Huaraz —o Peru “roots” que você tem que conhecer

Dois dias de passeios surreais e banhos congelantes.

Ligia Thomaz Vieira Leite
Revista Passaporte

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Tô de volta pra mais uma edição da Ligia blogueira de viagens; e dessa vez pra falar de Huaraz.

Cidade de origem pré-incaica, que teve papel importante na independência do Peru, Huaraz hoje é quase um pueblo peruano, sem contar com muita infraestrutura turística. É o Peru roots de verdade, com taxis caindo aos pedaços, mototaxis coloridos por todos os lados e uma população que, entre si, fala mais quechua que espanhol.

Quanto ao clima, não espere um clima tão ameno quanto o de Lima, já que a cidade fica a mais de 3000m de altitude. À noite e no início da manhã, mesmo no verão, as temperaturas ficam bem baixas, de modo que é indicado, para qualquer época do ano, levar casacos bem quentes.

A imagem mostra uma placa vermelha, cercada de vegetação baixa. Apontando para a direita, lê-se na placa, em branco "Lag. 69 a 1 hora".

Chegada

Dá pra chegar em Huaraz saindo de vários pontos do Peru. Eu fui de Lima e peguei um ônibus noturno da Movil Tours para ir e voltar, que pode ser comprado com antecedência, nesse site.

O ônibus da ida foi um executivo normal, tal qual os que pegamos aqui no Brasil normalmente, os baratinhos. Mas na volta, a empresa impressionou, servindo até um café da manhã com sanduíche e bolinho ou donut pouco antes da chegada em Lima.

Um ponto importante se você vai viajar à noite, como eu, e quer sair um pouco antes de ir para a rodoviária é saber que, pelo menos pela Movil Tours, é proibido viajar embriagado e os seguranças da empresa podem te testar com o bafômetro. Dependendo do nível de álcool no seu sangue, eles podem te impedir de embarcar, então fiquem atentos e não saiam pra beber antes de viajar.

A outra informação curiosa é que os peruanos não são muito gentis se você pede para trocar de assento durante a viagem. Eu e um amigo estávamos sentados longe do grupo e, em todas as vezes que tentamos, ninguém se disponibilizou a trocar de lugar com a gente. Pode ter sido azar nosso, mas a maioria das pessoas fechava a cara imediatamente quando pedíamos, de modo que achamos que devia ser algum costume local que não entendemos. Moral da história: se forem viajar de ônibus, comprem os lugares certos, perto dos amigos.

Sobre o mal de altitude, fomos informados que, indo de ônibus, íamos aos poucos nos acostumando e não sentiríamos muito e foi o que aconteceu. Só alguns de nós sentiram quando fomos subir as trilhas, mas a chegada foi bem tranquila nesse aspecto. O único perrengue que passamos na chegada foi o frio; como chegamos de manhã bem cedo, pegamos temperaturas bem baixas e, vindo de Lima, não estávamos vestindo as roupas apropriadas.

Hospedagem

Ficamos no Vacahouse Huaraz B&B, mas eu não indico. Os quartos são limpinhos e o ambiente é gostoso, contando com cozinha no local, área compartilhada e lugar para guardar as malas (que na verdade é só um depósito onde o staff permite que deixemos as mochilas sem identificação alguma), mas o banheiro do nosso quarto, no terceiro piso, e o banheiro compartilhado do andar estavam ambos sem água quente durante nossa estadia.

Já que os passeios saem muito cedo e voltam tarde e, como as temperaturas caem muito durante a noite em Huaraz, tivemos que tomar banhos quase congelantes durante nossa estadia. Mesmo os banheiros que pareciam ter algum nível de água quente, como os dos segundo piso, não passavam de uma temperatura morna.

A pior parte, a meu ver, foi que, quando reclamamos por estar sem água quente, o staff afirmou ser impossível que isso ocorresse, porque outras pessoas teriam tomado banho quente. Achei que foram muito pouco solícitos em resolver nosso problema.

Se ainda assim você quiser ficar no Vacahouse, indico que fique no primeiro ou segundo andar para evitar maiores surpresas.

A imagem mostra um vale entre duas montanhas, com o sol começando a aparecer por entre as nuvens. As montanhas formam altos penhascos e a foto foi tirada no caminho para a Laguna Parón.

Passeios

Vou confessar que, por mais que eu tenha tentado gravar o nome da empresa com a qual fizemos os passeios, mas não consigo lembrar, mas ambos os passeios que fizemos foram maravilhosos e eu indico muito que façam com a mesma empresa, de modo que deixo aqui o número de telefone para contatá-los: +51 979537325. Eles têm whatsapp, de modo que todas as tours podem ser fechadas aqui do Brasil.

Fechamos com essa empresa misteriosa antes de chegar por indicação de um conhecido, porque, como só teríamos dois dias na cidade, não queríamos perder muito tempo buscando agências. Comparemos os preços na internet e achamos compatível, então fechamos sem pensar muito.

Assim que chegamos, representantes da empresa nos esperavam na rodoviária segurando uma plaquinha com nosso nome para nos levar até o hostel. Antes de entrar no carro, porém, eles pediram que pagássemos os passeios adiantados. Ficamos desconfiados, mas aceitamos e, depois descobrimos, fizemos muito bem. Pagamos um total de 110 soles por pessoa para os passeios Laguna Parón e Laguna 69, mas não estava inclusa a entrada no parque, só o trajeto e o guia.

A imagem mostra, em primeiro plano, uma placa vermelha, com os dizeres "Lag. Paron 4200 m.s.n.m." em branco. Ao fundo, atrás de uma vegetação, vê-se a Laguna Parón entre montanhas, com um pico nevado ao fundo.

Laguna Parón

Foi nosso primeiro passeio. Escolhemos esse para fazer no dia que chegamos por ser mais leve, já que estávamos com medo de ser pegos pelo mal de altitude. A empresa passou às 8 horas em ponto para nos buscar (nós estávamos atrasados, depois de ler que tudo no Peru atrasa, então a dica aqui é: não se atrasem, os guias ficam irritados) e seguimos em uma van médio confortável para o Parque Huascarán. São algumas horas de viagem até começarmos a rodear o precipício em cujo topo fica a laguna. Vale a pena o passeio. Quando se chega lá em cima, além da vista maravilhosa da laguna, você pode passear de barco por ela ou subir uma trilha para vê-la de cima.

No caminho, um bônus: se o dia não estiver nublado dá pra ver o monte símbolo da Paramount, todo nevado e lindo.

Durante todo o trajeto, a guia foi explicando sobre a história, vegetação e clima do parque e da área e é bem interessante para aprender mais sobre a cultura do Peru. Ela também esteve super solícita para responder todas as nossas perguntas e para ajudar aqueles de nós que tiveram mais dificuldade com a trilha — leia-se eu mesma.

A imagem mostra em primeiro plano uma placa vermelha, com os dizeres "Lag. 69 4604 m.s.n.m.". Abaixo, uma placa maior, com desenhos indicando para não acampar, não nadar, não fazer fogueiras e não deixar lixo, com os dizeres "La naturaleza es fuente de vida ¡CUIDALA!" [a natureza é fonte de vida, cuide dela]. Ao fundo, é possível ver um penhasco e a água da Laguna 69.

Laguna 69

A temida e deslumbrante. Eu ainda vou fazer um post especificamente para essa trilha, mas segue aqui um resumo: o passeio para essa laguna sai ainda de madrugada e para de manhã em um restaurante para o café e para que os grupos possam comprar água e frutas antes de começar a trilha. Dica: comprem água antes, porque lá é bem caro (o dobro do preço da água no nosso hostel). Ainda antes da própria Laguna 69, o ônibus para em uma outra laguna muito linda, cujo nome, minha memória não me permite lembrar, mas vale a vista!

O guia nessa trilha também era super solicito e estava bem acostumado a fazê-la, de modo que foi muito bom tê-lo conosco. Quando chegamos no parque, tivemos 4 horas para fazer todos os quase 16 km de trilha e boa parte do grupo não conseguiu — o que, aparentemente, é normal. De qualquer forma, vale a tentativa, porque o caminho em si já é maravilhoso!

O cansaço é forte, mas não desista, o visual lá em cima é maravilhoso. Eu indicaria deixar essa como a última trilha dentre as mais simples do parque, já que exige bastante esforço físico, que se torna mais fácil à medida em que você adapta seu corpo à altitude.

Não esqueça de fazer a trilha com: botas apropriadas, comida e muita água.

A imagem mostra uma cachoeira caindo de uma montanha e formando o vale de um rio. Foi tirada na metade da trilha para a Laguna 69.

Na cidade

Aqui a única dica que eu posso dar é a do Campo Base, barzinho/restaurante/hospedaria onde fomos muito bem atendidas pelo Christian, garçom venezuelano refugiado no Peru, com muito carinho pelo Brasil. Lá tomamos algumas cervejas (médio geladas, no estilo peruano), petiscamos e ouvimos muita música brasileira que os garçons não paravam de tocar em nossa homenagem. Uma noite muito gostosa!

Transporte

Em Huaraz, como em Lima, há taxis e mototaxis. Os mototaxis são lindíssimos, em sua maioria decorados com muitas cores. Os taxis, por sua vez, costumam ser carros bem velhos, com viagens bem baratas (peguei taxi duas vezes, um de dois e o outro de sete soles), que devem ter o preço sempre combinado antes de entrar no carro. Em geral, dá para passear bem na cidade a pé.

A imagem mostra uma cachoeira caindo de um monte nevado e foi tirada na trilha para a Laguna 69.

Pra acabar

Huaraz é um lugar incrível e eu achei uma pena só ter podido ficar dois dias na cidade. Para quem, como eu, tem pouco tempo por lá, não indico conhecer só as duas lagunas que, apesar de bem diferentes, têm tanto em comum. Talvez seja melhor escolher uma das duas e conhecer também o glaciar ou alguma das ruínas preservadas, dependendo do que interessar mais ao grupo.

Assim termino mais uma aventura como blogueira de viagem. As fotos do post foram poucas, porque, de tão deslumbrada, acabei esquecendo de tirar, mas, mais uma vez, foram todas tiradas por mim. Você pode acompanhar minhas andanças melo mundo no meu instagram ou por aqui mesmo.

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