“Devemos parar com o maniqueísmo de achar que drogas do bem estão na farmácia e do mal com traficantes”

Victor Santos
Pilaco Vaps
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14 min readJul 31, 2017

Dartiu Xavier trata dependentes de substâncias psicoativas há quase três décadas e expõe o os muros que o preconceito impõe ao tratamento

“Há um descompasso entre o conhecimento científico e as políticas públicas”, diz o médico psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, professor da Unifesp e que coordena, há 28 anos, um programa de tratamento de dependência em que atende e assiste pessoas que sofrem com vícios, além de ser pesquisador do assunto.

A terceira entrevista da série FUMO abordou a medicina, psiquiatria, legalização das drogas, a dependência de diferentes substâncias e também uma dimensão de sociedade e de Estado.

Nesta entrevista, Dartiu abordou as dificuldades enfrentadas pelos viciados em fumo. Analisou rituais organizados em torno dos costumes e disse que o tratamento passa por uma análise do cotidiano e da questão emocional do indivíduo.

Leia aqui a primeira entrevista da série FUMO com o biomédico Renato Filev.

Além disso, condena a hipocrisia em relação às drogas e explica que muitos estudos envolvendo substâncias ilícitas não são realizados por causa do preconceito. “Como pesquisador, não tenho acesso a cocaína e maconha. Mas, se quiser usar, é só pegar o celular e em 15 minutos chega alguém na minha porta”, lamenta.

Durante a conversa, o psiquiatra também questionou as políticas públicas que possuem perspectivas médicas, de estudo, de provas e de pesquisa. Segundo ele, a proibição é um atraso para a sociedade e para a comunidade científica.

“Se a dependência é de uma droga ilícita, esse usuário tem todas as dificuldades dos dependentes de drogas lícitas e mais as dificuldades de estar com uma droga proibida”, explica.

Dartiu defende a legalização das drogas e acredita que é necessário um tipo de regulação que, no caso da indústria do álcool, por exemplo, não funcionou corretamente. “O marketing consegue fazer uma pessoa se interessar por algo que não interessa. O que a indústria do álcool faz não é inócuo. Discordo e acho criminoso”.

Foto- facebook.com/laboratorioelpsi

Leia a entrevista completa abaixo:

Pilaco Vaps — Aparentemente, há um cuidado maior do Estado hoje com relação ao cigarro. Como vê o tratamento do vício?

Dartiu Xavier — O fumo era visto apenas como um hábito sem maiores consequências. Estudos científicos da década de 1950 e 1960 começaram a mostrar sobretudo os riscos cardiovasculares, de doença coronariana, infarto, derrame cerebral e os vários tipos de câncer. No início, estudavam mais o câncer de pulmão, mas são várias doenças associadas ao tabaco. Na década de 70, eu estava na faculdade de medicina e a gente fumava no hospital. Hoje nem se imagina um médico atendendo um paciente com um cigarro na boca. Quando começaram a ter certeza de que o tabaco era o responsável por uma série de doenças, foi necessário mudar a postura e investir em prevenção. A forma de prevenção ao uso do tabaco é um modelo para o uso de qualquer substância psicoativa. Houve uma redução brutal de fumantes no mundo, inclusive no Brasil, que é um dos exemplos bem-sucedidos. Aqui, a população fumante era majoritária, agora é algo em torno de 20%. O tabaco nos ensinou em vários âmbitos: na necessidade de pesquisa das substâncias, de prevenção e de políticas públicas, por exemplo. Outra questão é que todo esse trabalho de pesquisa, prevenção e intervenção só foi possível porque é uma droga lícita. Esse é um dos motivos que me fazem ser a favor da legalização das drogas. Precisamos ter acesso e falar abertamente sobre elas.

PV — Muito se fala em trabalhar para que não se fume. Como enxerga essa questão?

DX — Temos que aceitar que algumas pessoas vão fumar. É um comportamento autodestrutivo, entre aspas, porque ninguém procura o tabaco para se destruir. Procura por gostar, pelo prazer. Mas é um prazer de preço alto e é aí que entra a prevenção. O tabaco se começa jovem e as doenças só vão se manifestar 30 ou 40 anos depois. Não há uma conexão imediata, então é preciso desestimular o consumo. Quando eu era jovem, tinha um glamour em torno do cigarro, hoje em dia pode até pegar mal. Não tem essa conotação de algo sofisticado e elegante. Isso tem a ver com a criação de imagens em cima de um hábito. Já a indústria de bebidas no Brasil, por exemplo, trabalha contra a maré. A Ambev insiste em associar a cerveja a uma loira gostosa, faz propagandas nitidamente dirigidas a adolescentes. Não é que as pessoas não podem beber, o álcool é uma droga mais segura que o cigarro. Consumido em pequenas quantidades não vai ter efeitos nocivos como o cigarro, mas estimular um comportamento que pode levar ao alcoolismo é questionável, sobretudo para uma população jovem.

Leia aqui a segunda entrevista da série FUMO com o historiador Henrique Carneiro.

PV — No fumo existem outros elementos além do vício no princípio ativo? Como a psiquiatria trabalha essa questão ritualística? Digo, do gestual?

DX — Tem estratégias diferentes dependendo do paciente. Quando se quer parar de fumar, é possível trabalhar com remédios, com goma, com adesivo, mas tem que trabalhar à maneira como aquele indivíduo organizou a vida dele em função do cigarro. Para algumas pessoas existem cigarros especiais: ao invés de tirar de uma vez, se pensa alguma estratégia a partir deles. Em geral, é o primeiro do dia, depois das refeições e à noite [que se fuma]. Isso é redução de danos. Diminuir o quanto se fuma visa justamente não sofrer esse impacto da associação entre a rotina e determinados hábitos e rituais. O ato de passar o “baseado” em um grupo também traz essa questão ritualística. Esse aspecto tem a ver com a sensação de pertencimento a um grupo, mas não acho que precisa ser através disso necessariamente. Isso existe no hábito de fumar qualquer substância.

PV — Essas possibilidades apresentadas ao fumante, como o adesivo, o chiclete, conseguem trabalhar o uso da substância com eficiência?

DX — Todos os fumantes relatam ter a necessidade de pôr alguma coisa para dentro e receber a nicotina por adesivo não dá o mesmo prazer. Algo intermediário, que é melhor que o adesivo, é a goma de nicotina, por ser mais próximo. Trabalha a boca e o gosto.

PV — E o fumar em um momento de avanço tecnológico, de redes sociais, de pessoas cada vez mais ansiosas?

DX — O cigarro diminui a ansiedade. Com o aumento dela também se aumenta o consumo. Existem estudos mostrando o efeito contra a ansiedade e antidepressivo do cigarro (veja um exemplo aqui). Então, quem tem ansiedade e depressão tem a maior chance de ir para o tabaco. Por isso que, quando você quer que alguém pare de fumar, é necessário verificar se a pessoa tem ansiedade ou depressão. Não adianta dar adesivo ou goma sem trabalhar a causa. Pode ser que aquele indivíduo se tornou fumante por causa de ansiedade. Assim, se não tratar disso ele não vai largar.

PV — A Cannabis fumada tem esse potencial de desenvolver vício?

DX — Sim, mas é um potencial muito menor do que o que as pessoas têm dito. Estudos epidemiológicos apontam que o risco de se tornar dependente de tabaco é de 33%, ou seja, a cada três pessoas que começam a fumar, uma vai ficar dependente. Para a Cannabis essa taxa é de 9%, logo, a cada 100 pessoas que fumarem maconha só nove vão viciar e 91% dessa amostra fará uso controlado. Na questão do risco de dependência, a maconha é muito menos arriscada.

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PV — A maconha tem até a possibilidade de ser usada no tratamento do vício de crack, certo?

DX — Foi um estudo pioneiro que eu e minha equipe realizamos para tratar a dependência de crack com maconha, no final da década de 90. Tem uso terapêutico de maconha para uma série de doenças, como alguns tipos de câncer. Não só no alívio da dor, mas a maconha pode regredir alguns tumores. Também pode ser muito benéfica para várias doenças neurológicas, sobretudo esclerose múltipla, que deixa a pessoa travada e torta por causa de contração muscular. Com o uso da maconha e o relaxamento que ela proporciona, a pessoa volta a ter uma postura normal. A AIDS também. Embora a população em geral seja ainda preconceituosa no caso da Cannabis, quem é estudioso da área sabe que os benefícios são inquestionáveis.

PV — Fale mais sobre o tratamento do vício em alguma droga usando outras drogas.

DX — Isso sempre houve na história da medicina. Um dos primeiros tratamentos de alcoolismo no século XX, era uma solução de álcool. Você dava álcool para o viciado em álcool. Hoje já não se faz isso porque se desenvolveram remédios, mas substituir uma substância por outra é muito frequente na medicina e na psiquiatria. O primeiro estudo que substituiu crack com maconha foi nosso, depois se espalhou para outros lugares do mundo como um fenômeno que realmente ajudava o indivíduo a segurar a compulsão pelo crack. Esse efeito terapêutico “antifissura” da maconha é algo que está sendo estudado e já existem pesquisas referentes ao vício em heroína. Alguns pacientes meus trataram até o vício em cigarro. Não conseguiam parar de jeito nenhum e usaram a maconha para deixar de fumar, mas isso não tem muito estudo. Para alguns até estimula a vontade. É preciso estudar.

Veja Dartiu Xavier explicando o estudo realizado:

PV — Alguma próxima pesquisa em mente?

DX — No estudo que fizemos, o viciado em crack usava a maconha que ele buscava do traficante. Não se sabe a qualidade e o que há de princípio ativo nela. Agora estamos propondo um estudo do uso de maconha estabilizada por uma indústria farmacêutica. Assim, conseguimos saber a quantidade de cannabinoide que tem naquela maconha. Vamos evitar a via fumada, pois fazer a combustão de um produto pode fazer um efeito negativo pulmonar. Então vamos usar a vaporizada. Do ponto de vista de saúde é melhor que não se fume nada como remédio.

Leia mais sobre o tratamento da dependência de crack a partir da maconha aqui.

PV — Quais são os efeitos da maconha em uma pessoa que tem câncer, por exemplo?

DX — Primeiro é a quimioterapia, um tratamento que tem muito efeito colateral. Tem pacientes que vomitam o dia inteiro, outros nem acabam o processo e ainda há quem só consegue continuar em quimioterapia com o uso da maconha. Junto com a quimioterapia, a maconha permite que os pacientes concluam o tratamento do câncer. Em segundo lugar, a maconha pode agir no próprio câncer com a regressão do tumor: há o glioma, a próstata, o intestino. Todo câncer é uma massa de células irrigada por outras células, e a maconha vai destruindo esses vasos do tumor, diminuindo a chegada de sangue no tumor, até que ele morra.

Longo estudo orientado por Dartiu, clique aqui para conferir a íntegra.

PV — Há uma discussão de que a maconha pode, hoje, substituir remédios opióides, pensando em atletas e pessoas comuns.

DX — Os opióides são remédios de extrema importância para a sociedade. Só que os riscos de dependência nos opióides são maiores que os de maconha. Se houver um efeito benéfico com a maconha é preferível fazer essa troca. Antigamente, se usava muito o “Barbitúrico” como calmante. Hoje são os benzodiazepínicos, como Rivotril. Essa mudança se deu pelo risco dos barbitúricos, é uma questão de ser mais seguro.

PV — Atualmente tem uma forte crítica à indústria farmacêutica no Brasil. Qual sua opinião?

DX — A indústria farmacêutica comete abusos como todas as outras indústrias. A do tabaco e a do álcool são as campeãs dos abusos. Por quê? Porque visam o lucro. Mas acho que a indústria farmacêutica é a mais éticas de todas essas. A Ambev, por exemplo, não tem a mesma ética da indústria farmacêutica. Acho justo criticar a indústria farmacêutica, mas também acho um pouco injusto comparado ao que uma Ambev faz.

PV — E essa questão de danos colaterais dos remédios?

DX — Isso acontece. O próprio Viagra foi desenvolvido para ser um remédio para pressão alta, mas efeito colateral de ereção. Depois, virou remédio para impotência. Isso faz parte da história da medicina.

PV — Como que o Estado pode ter uma postura interessante levando em conta a importância da liberdade individual?

DX — A vontade do indivíduo é soberana. O valor máximo a ser defendido em uma sociedade é a liberdade individual. Enquanto profissional de saúde, tenho o dever de alertar a pessoa sobre os riscos daquela substância. A função do Estado é dar esse tipo de informação, que se encaixa dentro de um quadro de educação preventiva. O Estado não deveria estimular coisas potencialmente danosas e não pode fazer essa ingerência contra a vontade do indivíduo. Sou totalmente contra medidas como internação compulsória e outras mais intervencionistas e repressivas.

PV — Recentemente, a Anvisa permitiu a venda do primeiro medicamento a base de canabidiol no Brasil. Como é pesquisar essas drogas ilícitas?

DX — Todos os estudos que fiz foram muito difíceis, existe uma resistência muito grande. A burocracia para conseguir maconha ou cocaína para pesquisa demora mais de um ano. Por ser uma droga ilícita, é muita papelada. As pessoas não têm anos para esperar a burocracia e realizar o estudo, então acabam se debruçando sobre o álcool mesmo ou desistindo da pesquisa. Como pesquisador, não tenho acesso à cocaína e maconha, mas se quiser usar em caráter pessoal é só pegar o celular e em 15 minutos chega alguém na minha porta. É muita hipocrisia. Na medida em que se abre a perspectiva com uma visão menos policialesca, se facilita o acesso e a pesquisa. Eu celebro a ação da Anvisa, mas é um órgão que está muito moroso e seletivo. Isso é uma besteira. Quantos remédios estão na farmácia com efeitos psicoativos e ninguém faz restrições?

Anvisa aprova registro do primeiro medicamento à base de maconha no Brasil.

PV — Nos EUA, o site da DEA classifica a maconha como “Schedule 1”, junto com metanfetamina, por exemplo. Entre as características da definição é que são drogas sem comprovação de uso médico. Isso afeta muito o Brasil?

DX — Há um descompasso entre o conhecimento científico e as políticas públicas, sem dúvida. Mesmo outras drogas como MDMA e metanfetamina, sabemos que podem haver uso terapêutico. Estamos para iniciar uma pesquisa [sobre isso]. Nos EUA, já tem sido usado em veteranos de guerra com traumas e com sucesso. Devemos parar com esse maniqueísmo de achar que existem drogas do bem na farmácia e do mal com traficantes. É uma divisão da cabeça das pessoas. Toda droga pode ser destrutiva ou valiosa, seja como remédio ou fonte de prazer. O alcoolismo, por exemplo: 15% da população sofre com isso. O nível é alto, mas a maioria dos que bebem têm um uso controlado, sem maiores riscos. São necessárias medidas como beber e não dirigir, mas proibir o álcool porque 15% da população se fodeu? É ridículo. No caso da maconha, o índice de usuários com problema é de 9%, no ecstasy é 5%. No LSD, ácido e cogumelo é menos de 1% que têm problema. O crack é uns 30%, menos que o tabaco. Nem a legislação sobre drogas, nem a opinião pública, nem os órgãos governamentais, nem as políticas públicas têm a ver com o que a gente sabe sobre as drogas. Quem mais sabe sobre drogas é quem? Usuário. É com eles que se deve aprender. O resto são conceitos de gabinete de quem não conhece a realidade do problema.

PV — Pensando nas substâncias ilegais, o problema maior parte da proibição ou das próprias substâncias?

DX — É misturado. Os pacientes que vêm me procurar e são dependentes de substâncias lícitas têm uma série de problemas. O álcool, por exemplo, tem a dificuldade de não beber, perder horários, superar a ressaca, se arrepender de algum ato e os danos corporais. Se a dependência é de uma droga ilícita, esse usuário tem todas as dificuldades dos dependentes de drogas lícitas e mais as dificuldades de estar com uma substância proibida. Vai ser subornado pela polícia, tem que frequentar ambientes às vezes perigosos. Essas questões às vezes são mais graves do que a dependência. A maconha, por exemplo, é a substância das menos danosas ao organismo, o fato de ser ilícita que traz danos enormes. Tem estudo que mostra que 59% dos presos dos Estados Unidos era por algo relacionado à droga. Num primeiro momento, passa a ideia que eles estão indo bem no controle do tráfico, mas, analisando dentro desses 59%, um total de 89% (quase 9 em 10) são usuários de maconha, com 20 e poucos anos, sem antecedente criminal ou ligação com o tráfico. Estão lá porque o produto que usam é ilícito. Descobriram que essas pessoas são as principais vítimas dos estupros nas prisões e acabam contraindo doenças sexualmente transmissíveis. O maior risco que um usuário de maconha sofre é o de ser preso e contrair uma doença. Não é pela maconha, é pelo proibicionismo. A lógica é invertida.

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PV — A questão de penas mais duras não ajuda?

DX — Mais de 90% dos que são internados de forma compulsória recaem após o primeiro mês de internação. É um método efetivo para dar lucro para o dono de clínica. Em geral, quem defende essa política é dono de clínica, o que é uma questão ética complicada. Se o endurecimento penal resolvesse o problema, isso poderia ser justificado pelo argumento que a ingerência na vida do indivíduo trouxe um bom resultado. Mas não tem bom resultado, eles são péssimos.

PV — A abstinência muda muito de uma substância para a outra?

DX — A abstinência é diferente. Um indivíduo ficar violento e assaltar as pessoas, no caso do crack, é um mito. Os comportamentos violentos associados à abstinência ou ao uso de drogas é sobretudo relacionado ao álcool, que é uma droga legalizada. A associação entre álcool e violência é bem estabelecida, a associação de crack e cocaína com violência não é de causa e efeito, é que quem está em situação de rua, quem é excluído socialmente, quem está na miséria acaba associado a isso. Um ato de roubo acontece por uma questão social, não por causa do crack. Tenho muito paciente de classe média que usa crack e nunca roubou na vida. Qualquer abstinência é muito difícil e penosa. O crack não tem, por exemplo, a síndrome de abstinência física, como é o caso do álcool, de calmantes e de heroína.

PV — Na ideia de legalização, o que enxerga como algo interessante para o Brasil?

DX — O modelo português e espanhol têm uma proposta com uma cara de saúde pública. Para mim é muito simpático, mas o modelo deles não é de legalização e sim de descriminalização. A abordagem é de saúde pública e tira da esfera ilegal, de uma esfera policial, o que é fantástico. O mais avançado, que é mais complexo, é essa ideia de legalização. Sou a favor da regulação estatal, ainda que apareçam outros problemas. Eles surgiram em alguns estados estadunidenses, como o aparecimento de um comércio predatório em cima da maconha. Os EUA são um país capitalista por excelência, a legalização também virou dinheiro, às vezes sem o cuidado com o usuário, o que é um absurdo. Montar uma mega indústria para comercializar maconha de qualidade tudo bem, mas não pode esquecer de fazer prevenção. O modelo do Uruguai previne esse capitalismo selvagem.

PV — Se duvida da viabilidade do modelo de plantar a maconha. Ele é viável?

DX — Poder plantar a maconha para uso pessoal é o que se faz rotineiramente na Europa. Ainda é possível produzir uma maconha de excelente qualidade em casa. Acredito que uma solução é o auto plantio. Não acho interessante deixar esse tipo de substância no controle do mercado capitalista livre, como é feito nos EUA e como era o caso do tabaco no Brasil. O álcool ainda é assim. Se alguém quer fumar tem que poder ir lá e comprar seu cigarro. O errado é esse bombardeio de mídia.

PV — Os publicitários costumam se defender falando que as pessoas têm o livre arbítrio para escolher o que vai fazer. O quanto essa publicidade afeta?

DX — As pessoas têm o livre arbítrio, mas são manipuladas e os publicitários sabem muito bem disso. O marketing consegue fazer uma pessoa se interessar por algo que não interessa. O que a indústria do álcool faz não é inócuo. Eu discordo e acho criminoso. Como é uma droga lícita, o pessoal da Ambev não está nas prisões, quem é traficante — pelo menos os pequenos — de cocaína e maconha está.

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Agradecimentos: Renato Filev e Vinícius Mendes.

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