Pra se sentir parte do mundo: Union Square Park

Jéssica Raphaela
Revista Passaporte
Published in
3 min readMay 23, 2018

Onde a diversidade de Nova York se concentra

Fotos: Jéssica Raphaela

Por Jéssica Raphaela

Nova York pode ter mais de mil parques e áreas verdes nas cinco regiões (1.700 áreas de lazer, para ser mais exata), mas nenhum deles se repete. É fácil escolher o preferido, porque eles veem com uma história, um legado que é visivelmente percebido por quem se atreve a se perder pela cidade. O Union Square Park não chega a ser meu favorito, mas algo me atrai intensamente nesse lugar.

Sempre que sinto necessidade de um contato humano é para ali que vou: o parque mais democrático da cidade. Pra ser sincera, essa não foi a primeira definição que me veio à cabeça. A palavra inicial foi ‘esquizofrênica’. E já me explico. Fundado em 1872, o parque tinha o intuito de congregar os new yorkers. Cumpriu bem a função. Todo tipo de gente num mesmo lugar.

Entrando pela 14th street, o primeiro impacto. É ali na porta de entrada que ocorrem as apresentações de break, dividindo espaço simultaneamente com os protestos das pequenas causas e os corais composto por crianças e adolescentes. Sabe-se lá qual a coisa mais estranha vista por George Washington, no alto de seu cavalo de bronze.

Hare cristinas marcam ponto no local diariamente

Não distante, o grupo de hare cristinas entoa uma canção com instrumentos induístas, enquanto duas belas adeptas ao estilo de vida simples na mais cara cidade americana dançam. Me pergunto para onde eles vão após o expediente diário na praça. Afinal, quantas moedas doadas a convite das moças são necessárias para suportar um grupo inteiro na ilha onde o valor da moradia é nada acessível?

Há 20 passos, ainda dá para ouvir os mantras. Mas a canção se torna imperceptível aos adeptos do xadrez. Uma dezena de mesas montadas ao lado uma da outra recebem cada uma um tabuleiro com peças ora de plástico, ora de madeira. E aí talvez seja melhor definição de um espaço democrático. Certo dia, me aproximei de um grupo de curiosos e percebei logo me vi ao lado deles com cara de espanto: um menino na faixa de cinco anos disputava o rei de um homem na faixa dos 60 anos, com dreads nos cabelos. A mãe do menino, sentada ao lado, não dava pitaco, não interferia.

Adentrando a parte verde do parque, todos os tipos de pessoas ocupam o gramado, os bancos e as mesinhas disponíveis a rodo. Turistas descansando das andanças novaiorquinas, grupos de andarilhos com violões e grandes mochilas nas costas, casais aproveitando o tempo livre juntos, pessoas trabalhando com seus laptops ao ar livre, gente gastando seus dólares na feirinha de orgânicos… Vê-se de tudo na Union Square e nada é estranhamento.

Disse antes que o parque está longe de ser meu preferido, mas corrijo a frase agora. Tudo depende do meu estado de humor, tão mutável nessa cidade. Sentada aqui do banco de onde escrevo, nesta segunda-feira que já sopra o ar do outono e alivia o calor dos últimos meses, promovo a Union Square. O conceito de Nova York concentrado no mesmo espaço.

Leia também: Cinco motivos para considerar NYC uma cidade pequena

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