5 coisas que a Índia me ensinou sobre negócios, marketing e a vida
NÃO É SEGREDO para ninguém que me apaixonei pela Índia. Pousei em Jaipur cheio de medos e fui embora de Nova Délhi onze dias depois com a alma leve, desejando ter ficado um pouco mais.
O que tem de tão especial nesse país quente e barulhento, onde as buzinas não param e sempre existem mil coisas acontecendo ao seu redor?
Talvez uma vida inteira não seja suficiente para responder essa pergunta. No entanto, de tempos em tempos eu penso sobre os dias que passei nesse país e sou capaz de extrair novos pontos de vista e lições de tudo que vivi. Se a Índia mudou minha vida em tantos aspectos, nesse texto específico eu quero listar o que a Índia trouxe de aprendizado para a minha vida profissional.
1 — Não ache que conhece seu cliente
A vida vai muito além do nosso umbigo. Embora no fundo a gente saiba disso, é comum acabarmos enxergando a sociedade somente a partir do nosso ponto de vista. A questão é que normalmente temos pessoas parecidas à nossa volta — Até a pessoa mais diferente com quem convivemos ainda tem muito em comum com a gente, nem que seja meramente a cultura e a localização geográfica. Quando eu cheguei na Índia percebi que o mundo, a sociedade e o modo de viver que eu conhecia eram completamente diferentes da realidade dos indianos. Eles tem outros gostos, outra língua, outro alfabeto, outra divindade, outra forma de pensar, de se movimentar, de agir…
Você acha que saberia fazer Marketing para um indiano? Sem conhecer a Índia, dificilmente. Então faça o mesmo com seu cliente: não ache que o conhece, vá até ele e o entenda. Ele pode ter visões e necessidades muito diferentes das que você imagina.
2 — Use a diversidade ao seu favor
A Índia é multicultural. Historicamente, o continente vendia especiarias para o mundo todo, foi colonizado pelo Reino Unido, conquistou a independência e hoje é destaque em negócios e tecnologia da informação. Lá existem dezenas de religiões e linguagens, muitas delas exclusivas do país. Das pessoas às crenças, passando pelas cores e temperos, definitivamente a diversidade é uma característica tipicamente indiana. Como um negócio pode atingir o máximo de pessoas nesse mercado tão diverso?
Sendo formado por uma equipe tão diversa quanto.
Eu li no LinkedIn um dia desses que “Agência que só contrata aluno da Miami Ad School não sabe fazer propaganda para Paraisópolis”. O mesmo vale pra qualquer empresa: se todos os membros do seu time tiverem o mesmo background e as mesmas opiniões, dificilmente será capaz de falar com camadas muito distantes (mesmo seguindo o conselho do item anterior). Isso quer dizer que para me comunicar com um grupo de hindus eu preciso necessariamente ter um hindu na equipe? Não, mas é melhor que seu time não seja composto inteiramente por muçulmanos (grupo tradicionalmente oposto aos hindus na sociedade indiana).
3 — Mantenha a unidade da sua marca
Embora um time diverso seja bom, a marca precisa ser única. A voz, a identidade visual, os valores, a qualidade e outros aspectos que definem sua empresa precisam ser uniformes, não importa quantos colaboradores nem quantos pontos de venda sua empresa tenha.
Como muitos já sabem, eu curto viajar de mochila nas costas, andando muito a pé e me hospedando em hostels. Em Jaipur eu me hospedei em um lugar chamado Zostel e adorei: era limpo, organizado, com café da manhã incluído, equipe simpática e hóspedes do mundo todo. De Jaipur eu pegaria um ônibus para Agra (lar do Taj Mahal) e quando descobri que existia uma filial do Zostel lá, não pensei duas vezes: fiz minha reserva. Quando cheguei na unidade de Agra, o hostel era completamente diferente: quartos velhos e quentes, chuveiro defeituoso e poucos hóspedes. A marca era a mesma, mas pareciam duas empresas completamente diferentes.
“A coerência da mensagem não pode ser menosprezada.”
Não dá pra uma das suas lojas ter um excelente atendimento e a outra não. Não é bom transmitir uma imagem no Instagram e outra no seu site. A unidade da marca passa por todos os detalhes, incluindo cores, fontes e discursos — e a coerência da mensagem não pode ser menosprezada.
4 — Espere sempre o melhor, mas prepare-se para o pior
As coisas dão errado e você sabe disso. Quando se viaja por países menos desenvolvidos social e economicamente, as chances de perrengue aumentam. Então quem viaja pela Índia contando apenas com a sorte está pedindo para passar aperto.
Eu prefiro não dar chance pro azar. Depois de passar dois dias em Agra, decidi pegar um trem para Nova Délhi. As viagens de trem pela Índia tem um imaginário aventureiro e bucólico que eu queria muito vivenciar. Eu poderia ter simplesmente ido para a estação com minha mochila, comprado uma passagem e embarcado no próximo trem, mas isso não seria estar preparado para o pior.
“Eu estava preparado para a demora, o estresse e para os piores cenários caso tudo desse errado.”
Antes de entrar nessa aventura ferroviária eu pesquisei na internet o máximo de informações que eu podia. Li relatos de outros viajantes, comparei preços e pedi dicas. Coloquei um cadeado na mochila para andar no meio da multidão. Cheguei com muita antecedência na estação. Fiquei esperando o meu trem sentado na plataforma de onde ele ia sair. Quando o trem chegou com quase três horas de atraso, eu já estava preparado para a falta de pontualidade e tinha levado filmes no celular para me distrair enquanto esperava. No fim das contas, nada me pegou de surpresa. Eu já esperava que a viagem de trem fosse ser incrível, como de fato foi, mas também estava preparado para a demora, o estresse e para os piores cenários caso tudo desse errado.
O paralelo com os negócios aqui é óbvio: planeje suas estratégias e sempre tenha o plano A, B e C na manga. É claro que ainda assim podem haver surpresas e você tenha que inventar o plano D na hora, mas as chances diminuem quando você prevê as falhas e se previne contra elas. Ah, e essa dica é especialmente valiosa quando se trata de eventos, que possuem a tendência de exigir toda nossa capacidade de resolução de problemas.
5 — Valorize as relações humanas
Os indianos em geral são sorridentes, extrovertidos e curiosos. Adoram puxar papo com desconhecidos na rua ou até mesmo pedir para tirar fotos deles. Eles com certeza são um dos fatores que me fizeram amar a Índia: em qualquer lugar eu me sentia bem-vindo e era tratado com com cordialidade e alegria.
Em Nova Délhi eu fiz amizade com o Rehan, um indiano que puxou papo comigo na Jama Masjid. Nos próximos dias ele se dispôs a ser meu guia, tradutor, e até negociante pela cidade mais famosa da Índia. Para terminar, ainda me deu um presente de despedida (uma calça da loja do tio dele), hábito muito comum na cultura indiana. Quando eu fui embora ele me convidou para ser padrinho do seu casamento e me fez prometer que quando eu voltasse para a Índia ficaria na casa da sua família. Relatos assim não são raros, conheço muitas pessoas que foram tratadas assim pelos locais.
“Não são CNPJs que participam de reuniões, são seres humanos.”
Não importa qual serviço ou produto a sua empresa vende, no fim das contas qualquer relação de comércio é entre duas ou mais pessoas. Mesmo que você atue no mercado B2B, não são CNPJs que participam de reuniões, são seres humanos. O mesmo vale para o e-commerce: existem humanos reais dos dois lados da tela. Então nunca subestime o poder de uma boa conversa, de um sorriso honesto e do interesse genuíno em escutar e ajudar o outro. Isso faz uma grande diferença na forma como sua marca, seu trabalho e até você mesmo serão vistos pelos clientes e parceiros.
Gostou? Deixe suas palminhas clicando até 50 vezes no botão aqui do lado ou lá em baixo, isso ajuda esse post a ter mais visibilidade. Aproveite para me seguir aqui no Medium e para conhecer o meu Instagram clicando aqui.
Ei, não pare nesse texto! Leia também:
Roteiro por Lima, no Peru: Como foi, onde fui e quanto gastei
Como consegui dinheiro para fazer uma volta ao mundo
