Colloseum di Roma (Acervo Pessoal)

Viajar é conhecer histórias e crescer com elas

Jônatas Almeida
Revista Passaporte
Published in
5 min readJun 1, 2020

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Três trajetórias que marcaram a minha passagem por Roma e me fizeram repensar a vida

Em capítulos anteriores, contei um pouco da minha primeira viagem internacional e, que inclusive, foi a primeira vez que entrei em um avião. Minha aterrissagem final foi na Itália, país da pizza, da pasta, da lasanha e, é claro, da história. Parte significativa da trajetória mundial envolveu essa região. E, no episódio de hoje, vou levá-los para conhecer personagens importantes da história que vivi em Roma, mais especificamente em Santa Croce in Gerusalemme.

Durante a semana que passei no prédio ocupado nesse bairro do centro romano não faltaram momentos em que fiquei sentado em silêncio e a pensar. Existia essa necessidade de reflexão, principalmente depois que você conhece pessoas com trajetórias de vida emocionante, que lutaram para estar ali e, mesmo com todas as dificuldades que passaram, não reclamavam da vida, mas agradeciam a oportunidade que ela ofereceu. Hoje, estou muito feliz em poder compartilhar nessas linhas um pouco de tudo isso.

Cidade de Roma (Acervo Pessoal)

Aprendemos com todas as circunstâncias, sejam elas boas ou más

Ao chegar naquela que seria a minha morada por alguns dias, revi alguns moradores que já havia conhecido em um evento beneficente. Uma dessas pessoas foi uma senhora de origem romena e com um grande talento culinário.

Muito lembrada por ser uma mulher prestativa e zelosa, tinha os cabelos curtos, loiros e com mechas pretas. Sua aparência revelava a altura de 1,60m, média para o sexo feminino do seu país. Ela vivia só, pois o marido precisou retornar à Romênia para cuidar das coisas que deixaram para trás ao se mudarem.

A decisão de migrar para a Itália partiu de um desejo e de uma necessidade de juntar a quantia necessária para terminar de ajeitar a casa, o que seria muito difícil se permanecessem ali. Ela conseguiu um trabalho rapidamente em Roma: cuidava de um lar e, com esse salário, fazia o plano seguir a todo vapor.

No início, tudo se encontrava como combinado, porém algumas sensações ruins começaram a aparecer. Era como um aviso que uma tempestade estava para chegar. Em um dia de trabalho, um mal-estar a atingiu seguido de outros. O incômodo foi tão grande que a levaram ao médico e o diagnóstico foi severo. O desespero foi imediato, e o futuro tornou-se nebuloso.

Por conta do grave problema de saúde, o emprego foi perdido e, consequentemente, a moradia foi afetada. Ela e o marido foram avisados da ocupação que ocorreria e não mediram esforços para lutar por um teto. Mesmo ainda muito debilitada devido ao tratamento, os dois estavam entre as mais de 100 famílias que adentraram ao edifício em Santa Croce.

Foram dias difíceis. Todas aquelas pessoas viviam em um mesmo andar, o térreo. Para realizar a ocupação dos escritórios, uma averiguação e reformas precisavam ser realizadas. E ali estava ela, que, com a saúde frágil, achou forças para cuidar dos outros. Com tudo resolvido, chegou a hora de conhecer e ajeitar a sua nova morada. E não lhe faltaram esforços para fazer com que aquele cantinho tivesse a sua cara.

Coliseu de Roma (Acervo Pessoal)

O tempo foi passando e um grande presente veio dos céus. Depois da luta diária para recuperar a saúde, hoje ela conta emocionada o poder da fé que a fez melhorar e se curar. A cidade de Roma passou a ter um lugar definitivo em seu coração, mas a luta para realizar o sonho permanece ainda mais vivo.

Independentemente de onde estamos, sabemos que tem alguém que zela por nós

Na grande maioria das vezes, quando mudamos para outro país, necessitamos começar a nossa história do zero, mesmo que isso seja de certa forma doloroso por não termos a nossa família ou amigos por perto. Os costumes, a rotina, tudo muda, mas é necessário para alcançar os nossos objetivos. E foi isso que aprendi com Henry.

Esse jovem veio do Congo, país africano colonizado pela França e que tem como idioma oficial a língua desse país europeu. Ele, que hoje tem 26 anos, decidiu se mudar para a Itália para realizar o sonho de se formar em Direito. A saudade da família é o ponto mais difícil nessa jornada, mas todos os recursos para estar em contato com os familiares e amigos o faz sentir mais motivado para vencer.

Nós nos conhecemos por acaso no prédio. Teríamos que dividir o quarto, porém no fim das contas não foi preciso. Ele estava ali para passar alguns meses até conseguir alugar uma casa na capital italiana. Apesar das poucas oportunidades que tivemos para conversar, quando nos encontrávamos parecíamos amigos de infância, pois muitos assuntos e gargalhadas tivemos até altas horas.

Teve um episódio em especial que me marcou mais. Foi a nossa primeira conversa, e ele me mostrou uma lembrança que a mãe dele comprou justamente para a viagem. Esse presente era para estar sempre ao seu lado e ali teria todas as direções para qualquer situação que viesse a passar. Era uma Bíblia, que ele guardava com todo o cuidado, e não só lia como também passou a frequentar uma igreja em Roma. Ele aprendeu que Alguém estava sempre a zelar pela sua vida.

Uma nova casa

Gelateria Giovanni Fassi (Acervo Pessoal)

Outra pessoa que tive o prazer de conviver foi um compatriota. Paraense, ele resolveu ir para a Itália com o objetivo de encontrar a irmã que não via a mais de dez anos. Porém, a capital repleta de sítios arqueológicos encanta e faz a experiência ser única e, se surgir um emprego, vai ser muito bem-vindo e poderá ampliar a estada. E foi o que aconteceu, e o que era para ser apenas um curto tempo, durou anos.

Ele também marcou presença na ocupação, onde auxiliou nas reformas do prédio. Fascinado por filmes, que inclusive o ajudou no aprendizado do italiano, a simpatia, a vontade de ajudar o próximo e o talento para contar histórias, o destaca.

Apesar de morar na Europa, a vida no velho continente não é fácil como muita gente pensa. Em especial na Itália, que enfrenta uma crise que se arrasta por anos. Isso faz com que as coisas sejam mais complicadas para conseguir. Nosso personagem ressalta que, mesmo trabalhando um mês e no outro sem saber o que acontecerá, o dinheiro da economia realizada dá para um cidadão se manter. Porém, retornar ao Brasil só a passeio, pois a tranquilidade de andar nas ruas, poder admirar a cidade, as pessoas sem ter medo de ser assaltado, não tem preço.

Quer conhecer mais sobre minha viagem pela Itália? Clique aqui ou no link abaixo para desfrutar mais dessa experiência:em

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Jônatas Almeida
Revista Passaporte

Jornalista e escritor. Apaixonado por viagens, literatura, cinema, música e esportes. Siga-me no Instagram: https://www.instagram.com/almeida.jonatass/