Fiz uma road trip pelos cenários mais bonitos do planeta terra

Veja as histórias e fotos da minha viagem pela costa oeste do Canadá em 2014.

Igor Mariano
Revista Passaporte
13 min readApr 8, 2018

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Calgary

A minha porta de entrada pra costa oeste canadense foi Calgary, em Alberta. Ela pode não ser a capital da província, mas além de ser maior que Edmonton (a verdadeira capital), Calgary tem características únicas, como as centenas de passarelas acima das ruas ligando os prédios uns aos outros.

Uma cidade moderna, ainda que preserve um certo clima interiorano, cujo maior evento é uma festa country chamada Stampede.

Com alta qualidade de vida, se por um lado foi eleita a cidade mais limpa do mundo em 2013, é também conhecida pelos seus engarrafamentos (que aliás, tivemos a honra de conhecer).

Não é conhecida, no entanto, por seus pontos turísticos, embora a Calgary Tower tenha um chão de vidro mais impressionante que o da CN Tower em Toronto, e a charmosa Stephen Avenue Walk seja um excelente lugar pra ir no fim da tarde.

Menção honrosa para o Heritage Park, uma vila que reproduz a vida dos pioneiros canadenses dos anos 50, onde todos os funcionários se vestem e agem como se ainda estivessem naquela época — um programa totalmente diferente de qualquer outro que eu já fiz no Canadá.

Pra concluir, calhou de estarmos lá justamente no Canada Day, então teve um show de fogos de artifício na beira do rio. A cidade toda sentou na grama e juntos acompanhamos os fogos bem de pertinho. Ao redor de Calgary as Rocky Mountains se erguiam imponentemente, observando tudo de longe.

Banff

Na segunda etapa da nossa road trip finalmente pegamos a estrada em direção às Rocky Mountains, apreciando toda a beleza que a Highway 1 é capaz de oferecer. Poucas horas depois, chegamos ao pequeno vilarejo de Banff, que fica localizado dentro de um parque nacional, cercado pela imponência das grandes montanhas rochosas.

Embora seja minúscula e tenha poucas ruas, arrisco dizer que Banff deve ser a cidade mais bonita que eu já fui na vida.

Para além da cidade charmosa, ao redor de Banff existem inúmeras opções de programas ao ar livre para aproveitar as belezas naturais desse paraíso na terra. Fazer trilhas por cânions, andar de canoa em um lago inacreditavelmente azul, piscinas aquecidas de água sulfúrica, caminhadas que passam por cachoeiras maravilhosas e uma gôndola que te leva pro topo de uma montanha altíssima, capaz de deixar qualquer mortal boquiaberto.

Depois, resta voltar pro conforto do vilarejo, que com seus ótimos restaurantes, bons hotéis e um clima relaxante são responsáveis por fazer com que essa jovem cidadezinha seja um dos melhores lugares pra visitar no Canadá, talvez até no mundo.

Jasper

Saindo de Banff, entramos na Icefield Parkway, uma estrada conhecida como uma das mais bonitas do mundo. As paisagens de tirar o fôlego nos acompanharam pelo percurso de quase cinco horas, que pode ser feito até em três, mas nos permitimos parar pelo caminho pra admirar a vista e tirar fotos.

Chegamos então à Jasper, uma cidade que tem muito em comum com Banff, mas sem o mesmo charme. Pequena e escondida entre as montanhas rochosas, ela vive do turismo gerado pelos lagos e montanhas próximas.

O imponente Lake Maligne é sua atração mais conhecida, mas nos três dias que passamos lá pudemos perceber que cada cantinho escondido na floresta revelava uma trilha, um cânion, uma cachoeira… E nem tão escondido assim, voltando um trecho da Icefield Parkway, está a Columbia Glacier, uma geleira que sobrevive desde a era glacial no topo das montanhas gigantes.

Como se não bastasse, logo ao lado ainda construíram um mirante com chão de vidro que se estende a metros de um precipício — nem preciso dizer que a vista era maravilhosa. Pra terminar, nos despedimos do parque nacional indo ao Pyramid Lake e ao Lake Patricia.

Não tivemos lindos dias de sol por lá, e a cidade vive quase isolada do mundo moderno (a péssima conexão de internet não me deixa mentir), mas o maior trunfo de Jasper na verdade é sua localização, com verdadeiros paraísos ao seu redor e animais que adoram dar as caras por lá (desde renas até ursos).

Tem uma anedota de Jasper que conta o seguinte:

“Um homem de Toronto morreu e, ao chegar na porta do céu, São Pedro lhe disse: — Você vai se surpreender com a beleza desse lugar. Quando um Nova Iorquino chegou, São Pedro lhe disse: — Se prepare, porque a beleza desse lugar vai te impressionar. Foi quando um homem de Jasper apareceu na porta do céu, e São Pedro balançou a cabeça, suspirou e disse: — Infelizmente, acho que você vai se decepcionar um pouco”.

Eu concordo com São Pedro.

The Canadian

Em Jasper nós devolvemos o carro e fomos para a estação ferroviária, que ficava logo em frente ao hotel. Esse trecho que fizemos de trem durou menos de um dia, mas me surpreendeu absurdamente.

O nome dessa linha é Canadian Pacific Railway e ela sai do oceano atlântico, na costa leste, e vai até o oceano pacífico, na costa oeste, percorrendo 4.500 quilômetros em aproximadamente 7 dias. Essa ferrovia foi a responsável pelo desenvolvimento do Canadá, e ainda hoje tem um papel importantíssimo na economia do país. Seguindo esses trilhos centenários, além dos trens de carga, existe o trem turístico da Via Rail, o The Canadian, no qual eu tive o imenso prazer de viajar até Vancouver.

Não fizemos o percurso inteiro, apenas o trecho que é conhecido como o mais bonito, de aproximadamente 800 quilômetros, que dura 15 horas. Obviamente a velocidade está longe de ser a vantagem do The Canadian, mas como diz seu próprio slogan:

“A beleza não pega atalhos.”

Não é segredo para ninguém que eu amo viajar de trem, mas essa vez foi ainda mais especial: esse trem tem mirantes no teto e um vagão-observatório de vidro, para que nenhum detalhe da paisagem surpreendente das Rocky Mountains passe despercebido. E que paisagem! Além disso, havia um vagão recreativo com jogos e livros, um restaurante de altíssimo nível (com jantar e café da manhã incluído no valor da nossa passagem) e a cabine virava uma beliche à noite, com camas tão confortáveis quanto as de um hotel.

“Impressionante” é a palavra que melhor descreve esse cruzeiro sobre trilhos — e “surpreendente” também, afinal eu nunca imaginei que a noite em um trem fosse tão confortável. Acabou sendo uma experiência de vida e eu tenho muito carinho por essas fotos, pois só de vê-las já me dá um nó na garganta.

Quinze horas definitivamente não bastaram, pois passei a maior parte delas em transe.

Vancouver

Vancouver foi a última parada da minha viagem e também o ponto final de várias outras coisas. A partir de lá tudo começou a ter aquele tom de “última vez”. No entanto o clima não foi de tristeza, afinal nem todo fim é ruim e esses últimos momentos só me traziam boas lembrança dos primeiros.

Passamos quatro dias em Vancouver. Foi a cidade em que passamos mais tempo, porém assim como Toronto, Vancouver não pode ser conhecida em quatro dias, nem quatro semanas, nem quatro meses: é daquelas cidades que cada dia tem uma cara, restaurantes novos abrem todos os meses e sempre existe um evento acontecendo em algum lugar.

Restou seguir o circuito tradicional de pontos turísticos must-see, começando pelo famigerado Canada Place, passando por lugares como o gigante Stanley Park e prestigiando o pôr-do-sol na English Bay pra terminar cada dia.

O estilo de vida Vancouverite é diferente do resto do Canadá, porque lá tem um quê tropical de California, Miami ou Rio, e suas praias banhadas pelo oceano pacífico trazem a atmosfera litorânea que faltava no país.

Pessoas ativas com corpos torneados, uma grande abertura ao uso de drogas recreativas e uma informalidade cativante, naquela metrópole povoada por milhões de ciclistas, deixam bem claro o porquê de tantos Brasileiros escolherem Vancouver como seu novo lar. Ainda, a cidade tem uma ciclovia quilométrica e planos de se tornar a cidade mais sustentável do mundo até 2020 — e está no caminho certo com uma longa seawall e vários green-roofs.

Para surpresa de muitos, Vancouver não é a capital do Canadá e nem sequer da província de British Columbia — esse posto é de Victoria, que fica a 100km de lá. Quem, assim como eu, não quiser ir até a capital mas ainda quiser conhecer o que tem nos arredores da cidade, a Grouse Mountain está bem ali do lado e existe o parque Capilano com suas pontes suspensas para os mais aventureiros.

Essa é Vancouver: diversa, oferecendo opções pra todo tipo de gente, e imensa, com espaço de sobra pra acolher quem quiser conhecê-la. Acho difícil alguém ir pra lá e não sair com vontade de ter ficado um pouco mais.

Vancouver foi a última parada, não só da road trip pela west coast canadense, como também foi a última cidade que pude conhecer no Canadá. Depois disso peguei o vôo de volta pra boa e velha Toronto, onde arrumei as malas e me preparei para ir embora.

Definitivamente as belezas surreais do oeste canadense estarão sempre na memória desta viagem incrível, encerrando um ano mais incrível ainda.

Este texto faz parte do projeto GoCan, que foi um diário do meu intercâmbio no Canadá em 2014. Para conhecer o projeto e ver mais fotos, clique aqui.

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Igor Mariano
Revista Passaporte

Brasileiro, gestor de marketing, apaixonado por viagens, café, cerveja, livros e tudo que nos distrai • www.instagram.com/igor_mariano