Manual Colaborativo da Autocompaixão

Bruna Próspero Dani
uma-maleta-de-mão
Published in
6 min readDec 11, 2018

No começo desse ano eu escrevi uma matéria para a Revista Vida Simples que falava sobre autocompaixão. (Aliás, você pode lê-la aqui.) Sugeri o tema, pois desde o final do ano passado, vinha ouvindo muitos “você tem que se cobrar menos”, “olha com mais carinho para as suas questões”, “como você consegue tratar bem os outros e ser tão rude com você?”.

Sim, eu tenho uma baita sorte e sou cercada de muitas pessoas que me fazem evoluir e de tanto baterem nessa tecla eu comecei a buscar reais formas de praticar a tal da autocompaixão.

Mergulhada no assunto comecei a conversar ainda mais com inúmeras pessoas sobre isso. E diante de muitas conversas, livros e documentários senti a vontade de escrever sobre esse sentimento que é tão dificíl de construir. (Eu falei mais sobre como fomos “instruídos” ao caminho oposto disso durante toda a vida na matéria).

As reflexões foram tantas que a ideia inicial do trabalho era fazer uma espécie de manual com vários depoimentos de quem descobriu formas de pegar mais leve consigo mesmo, mas conversando com a Ana (editora chefe da revista) percebi que não seria possível colocar este formato na publicação e que cada depoimento em si renderia uma matéria completa.

Fiquei pensando no que fazer com os depoimentos (vários, alias, de amigos maravilhosos) que recebi e com tanta coisa que li/vi, então me veio a ideia de colocá-los aqui para inspirar novas reflexões entre a gente.

Ainda mais no final do ano, época que a gente costuma olhar pra tudo que a gente fez com um certo “desprezo” nos cobrando sempre mais.

A ideia é que a lista aumente e seja colaborativa, então se você encontrou algum “método” para pegar mais leve com você, compartilha também!

APRENDA A DIZER NÃO

Tem coisa mais automutiladora do que dizer sim para situações que você não tem vontade de aceitar? A publicitária Mariana Prado, começou a prestar atenção nisso e me contou que, às vezes, o hábito já é tão grande que nem sabemos se estamos fazendo pela nossa vontade ou para agradar os outros. Então passou a prestar mais atenção no que realmente sai do coração dela antes de agir ou responder a algo. Entender nossas reais motivações e saber negar aquilo que não vai te fazer bem, é um ato de amor com você mesmo e é libertador! “Essa é a verdadeira liberdade”.

ACORDE SEU PALHAÇO E RIA DOS SEUS TROPEÇOS

Rir de si mesmo é um poderoso remédio e uma forma de reconhecermos a nossa humanidade e espontaneidade. Ao nos livrarmos das crenças impostas por nós mesmos e pelos outros conseguimos ter atitudes com mais leveza, sem nos importarmos com o que é “normal” ou não. É o que me disse o palhaço profissional Máximo Fassi, que dá a dica para sempre nos perguntarmos “o que faria meu palhaço interior diante deste fato?”. E acredite, todos temos um palhaço dentro de nós (às vezes ele está adormecido, mas sempre é possível despertá-lo).

NÃO TENTE ADIVINHAR O QUE OS OUTROS VÃO ACHAR

O medo da crítica pode nos paralisar. O escritor Frederico Elboni fala, em um de seus vídeos disponibilizados no youtube, que se fosse imaginar o que cada pessoa pode pensar ao ler seus textos, ele simplesmente não escreveria nada. Isso vale para o processo criativo dele (e meu!), mas também para as nossas pequenas decisões diárias. Parar de criar expectativas (negativas ou positivas) nos poupa do medo de não “sermos bons o suficiente” além de economizar energia e tempo!

REFORMULE SUAS VERDADES

Muitas vezes, construímos sonhos baseados nos desejos dos outros ou, simplesmente, nos desejos que já não fazem parte da nossa essência. Continuar insistindo neles, pode nos causar uma baita angústia. A escritora Kim McMillen comemora sobre isso em seu poema: “Quando me amei de verdade, reformulei meu conceito de sucesso e a vida ficou mais simples. Ah! Quanto prazer isso me trouxe!”

ALIMENTE-SE COM AMOR

O que te nutre de verdade? É a pergunta que a nutricionista Marise Berg nos convida a refletir. Ela presa por uma alimentação consciente que é aquela que sabe ouvir os instintos reais do nosso corpo. Entender o que realmente te faz bem (sem se boicotar!) é essencial nesse processo. (Pense não só em relação a alimentos, mas também a cultura, conversas, companhia, clima — aqui estamos falando sobre nutrir o corpo, mente e alma!)

VISTA-SE DE VOCÊ

A empresária Bruna Allegretti fugiu de vários carnavais por achar que não se adequava aos padrões de roupas e fantasias da época. Este ano ela resolveu se libertar destas crenças e caiu nos bloquinhos de rua com as roupas que desejava usar. Sendo ela mesma. Ela escreveu sobre essa experiência aqui.

A aceitação do corpo também é tema do documentário Embrace (disponível no Netflix) que mostra a trajetória da australiana Taryn Brumfitt que rodou o mundo entrevistando mulheres que antes odiavam seus corpos e contam como estão mudando este padrão. Uma baita lição de vida!

DE CARINHO AO SEU CORPO E A SUA ALMA

Quantas vezes você se deu um presente? Quantas vezes você teve um momento de carinho com você mesmo? A terapeuta ayurvédica Juliana Genistretti acostumada a fazer massagem em seus pacientes, percebeu que também precisava deste cuidado. E ensina: “Alguns minutinhos nas plantas dos pés e nas mãos são suficientes para criarmos um laço de amor com nós mesmos”.

Artista não identificado

OLHE NOS SEUS PRÓPRIOS OLHOS

E diga o quanto você se ama e é completo. Olhar para o espelho nem sempre é uma tarefa fácil para muitos de nós. A personal trainer Aline Menezes encarou o desafio e viu muito mais do que a carapaça que chamamos de corpo. Dizem que os olhos são as janelas da nossa alma, então essa é uma conversa que vai além.

FAÇA POR VOCÊ

E faça mais do que você gosta. A Ortoptista Ana Paula Capolleto descobriu uma paixão que não é a mesma dos seus companheiros diários (filho e marido). Surfar tem sido uma atividade que ela faz feliz mesmo que tenha que descer para a praia sem a companhia deles, mas vai com um sorriso enorme. “Fazer algo apenas para mim pode até parecer um pouco egoísta, mas não é, afinal, quando você está bem consigo mesma, se sentindo realizada, as relações melhoram.” Encontre o que te faça abrir esse sorriso e ter esse sentimento e vai fundo! Vale dançar, ir ao cinema, cozinhar, cantar, fotografar…

RECONHEÇA E HONRE SUAS VIRTUDES

Pare — de uma vez por todas — de responder um elogio com algum afirmação negativa.

“Ah! Isso é porque você não viu quando eu acordo!”

“Que nada! Isso foi sorte!”

É tão bonito quando vemos alguém que ao receber um elogio responde apenas com um “muito obrigado! Que bom que gostou! Dei tudo de mim!”

Admirei quando vi a consultora Catia Favale em uma reunião e decide que queria ser assim!

ACOLHA SUAS DORES

Ser autocompassivo e empoderado sobre sua própria vida não quer dizer que você precise achar tudo mil maravilhas.

Aceitar nossas dores e fraquezas sem colocá-las para debaixo do tapete é fundamental.

A jornalista Jana Teixeira escreveu sobre o seu processo de “empoderamento” aqui.

Como ela diz: empoderamento não é sinônimo de perfeição. Autocompaixão também não! Aliás, está bem longe disso!

“A verdadeira segurança reside não em se agarrar à segurança, mas em se sentir seguro dentro da insegurança”. — Monja Jetsunma Tenzin Palmo

DIMINUA A CRÍTICA SOBRE OS OUTROS

(Ou simplesmente não critique os outros). Sim, porque antes de dar colo e acolher a si próprio é preciso desenvolver a compaixão pelos outros também. Criticar a performance do colega em uma reunião, por exemplo, posteriormente nos traz a autocobrança em relação ao nosso próprio desempenho.

A mesma coisa acontece quando julgamos o corpo ou a atitude do outro. Tratar os outros com carinho ajuda a nos tratarmos dessa forma diante das frustrações. Além disso, é um jeito de deixarmos a “cultura da competição” de lado e lembrarmos que estamos todos no mesmo barco.

SINTA-SE MERECEDOR E SEJA GRATO PELO O QUE JÁ TEM

Afinal, todos os seres são merecedores de serem felizes. Não se sabote pensando que teve sorte em conseguir alguma coisa, ou que não fez mais do que sua obrigação, provavelmente as conquistas vieram de um esforço e capacidade suas. É o que me explicou a terapeuta holística Renata Puga, que também comentou sobre como esse processo de acharmos que não fizemos mais do que a nossa obrigação nos impede de sentirmos gratidão pelas conquistas diárias. “A gratidão sincera liberta!

E você? Quais as “estratégias” que anda tendo para ser mais autocompassivo? Compartilhe para aumentarmos esse manual ;)

E, se este texto fez algum sentido para você, não esqueça de bater as palminhas aqui embaixo! (Elas vão de 1 a 50), me ajudam a saber o que está legal ou não por aqui e a espalhar o texto para mais pessoas! ;)

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