Votar, gritar e viajar — dia 9/10

Café das sete
Revista Passaporte
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5 min readNov 22, 2022

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Sai de monte verde com roteiro de cinema na cabeça, filme de terror trash, personagem principal era um esquilo gigante que se alimentava do sangue dos casais apaixonados e guardava seus corações dentro de sua cestinha de vime. Lá sentanda vendo estrelas, eu e Caio erámos os hérois da cidade, curtindo as estrelas pós derrota do esquilo do mau. Seguimos pra útlima parada e último roteiro de cinema também, conto no final. Quase sempre quando faço esse rolê MG-SP eu paro num cantinho amoroso pra mim, as vezes nos dois, as vezes só num deles. Dessa vez escolhi Lavras, tenho uma prima que amo muito que mora por lá (alô Titila).

Geralmente quando tô pela cidade, minha visita se resume a cerveja com minha prima e suas amigas, muito cerveja por sinal, as vezes um role na cachoeira ou em outra cidade próxima, dessa vez a gente curtiu a boa e universitária cidade de Lavras. Dia 8 ainda — Dado o anuncio que iamos pra lá, minha prima já mandou um evento de rock, mandei o OK pra compra do ingresso, parecia um bom fim de ciclo: do indie rock no festival em sp ao rock na terra dos ipês e das escolas.

Dia 9— Já disse: muita cerveja né! Então o resultado é uma ressaca que foi combatida com cafézinho e pão de queijo caseiro, ah como eu amo Minas! Em busca de algum lugar pra nadar e rebater a ressaca com mais cerveja, férias né, partimos pra o Parque Ecológico Quedas do Rio Bonito, um parque particular bem verde, com atividades ao ar livre, que incluem duas piscinas, uma mini cachoeira, trilhas, tudo parecia bem de acordo com aquele sábado. Chegamos lá (25 paus — caso queira usar as psicinas). Nesse ponto, se você me leu até aqui, alguma dúvida que eu usaria a piscina? Acho que não né.

Tudo certo a prícipio, pagamos, entramos e quando chegamos na área de piscina não tinha nenhum comércio aberto. Sim! A gente tinha pagado, no cartão, 75 reais, eram 10hrs da manhã e a gente tinha todo um dia pela frente num local afastado da cidade, sem um grão de comida e bebida. Parecia uma piada de mal gosto, a gente ficou se perguntando por uns instantes o que fariamos? Minha prima foi perguntar para uma família numerosa que estava por lá, eram só eles, uns 6 a 7 adultos, dois xóvens e umas 4 crianças e nós três no parque inteiro. E era real, não abriria nenhum dos comércios.

Família numerosa com crianças é sinal de que? Comida! O termo farofeiro vem daí. Resultado é que ganhamos sanduiches com refri deles, que ficaram com dó de nós três. Um amor! Mais de uma vez inclusive. Nos restou aprovietar as piscinas, o lago e a piada do universo pra ficar reclamando e fazendo mais piadas. Terminamos o dia comendo um um mexicano no Cactus e a energia deu certa abaixada. Eu me perguntava se era o cansaço ou se era o azal do dia (que no fim, eu amei, pq né, sanduiche e piscina), mas, pós mexicano nós dormimos e no domingo pós café decidimos voltar pra casa, Dia 10.

E aqui entra o roteiro de cinema dessa parada. Filme de drama, nas primeiras sequências corte rápido, trilha alta e uma loucura sem nexo. De repente uma narrativa lenta e de cotidiano, as vidas das pessoas como elas são, sem grandes surpresas, com pequenos prazeres e reflexões nos detalhes diários.

Afinal, é isso que faz com que eu consiga ter reflexões tão boas e gentis quando viajo, eu sou do singelo, apreciadora do detalhe, o menor que seja, e com isso fico tudo fica muito divetido e belo aos meus olhos. É admirando os processos, os caminhos que eu me torno uma pessoa animada, que frui no caminho do parque ruim olhando o mato verde que passa rápido na janela do carro; que tira reflexão boa de perrengue no carro no ínicio da viagem; que aprecia uma praia de longe e um vista do alto; que gosta da cidade dos casais, mesmo estando com um amigo, porque o verde da arvóre fica pra sempre na minha mémoria e os pequenos espaços de espontaniedade casaul se tornam grandes momentos.

Essa visão ora se torna um tormento, quando por exemplo meu coração se enche de buracos e eu nem posso chamar o borracheiro pra resolver, mas, ora se torna uma virtude e eu pareço permanecer num estado constante de sonho, ainda que de olhos bem abertos. Caio cotuma dizer que eu falo 80% da viagem e ele fica com resto, dessa vez creio que nos equilibramos no 60% meu e 40% dele (obrigada pela companhia amigo). E pra quem leu, obrigada pelo encontro.

Meu Deus!
Agora que estava completo
não podia sequer cantar.
“Ah!” pensou
“então é assim!”
Então, parou de rolar…
e, com cuidado, pôs a parte no chão,
e rolou devagar para longe.
e enquanto rolava,
com voz suave cantava:
“Oh, busco a parte que falta em mim,
A parte que falta em mim.
Ai-ai-iô, assim eu vou,
Em busca da parte que falta em
mim”

(trecho do livro — a parte que falta — Shel Silverstein)

TCHAU E BENÇA! até a próxima.

VOTAR, GRITAR E VIAJAR, minhas viagens quase sempre começam com um doc do drive que eu vou enchendo de pequenas notas, desejos e destinos, geralmente eu nomeio os docs com uma vibe do q espero. Por aqui já teve o “de barco”, minha viagem pelo norte, nessa eu caprichei nos detalhes, são grandes os textos. E também um relato rápido, da janela do onibus, do meu mochilão pelo nordeste. Votar, gritar e viajar, nasceu de uma lembrança de outra viagem breve que fiz com a mesma companhia, pela mesma Br, alguns mesmo caminhos e encontros, em outubro de 2018. Numa foto, dessa viagem, eu coloquei a legenda “voltar, votar, dormir e rezar”, eu me referia a fatídiga eleição de 2018. Pensando agora numa viagem pós eleição de 2022 só me vinha em mente a frase: votar, gritar (LULA, eleito) e viajar e assim nasceu esse relato.

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Café das sete
Revista Passaporte

Por Helena Merlo. MUITOS erros de digitação pq eu escrevo na fritação do sentimento! CATARSE. "A arte é uma confissão de que a vida não basta" F.Pessoa