitos indígenas, que apresentou um acervo de retratos recém descoberto com fotos de seus antecessores, já em processo de fuga na região do Rio Doce (Espírito Santos e Minas Gerais), para abordar entre outras questões a importância desses registros para a história de seu povo.

Foto de Sara de Santis

"Essas imagens, considerando a época que foram feitas e o tipo de registro que se constituem, acabam sendo a única janela que temos cem anos depois, para contemplar uma parte de nossa família e criar narrativas possíveis sobre a nossa história de um povo que ainda vivia livre no inicio do século XX." Ailton Krenak

No fim da apresentação um dos líderes indígenas presentes na plateia reforçou a necessidade de atenção à causa de seu povo pela sociedade, pois em diversas regiões do país seu vem sendo ameaçado e confinado cada vez mais em reservas (que como disse mais parecem cativeiros). E com um celular nas mãos pediu a ajuda de todos os fotógrafos presentes (e todos aqueles que podem ser fotógrafos com seus dispositivos móveis) para que registrem e difundam essa realidade tão cruel enfrentada por aqueles que são os verdadeiros guardiões de nossas terras.

Foto de Talita Virginia

Na segunda entrevista do dia, Claudia Jaguaribe recebe o fotógrafo e "superturista" australiano para falar de sua extensa obra traduzida em páginas duplas de belíssimos fotolivros.

Foto de Talita Virginia

Logo após apresentar a capa de seu último trabalho (uma biografia finalizada uma semana antes de embarcar para Paraty), Max Pam conta que só teve o primeiro fotolivro publicado aos 42 anos, apesar de fotografar desde os 16. Mas desde então não parou de produzir.

"Sou obcecado com livros. Acho que o livro é algo que vai sobreviver a você, uma espécie de legado. Enquanto uma mostra só sobrevive até a próxima, pra mim o livro sempre existirá." Max Pam

Outro ponto interessante destacado por Claudia é sua produção textual e visual para além das fotografias, que agregam aos livros (em sua maioria verdadeiros diários de viagens) um caráter único e pessoal.

Foto de Talita Virginia

"Quando faço um diário quero que ele seja um relato honesto da viagem, e pra mim a fotografia é muito crua nas emoções. É aí onde a ilustração, desenho e escrita, para fazerem um trabalho muito mais satisfatório em entregar a totalidade das experiências." Max Pam

Max ainda apresenta o próximo, e segundo ele último grande livro (que já conta com mais de 300 páginas) que pretende lançar, Sea of Love, para o qual ainda está produzindo imagens, inclusive aqui em Paraty, aproveitando mais uma viagem em terras desconhecidas.

Foto de Talita Virginia

Dando início as atividades das Noites de Projeção, tivemos a cápsula com vídeos da Convocatória em Foco, seguida de uma mini-palestra em formato TED com a apresentação da iniciativa mObgrafia por Cadu Lemos e Ricardo Rojas.

E para encerrar o segundo dia de festival Érico Elias e Fernando de Taca apresentam o primeiro programa da Mostra Fotofilmes Brasileiros. (Não sabe o que é um fotofilme? Então leia o texto publicado pelo Érico aqui no blog).

Foto de Talita Virginia

A cobertura do 11º Paraty em Foco
é do
Oitenta Mundos

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